O calor intenso e a baixa umidade do ar na capital federal refletiram diretamente no camarote presidencial durante o desfile em comemoração ao Dia da Independência. O último Sete de Setembro de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República acabou desidratado. Dos 37 ministros, somente 18 compareceram ao evento na Esplanada. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB), também não compareceu. Lula assistiu a um desfile pouco empolgado, encurtado por causa da forte seca que castiga Brasília. Ao lado dele, a primeira-dama, Marisa Letícia; o ministro da Defesa, Nelson Jobim; o governador do Distrito Federal, Rogério Rosso; e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), vice na chapa de Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial.
Nem mesmo a imponente banda presidencial, que inovou este ano ao tocar um repertório pouco convencional que incluía músicas da norte-americana Lady Gaga, da colombiana Shakira e do brasileiro Luan Santana, conseguiu levantar o ânimo do camarote onde Lula estava. O vice-presidente José Alencar estava em Brasília, mas não foi à Esplanada dos Ministérios. Ele se sentiu mal e preferiu permanecer na residência oficial.
Por volta das 9h, Lula chegou ao camarote, acompanhado da primeira-dama, desfilando no tradicional Rolls Royce Silver Wraith. O casal foi recebido ao som do Tema da vitória, música eternizada por ser tocada toda vez que o piloto Ayrton Senna, morto em 1994, vencia uma prova da Fórmula 1. Em seguida, após a execução do Hino Nacional, o presidente autorizou o início do desfile que custou, de acordo com informações da Presidência da República, um terço dos R$ 3 milhões previstos no edital de licitação.
Lula também economizou na emoção. Com semblante pouco expressivo ao longo do compromisso, deu declaração pública somente para o site oficial do governo federal. ;O último Sete de Setembro com a faixa presidencial é uma coisa marcante. Eu só queria agradecer a Deus por ser presidente da República do Brasil durante oito anos;, disse. O petista só esboçou uma reação mais animada com a passagem de apresentações de dança que representaram traços culturais dos estados. Durante a performance que registrava a cultura musical do Nordeste, Lula ganhou uma sombrinha de frevo e a entregou de presente à primeira dama.
A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, negou que o presidente e a equipe ministerial estivessem desanimados por conta dos últimos acontecimentos envolvendo as quebras dos sigilos fiscais de pessoas próximas ao tucano José Serra. Erenice disse ainda que os participantes da festa não receberam qualquer tipo de aviso para que tomassem cuidado com o clima eleitoral no evento.
Caças
Ao final do desfile, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, revelou que a decisão sobre a compra de caças supersônicos pelo governo brasileiro só será anunciada após as eleições, em outubro próximo. O anúncio se arrasta desde o Dia da Independência do ano passado, quando Lula recebeu o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e garantiu que o país iria adquirir os aviões Rafale, da fábrica francesa Dassault. A sueca Saab, fabricante do Gripen, e a norte-americana Boeing, que fabrica o F-18, também entraram na disputa para vender as aeronaves para o Brasil.
;Depois das eleições, será uma questão de semanas para que o presidente Lula analise o assunto. Antes não sai nada. Ele já avisou que pretende anunciar a decisão ainda este ano;, destacou Jobim.
O último Sete de Setembro com a faixa presidencial é uma coisa marcante. Eu só queria agradecer a Deus por ser presidente da República do Brasil durante oito anos;
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
O último Sete de Setembro com a faixa presidencial é uma coisa marcante. Eu só queria agradecer a Deus por ser presidente da República do Brasil durante oito anos;
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
O número
30 de setembro
Último dia para a realização de comícios e utilização da propaganda sonora nas ruas
30 de setembro
Último dia para a realização de comícios e utilização da propaganda sonora nas ruas
Memória
2005
2007
2003
No primeiro Sete de Setembro de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, os convidados do camarote presidencial foram colocados em lugares estratégicos para evitar constrangimento entre membros do governo federal e integrantes da oposição, como Joaquim Roriz, então peemedebista e governador do Distrito Federal.
2004
O segundo ano do governo de Lula trazia bons resultados na economia nacional. Surfando nas boas ondas da gestão petista, o presidente tentou criar uma forte sensação de patriotismo na população e convidou a todos para participarem da festa realizada na capital federal e assinada pelo publicitário Duda Mendonça. O custo estimado do evento ficou em R$ 1 milhão.
2005
O Dia da Independência do terceiro ano do governo Lula foi comemorado de maneira burocrática. Em pleno escândalo do mensalão, os políticos não atenderam ao convite do presidente Lula e pouquíssimos parlamentares compareceram à Esplanada dos Ministérios. O petista foi vaiado e passou quase todo o desfile cabisbaixo, trocando algumas palavras com o presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, convidado para a celebração.
2006
Um ano após o fiasco do Sete de Setembro, o presidente Lula voltou a ser aplaudido na Esplanada dos Ministérios. Apesar do carinho do público, o governo preferiu realizar uma festa discreta, fazendo questão, inclusive, de gastar o mesmo valor do ano anterior. Por se tratar de ano eleitoral, Lula não queria ser acusado de autopromoção por oposicionistas.
2007
Fazia pouco tempo que o presidente Lula tinha levado uma vaia monumental na abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Por isso, no desfile do Sete de Setembro, a equipe da Presidência da República deixou apenas convidados nas arquibancadas próximas ao camarote presidencial. Renan Calheiros (PMDB), então presidente do Senado e que estava sendo acusado de ter pagas contas pessoais com dinheiro de lobistas, preferiu não comparecer à Esplanada dos Ministérios.
2008
Cerca de 35 mil pessoas estiveram no desfile em comemoração ao Dia da Independência, há dois anos, na Esplanada dos Ministérios. O presidente Lula teve uma convidada especial no camarote presidencial. Cristina Kirchner, presidente da Argentina, estava na capital federal para, entre outros assuntos, discutir um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empresas brasileiras comprarem equipamentos argentinos.
2009
Ano passado, Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil na época, já era a escolhida de Lula para a sucessão presidencial e, por isso, teve lugar de destaque no camarote presidencial. Além disso, por causa do Ano da França no Brasil, Lula recebeu o presidente Francês, Nicolas Sarkozy, e, na ocasião, acertaram a venda de 36 aviões Rafale para a Força Aérea Brasileira (FAB).