Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Desafeto político é o principal suspeito do assassinato do prefeito

Uma disputa política iniciada em 2008, em Alto Paraíso (GO), terminou em tragédia na noite de quinta-feira. O prefeito do município, Divaldo William Rinco (PSDB), foi assassinado com três tiros pelas costas, em frente a um bar, depois de sair de uma reunião com correligionários. O principal suspeito do crime que abalou a pequena cidade de sete mil habitantes é o marceneiro Ary da Abadia Garcês, 55 anos, pai do vereador Hueberton Garcês (DEM), que na eleição passada apoiou a reeleição do ex-prefeito Uiter Gomes de Araújo (PP). A diferença entre Divaldo e Uiter nas urnas ; 114 votos ; gerou o impasse, que perdurou até o ano passado. A polícia ainda não sabe a motivação do crime e, até a noite de ontem, o suspeito não havia sido localizado.

Na quinta-feira, Divaldo conversava sobre política com o vice-prefeito, Alan Gonçalves Barbosa, o gerente de esporte do município, conhecido como Serginho, e com o major da reserva da Polícia Militar, José da Cruz Batista. Além dos homens, duas mulheres, Rosivan Falcão, a Maninha, e a diarista Leivani Barbosa estavam sentadas à mesa do bar. ;A gente falava sobre os candidatos. Ele me dizia para votar no Perillo (o candidato do PSDB ao governo, Marconi Perillo). Em dado momento, vi o Ary entrar no bar e pedir uma cerveja no balcão. Logo depois ele saiu e ficou do lado de fora;, contou Batista. O encontro político durou cerca de 45 minutos e terminou às 21h, quando Divaldo e Alan deixaram o bar.

Do lado de fora, o suspeito do assassinato chamou o adversário político para uma conversa. O vice-prefeito se despediu e deixou os dois a sós. ;Ele deu a entender a Ary que queria ter uma conversa particular. Apesar das divergências, nunca pensei que algo grave poderia acontecer;, conta Alan. Após o vice deixar o local, o prefeito recebeu três tiros nas costas a uma distância de aproximadamente três metros. As balas atingiram a cabeça, numa região próxima à orelha, os pulmões e o coração, além da nuca. Ferido, ele foi levado ao hospital local, mas não resistiu aos ferimentos. Ainda à noite, seu corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Formosa (GO).

Familiares e amigos garantem que o prefeito nunca tinha sofrido qualquer ameaça ou intimidação por parte do marceneiro. ;Eles cresceram juntos. A mãe de Divaldo ensinou ele (Ary) a ler. Está todo mundo chocado. Ele não era só o prefeito, mas um amigo de todos;, relata o morador Aldo Galli, 72 anos. O suspeito, no entanto, já havia mostrado sinais de descontrole em 23 de maio, durante a Festa do Divino. Na ocasião, ele teria apontado uma arma para o secretário de Saúde, que não havia permitido a entrada de um trio elétrico no local. ;Eu falei que a festa tinha caráter religioso. Foi então que ele apontou um revólver para mim e disse que só não me mataria em consideração à minha mulher e aos meus filhos;, relata o secretário de Saúde, Adervânio Pires.

;O incidente tem as mesmas características do que ocorreu na quinta-feira;, diz o procurador da prefeitura, Ismael Neiva, que acompanhou o corpo até o IML de Formosa (GO). Até o fechamento desta edição, Ary não tinha sido encontrado. A polícia ; que conta com ajuda de agentes de Formosa na investigação ; encontrou 22 munições calibre .22 no caminhão de Ary. O corpo do prefeito foi velado no Ginásio de Esportes Ulisses S. da Silva, em Alto Paraíso. A emoção marcou a cerimônia iniciada às 18h30, com a presença de duas mil pessoas.

Diferença
As desavenças em Alto Paraíso tiveram início há dois anos. ;Os adversários nunca aceitaram a derrota. Tentaram de todas as formas cassar o mandato de Divaldo, mas não conseguiram e tiraram com as próprias mãos;, disse Adervânio. Para a chapa derrotada, o processo eleitoral 2008 deveria ser anulado porque Divaldo teria comprado votos para se eleger. ;Argumento que não foi aceito pela Justiça;, afirmou o vice-prefeito.

As diferenças entre Ary e Divaldo se acentuaram com o início da campanha deste ano. Os dois mais uma vez ficaram de lados opostos. Enquanto Ary e o filho apoiam para o governo de Goiás a candidatura de Vanderlan Cardoso (PR), que tem como vice o ex-secretário de segurança Ernesto Roller, Divaldo comandava no nordeste goiano a campanha do candidato a governador do estado Marconi Perillo, do PSDB.

Como foi: