No mesmo dia em que a presidenciável petista, Dilma Rousseff, tornou-se avó e decidiu dar um tempo na campanha devido ao nascimento do primeiro neto, Gabriel, filho de Paula Rousseff, veio à tona uma nova carta de bispos pregando a rejeição do voto na ex-ministra. O documento, assinado por 47 dioceses de São Paulo, ganhou o endosso do arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa.
A carta, intitulada ;Apelo a todos os brasileiros e brasileiras;, critica a posição do PT, de Dilma e do governo federal em relação à prática do aborto. O documento lembra diversos momentos dos três em prol do direito de escolha da mulher: ;Com todas essas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do imperialismo demográfico imposto sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher;. E recomenda aos fiéis: ;Nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto;.
A carta é um baque à estratégia de Dilma de aproximação com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) depois que o bispo de Guarulhos (SP), Luiz Gonzaga Bergonzini, divulgou mensagem pregando a rejeição da candidatura petista por ser supostamente pró-aborto.
Desde então, a ex-ministra tem usado entrevistas e debates para reforçar sua ligação com o catolicismo e a posição contrária à interrupção da gravidez, dizendo que ;nenhuma mulher é favorável ao aborto;. A campanha divulgou até um compromisso com as igrejas cristãs, intitulado ;Carta aberta ao povo de Deus; e a cartilha ;13 motivos para o cristão votar em Dilma Rousseff;. A frase em destaque coloca Dilma como a candidata que ;tem feito a opção de governar olhando pelos pobres e pelos menos favorecidos, a mesma do evangelho do Senhor Jesus Cristo;.
A aproximação com a CNBB teve o dedo de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da carta, Dilma fez uma visita ao presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, e confirmou presença no debate entre os candidatos promovido pela instituição, marcado para 23 de setembro.
Na reunião com dom Geraldo, Dilma Rousseff disse que encamparia a proposta do religioso de aumentar o acesso à água na região do semiárido nordestino. Apesar do gesto da candidata petista, o presidente da CNBB disse, à época, que os bispos são livres para manifestar qualquer posição, referindo-se ao chefe da diocese do município de Guarulhos.
Família
Com o nascimento de Gabriel, Dilma só vai retomar a campanha a partir de domingo, quando participará de debate na Rede TV. Para o PT, nada mais natural do que a avó se dedicar à família. Mas, nos bastidores, há quem se refira à chegada de Gabriel como um motivo nobre para que a candidata fique distante do escândalo da quebra de sigilo fiscal de parentes do presidenciável tucano, José Serra, e de personalidades ligadas ao PSDB. De mais a mais, avaliam os petistas, Dilma está tão bem nas pesquisas que dois dias a mais ou a menos de campanha não farão grande diferença.