Antes mesmo de ser oficialmente convidada para prestar esclarecimentos no Senado sobre suposto esquema de tráfico de influência na Casa Civil, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou não irá depor. Ontem, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) informou que vai encaminhar requerimento em que convidará Dilma a prestar depoimento na Comissão de Constituição e Justiça.
Em entrevista coletiva antes de uma carreata na manhã de ontem, em Ceilândia, a candidata disse que jamais aceitaria qualquer convite do senador tucano. ;Isso não é um convite. É uma tentativa do senador Alvaro Dias de criar um factoide. Ele sistematicamente tenta tumultuar estas eleições. Eu já fui acusada de tudo, mas convite do senador Alvaro Dias eu não aceito nem para um cafezinho;, frisou Dilma.
A presidenciável do PT também voltou a negar que tenha envolvimento com as denúncias que resultaram na demissão da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. Dilma citou ainda que a Casa Civil, pasta da qual foi ministra até o fim de março, não tem qualquer relação com as licitações do Ministério da Saúde.
Reportagem publicada neste fim de semana pela revista Veja diz que funcionários da Casa Civil, entre eles Vinícius Castro, apontado como sócio do filho de Erenice, teriam recebido propina de R$ 200 mil para facilitar compras do medicamento Tamiflu, usado no tratamento da gripe suína. ;Os processos da Saúde nada têm a ver com a Casa Civil. Estranha essa reportagem. A negociação foi feita diretamente entre a Saúde e o laboratório. O preço foi reduzido em 76%. E a Casa Civil não tem nenhuma vinculação com os processos licitatórios da Saúde;, declarou.
Questionada se teve a sensação de ter sido traída por Vinícius Castro, Dilma respondeu, irritada, que nem o conhecia. ;Eu não nomeei esse senhor, não o conhecia, não tenho por que me sentir traída, porque ele não era da minha confiança. Ele era da confiança dela (Erenice) e não da minha.; Quando a mesma pergunta foi feita em relação a Erenice, Dilma se esquivou. Disse que não fará julgamentos antes de os fatos serem apurados.
Carreata
Com uma hora e meia de atraso, Dilma iniciou a carreata em Ceilândia, ao lado dos candidatos a governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) e a vice Tadeu Filippelli (PMDB), além dos postulantes ao Senado Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB). A previsão era de percorrer seis quilômetros pelas ruas de Ceilândia, mas o trajeto de Dilma foi interrompido em meia hora, com menos de três quilômetros, depois que o jipe onde ela estava apresentou problemas mecânicos. O motorista disse que o carro afogou. Seguranças do PT afirmaram que o motor do jipe fundiu.
Para contornar o constrangimento, a candidata fez um discurso de improviso de dentro do jipe, em uma área residencial de Ceilândia. ;Quero dizer para vocês que o presidente Lula envia para Ceilândia seu mais forte abraço. Ele disse pra mim: `Dilma, você vai lá em Ceilândia? Pois saiba, Dilma, que em Ceilândia é que está o meu povo. O povo que é igual a mim, o povo que veio, como eu, do Nordeste;, discursou.
Depois do breve discurso, Dilma deixou a carreata. Um dos assessores da candidata afirmou que ela estava sentindo dores no pé direito, que está imobilizado. No começo da semana passada, ela torceu o tornozelo pé durante uma caminhada na esteira.