Com o conhecido apetite do PMDB por espaço e cargos surgindo em plena campanha eleitoral, o PT prepara uma vacina e um contra-ataque. A gestação da futura Presidência da República, desenhada para ser mais forte do que a administrada por Luiz Inácio Lula da Silva, passa agora sobre como será a articulação política do governo. Se Dilma for eleita, está decidido que o cargo ficará com o PT e o responsável pela tarefa será um nome experiente, um negociador com capacidade de tratar com todos os partidos. Perfil que só se iguala no atual governo, quando José Dirceu executava essa função na Casa Civil no começo do primeiro mandato.
A opção por um nome forte é um contraponto ao deputado Michel Temer (PMDB-SP), que, caso eleito vice-presidente, terá também um papel de articulador político. O PT não quer que seu principal aliado tome conta dessa aérea. Por isso integrantes da legenda dizem que o ex-ministro Antonio Palocci se encaixaria como uma luva nesse papel de negociar os interesses dos congressistas, prefeitos e governadores. Palocci aparece nas conversas como um exemplo do perfil ideal para equilibrar o papel de Temer.
O Correio mostrou há duas semanas que Dilma planeja ter assessores especiais de Assuntos Econômicos e para Segurança Pública que se reportam ao Planalto. A Casa Civil de um eventual governo Dilma deverá ter um perfil técnico para tocar os principais projetos e dificilmente voltará a ficar com a responsabilidade de fazer as conversas políticas. Nesse cenário, sai fortalecida a Secretaria de Relações Institucionais, que, para abrigar um político de peso, pode ter novas atribuições.
Existe uma investida contra Palocci de fora para dentro da campanha de Dilma. Uma das fontes é o ex-ministro José Dirceu, o primeiro a ventilar que seu antigo colega de governo não teria o perfil adequado para a Casa Civil. Além disso, existem petistas que não o querem numa função econômica novamente e o empurram para uma tarefa política. Um dos nomes para um cargo da equipe econômica, como o Ministério do Planejamento, é Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
O secretário de Comunicação do PT, André Vargas, nega que a campanha esteja pensando em abrir discussão de cargos. Ele admite, no entanto, que o PT terá papel na articulação política. ;O PMDB vai ter um papel, mas nós temos o direito de ter papel também;, afirmou. O deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) considera natural que Temer assuma a função de articulador, levando-se em conta a experiência que o deputado paulista tem ao administrar a Câmara e o maior partido do país. ;Ele vai ter que fazer isso enquanto ela toca o governo;, afirmou o parlamentar.
Agenda
Ontem, ao participar de carreata em Rondonópolis (MT), Dilma passou mal com o forte calor e interrompeu o percurso depois de meia hora. Dilma seguiu para Cuiabá, onde criticou a postura de seu adversário José Serra (PSDB) por tentar, como na eleição de 2002, imputar no PT a campanha do medo. A Câmara Municipal de São Paulo aprovou na terça-feira um projeto que concede o título de cidadã honorária à candidata do PT à Presidência da República. Apenas os vereadores do PSDB votaram contra a concessão da honraria.