A 43 dias das eleições, as Casas de Marina, comitês domiciliares lançados pela candidata à Presidência da República Marina Silva (PV), estão passando por um ;apagão;. Sem material oficial de campanha, a ideia, reformulada pela cúpula do partido, está longe de atingir o objetivo de disseminar as propostas verdes. As unidades residenciais, segundo a candidata, iriam mostrar um novo jeito de fazer política, com ;núcleos vivos da sociedade;. As casas, tema de um futuro programa eleitoral, compensariam as dificuldades financeiras da campanha e a falta de capilaridade do partido nos estados. Até agora, já foram registradas 701 unidades em todo o país.
;Estou doido para trabalhar. Só que não recebi nada. Entrei de corpo e alma na candidatura da Marina e desse jeito não tenho nem como divulgar as ideias;, reclama o mecânico José Jerônimo Sobrinho, filiado ao PV e dono de uma casa que a própria Marina inaugurou no início de julho em Uberlândia (MG).
No Gama, a família de Luzia Macedo também espera panfletos, adesivos e informações sobre como ajudar na campanha. ;Os meus netos falaram que o material ia chegar pelos Correios, mas até agora nada;, conta a aposentada, que ainda não decidiu em quem vai votar. Na casa dela não há sinal da candidatura verde. Apenas um banner do candidato a deputado distrital Agaciel Maia, ex-diretor do Senado e pivô do escândalo dos atos secretos.
O Movimento Minha Marina define a casa como um local para a interação com a comunidade. Na Zona Sul do Rio, as residências não têm identificação e os vizinhos desconhecem o trabalho dos militantes. ;Um morador daqui apoiando a Marina? Tem certeza? Não conheço;, diz uma senhora, moradora no mesmo edifício em que está cadastrada uma Casa de Marina na Rua Santa Clara, em Copacabana. A dois quarteirões de lá, outro comitê desconhecido. ;Não tem ninguém. Acho que a dona Cláudia faz campanha para o Fernando Gabeira;, diz o porteiro, referindo-se ao candidato do PV ao governo do Rio. Em Ipanema e Botafogo, a situação era a mesma.
;Faça você mesmo;
O coordenador da campanha verde, João Paulo Capobianco, nega o ;apagão;. Segundo ele, o conceito das Casas de Marina é o ;faça você mesmo;. É pedido que os donos das casas distribuam material de campanha, convidem pessoas para conversar e realizem encontros de debates com pessoas da vizinhaça. Também se sugere que seja dado um nome para a casa e que a unidade seja abastecida com informações sobre a candidata.
Capobianco, entretanto, garante que o material oficial está sendo enviado pelo Diretório Nacional às unidades registradas. De acordo com informações prestadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a candidatura verde já gastou R$ 3,47 milhões. Desse valor, pouco mais de R$ 1 milhão é destinado à publicidade de materiais impressos. Ainda não constam despesas postais.
O número
701
Casas de Marina registradas em todo o país
De olho na imagem de Lula
>> Luiz Ribeiro
Enviado especial
Rio de Janeiro ; A candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva, poderá usar imagens do presidente Lula em seu programa, como já fez José Serra (PSDB) na campanha, o que causou mal-estar entre tucanos e protestos de petistas. Marina não chegou a declarar ontem que recorrerá à imagem do presidente, mas justificou a possibilidade de usar fotos com Lula devido à ;ligação histórica; entre eles. Dessa forma, segundo ela, sua atitude não poderia ser interpretada como oportunista.
Marina fez campanha no Rio ontem. Pela manhã, participou do 8; Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), no Windsor Barra Hotel. ;A minha história, durante 30 anos, esteve junto à história do presidente Lula;, disse a senadora licenciada, lembrando que por cinco anos foi ministra do Meio Ambiente. ;A história não pode ser reescrita;, disse, deixando a entender que deverá usar fotos e vídeos dela ao lado de Lula.
A presidenciável também esteve ontem em Vigário Geral, Zona Norte do Rio, onde afirmou que é necessária uma ampla reforma na segurança pública. Ela anunciou que pretende expandir para todo o país um projeto lançado no Rio Grande do Sul chamado Justiça Restaurativa. A iniciativa busca recuperar jovens usuários de drogas e em outras situações de risco. A candidata ainda visitou a sede do Grupo Cultural AfroReggae, onde assistiu a apresentações de música e de dança e chegou a tocar um instrumento de percussão.