Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

PF envia agentes para fiscalizar os últimos dias de campanha no RN

Estado é o quarto no ranking de fraudes eleitorais

O crescimento assustador dos crimes eleitorais obrigou a Polícia Federal (PF) a enviar um grande efetivo para o Rio Grande do Norte. Cerca de 100 agentes do Distrito Federal (DF) e de outros estados vão fiscalizar várias cidades potiguares, consideradas áreas com histórico de compra de votos. Além de homens, a PF poderá deslocar um helicóptero de Brasília para Natal a fim de ajudar no deslocamento rápido dos policiais. Ontem, alguns estados começaram a proibir saques superiores a R$ 10 mil para evitar o uso indevido do dinheiro durante a eleição do próximo domingo.

Segundo a PF, em número de crimes eleitorais, o Rio Grande do Norte ocupa hoje a quarta colocação entre todos os estados brasileiros e o DF, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais. De acordo com o superintendente da corporação em Natal, Marcelo Morese, além do aumento do efetivo, que foi pedido pelo procurador regional eleitoral Ronaldo Pinheiro, a própria PF viu a necessidade de requisitar mais policiais. ;Não está descartada a hipótese de emprego de um helicóptero para dar maior mobilidade de atuação;, afirmou Morese.

As atenções da PF têm sido centralizadas principalmente no Nordeste e no Norte do país. Segundo o superintendente da corporação no Rio Grande do Norte, se for necessário, será requisitado um novo contingente de policiais. ;Também é possível que ocorra o retorno do jato da Polícia Federal ; que está se deslocando de Brasília ; para a capital ou para o interior com mais reforço. Tudo vai depender do desenrolar da operação que ora se inicia;, explicou o chefe da instituição no estado.

No Norte, ontem, a PF fez nova apreensão de dinheiro. O vereador Siríaco Silva Gomes foi detido com R$ 88 mil quando esperava um barco para Amaturá, a 910 quilômetros da capital amazonense, onde preside a Câmara Municipal. Aos agentes ele afirmou que os recursos seriam usados na folha de pagamento da instituição que dirige. ;Foi uma denúncia anônima e, como estamos às vésperas de uma eleição, é necessária uma investigação sobre o destino desse dinheiro, ainda mais com notas de menor valor;, disse o delegado Roberto Câmara. Segundo a PF, os salários dos servidores do Legislativo de Amaturá não chegam a R$ 30 mil. Além do dinheiro, foram encontrados carteiras de identidade, uma relação com nomes de pessoas e valores relacionados, e material de campanha.

Desde a semana passada, a PF vem realizando operações para combater os crimes eleitorais, principalmente a compra de votos. Além disso, a corporação quer rastrear o uso de recursos de campanha pelos candidatos em regiões onde foram registradas grandes movimentações. Assim, pode ser possível constatar se há crimes de lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério da Justiça, esse tipo de delito pode ser notado nos pagamentos de material de campanha, em aluguéis de veículos, entre outros meios de burlar o uso de dinheiro sem origem declarada. Em todos os estados, agentes trabalham de forma ostensiva e disfarçados para poder chegar aos criminosos.

Quícoli: ;Eu não sabia;

O empresário Rubnei Quícoli ; autor das denúncias sobre tráfico de influência na Casa Civil ; afirmou ontem, em depoimento na Polícia Federal (PF), que não sabia que todas as negociações para a liberação de um projeto eram feitas com os filhos de Erenice Guerra, então titular da pasta. O empresário também afirmou que recebera uma proposta para pagar propina pela liberação de um empreendimento de R$ 9 bilhões parado no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ontem, além dele, dois executivos de empresas que atuam com os Correios foram ouvidos na PF, em São Paulo.

;Eu fiquei surpreso sobre o papel que eles tiveram. Isso veio à tona pela mídia e não por mim. Eu não sabia quem era Israel, quem era Saulo. Isso é novidade para mim;, afirmou Quícoli, ressaltando que só esteve em Brasília para tentar viabilizar o seu projeto. ;Também não se sei se a ministra sabia;, acrescentou o empresário, referindo-se ao esquema de cobrança de propina. O depoimento foi realizado por meio de carta precatória, já que o delegado que cuida do caso é da Superintendência da PF no Distrito Federal, onde deveria ser ouvido o ex-diretor dos Correios Marco Antônio Oliveira, que apresentou atestado médico e não depôs.

Hoje, no início da tarde, a PF espera ouvir Vinícius Castro e sua mãe, Sônia. Ele é suspeito de ter recebido dinheiro quando era assessor da Casa Civil. Ela era sócia de Saulo Guerra, um dos filhos de Erenice. Saulo atuava na Capital Consultoria, que gerenciava várias negociações em Brasília. Ele e seu irmão Israel ainda não foram encontrados pela PF, que pretende ouvi-los até o fim desta semana.

Collor em perigo

O Ministério Público Eleitoral em Alagoas entrou, ontem, com um pedido de cassação da candidatura de Fernando Collor (PTB) ao governo do estado. O ex-presidente é acusado de abuso de poder econômico e de uso indevido de meios de comunicação na realização e na divulgação de pesquisa fraudulenta. Uma sondagem feita pelo instituto Gazeta Pesquisa (Gape) e publicada no jornal Gazeta, ambos pertencentes à família do senador, o coloca na frente dos adversários com 38% das intenções de voto ; 15% a mais que o segundo colocado, Ronaldo Lessa (PDT). Em pesquisa feita pelo Ibope, Collor aparece com 28% e Ronaldo Lessa, 29%.

Os números do Gape também são diferentes dos do Ibope com relação à candidatura à reeleição do governador Teotonio Vilela (PSDB). De acordo com o levantamento, o tucano teria 16% dos votos. No Ibope, ele aparece com 24%. A investigação foi iniciada por conta de uma ação movida pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). O MP examinou os 1.055 formulários preenchidos pelo Gape e ;constatou a existência de fraude;. Além da cassação, a ação pede a inelegibilidade de Collor por oito anos. Os advogados de defesa do candidato preferiram não comentar o caso.