Projeções indicam que a bancada de mulheres na Câmara vai aumentar das atuais 45 parlamentares para 54 no próximo ano, mas a perspectiva de ampliação do número de mulheres eleitas para o Legislativo Federal não é distribuída de forma homogênea em todos os estados. Minas Gerais e Santa Catarina, por exemplo, correm o risco de ficar sem representação feminina em 2011. Apesar de a disputa presidencial deste ano contar com duas candidatas entre os três favoritos, as mulheres ainda encontram dificuldades em captar recursos para as campanhas e se destacar entre os colegas de partido.
Em muitos estados, quando as mulheres alcançam potencial de votos, trocam o Legislativo pelo Executivo e, quase sempre, a vaga é herdada por um homem. Nas bancadas estaduais, o Amapá é o único estado em que mulheres e homens dividem proporcionalmente as cadeiras na Câmara: são quatro deputados e quatro deputadas.
A coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Janete Pietá (PT-SP), afirma que a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência criou ;uma onda; no eleitorado feminino, mas reclama que as mulheres ainda têm dificuldades para financiar as campanhas, pois os recursos eleitorais ainda são dominados pelos homens. ;É uma Casa eminentemente masculina, enquanto na sociedade é o contrário. Em São Paulo, somos quatro mulheres em uma bancada de 70;, pontua Janete.
O fenômeno Dilma pode causar mudanças na fisionomia da Casa no próximo ano, pois muitas eleitas por voto proporcional se lançaram a cargos majoritários, como é o caso das deputadas Lídice da Mata (PSB-BA) e Angela Amin (PP-SC), e da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Angela e Ideli decidiram disputar o governo de Santa Catarina e podem deixar o estado sem representantes na bancada feminina do Congresso, pois eram as únicas duas mulheres eleitas. Lídice afirma que, no estado, não há perspectiva de aumentar a bancada feminina, mas comemora as chances de ser a primeira senadora eleita pela Bahia. ;Uma liderança feminina demora a ser feita. A mulher é menos estimulada a entrar na disputa política e tem menos recursos financeiros;, analisa.
Apesar de o número de candidatas para a Câmara ter aumentado ; de 628 postulantes em 2006 para 1.345 neste ano ; , dirigentes partidários reconhecem que nem todas têm potencial para se eleger. E a vida não é fácil até para as mais conhecidas, como a candidata à reeleição Jô Morais, do PCdoB de Minas Gerais. ;Esta é a campanha mais difícil que já vivenciei;, reclama Jô.
Reserva de vagas
A candidata é cotada para garantir uma cadeira na Câmara por Minas Gerais. Caso não tenha bom desempenho, o estado não terá representante feminina na Casa a partir de janeiro. Em 2006, foram eleitas três deputadas federais por Minas Gerais. Maria do Carmo Lara (PT) renunciou depois de se eleger prefeita de Betim, em 2008, e Maria Lúcia Cardoso (PMDB) decidiu disputar vaga na Assembleia.
O presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes, admite a dificuldade e aponta soluções. ;Talvez pudesse ser criada reserva de vagas. Não como saída definitiva, mas por um período temporário para facilitar a participação da mulher no processo político;, afirma Lopes.