Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Fatura de almoço para eleitor pode sair bem cara

Via Twitter, Tarso Genro, candidato do PT ao governo gaúcho, convida internautas para um encontro. Mas, se pagar a conta, o ato corre o risco de ser enquadrado como crime eleitoral


O candidato petista ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, teve de rever ontem uma promoção em que convidaria internautas para um almoço de campanha marcado para a próxima semana. Pela legislação eleitoral, é proibido aos candidatos distribuírem qualquer tipo de brinde ou vantagem a eleitores, sob pena de cassação do registro de candidatura. Mesmo assim, o petista anunciou pelo Twitter que faria uma promoção para os eleitores. ;Na próxima semana, convidarei 200 tuiteiros para um almoço comigo. Aguarde e saiba como participar;, escreveu Tarso, que é ex-ministro da Justiça.

Tão logo a mensagem foi publicada, vários internautas demonstraram interesse em participar do almoço. A ideia inicial era oferecer a refeição na semana que vem e discutir propostas com eleitores. Procurado pela reportagem do Correio, um assessor do candidato petista confirmou a existência da promoção. Informado sobre a questão do crime eleitoral, o assessor admitiu que os planos teriam que ser revistos. ;Não tínhamos nos atentado para esse detalhe;, disse.

O presidente do colégio de presidentes dos tribunais regionais eleitorais, Luiz Carlos Santini, alertou que o caso, em tese, pode se configurar como crime eleitoral, mas que ainda precisa de análise mais detalhada pela Justiça. ;A atitude é passível de punição, porque pode ser uma propaganda irregular, além do quê, ele estaria oferecendo uma vantagem ilegal ao eleitor. Poderia ser enquadrado até como compra de votos;, afirmou. Horas depois de o caso ser abordado pelo Correio, os consultores jurídicos sugeriram uma saída para driblar a proibição eleitoral: os próprios eleitores pagarem para almoçar com Tarso.

Antes do petista, outros candidatos já haviam incorrido no mesmo erro. Na tentativa de alcançar um posto no Senado por São Paulo, o pagodeiro Netinho de Paula (PCdoB) ofereceu convites de shows a eleitores que respondessem a um quiz em seu site. A irregularidade foi cometida em 3 de agosto e o portal do candidato saiu do ar minutos depois de a promoção vir a público. Dias depois, a página voltou a ficar ativa, mas sem o conteúdo polêmico. O tempo foi suficiente para que a coligação de Geraldo Alckmin (PSDB), que tenta eleição para o governo de São Paulo, entrasse na Justiça eleitoral pedindo a cassação do registro de candidatura de Netinho e a aplicação de multa. O prazo para resposta do pagodeiro à acusação termina na semana que vem.

Foto autografada
Outro candidato que pode enfrentar problemas com a Justiça eleitoral por conta de distribuição de brindes e vantagens a eleitores é Lindberg Farias (PT-RJ), que tenta a eleição para o Senado. Pelo site da candidatura, eleitores que mais atuassem em redes sociais e trabalhos de campanha recebiam pontos, que eram revertido em ;prêmios;. ;O líder do ranking (no site do Lindberg) pode ganhar visita, fotos autografadas e muito mais;, anunciava o portal.

O principal ponto de polêmica no caso era se uma foto autografada poderia ser caracterizada como brinde. Segundo a campanha do petista, a confusão se deu por um erro na linguagem do site, já corrigido. Por enquanto, nenhuma coligação que participa das eleições fluminenses decidiu contestar a ação na Justiça.


O QUE DIZ A LEI
A legislação eleitoral proíbe ao candidato oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição. A pena prevista para quem incorrer na irregularidade inclui a cassação do registro da candidatura ou do mandato, caso o julgamento do caso aconteça depois do término da eleição. Ainda de acordo com a Lei n; 9.504,97, a conduta é considerada crime eleitoral mesmo se o político não pedir votos de forma explícita, bastando a comprovação de que houve a intenção de captar votos por meio da prática. As mesmas penas se aplicam a quem pressionar de forma violenta o eleitor para conseguir o seu voto. (II)



A atitude é passível de punição, porque ele (Tarso Genro) estaria oferecendo uma vantagem ilegal ao eleitor. Poderia ser enquadrado até como compra de votos;
Luiz Carlos Santini, presidente do colégio de presidentes dos tribunais regionais eleitorais




Minha Casa, Minha Vida é investigado

Alana Rizzo e Tiago Pariz
O Ministério Público Federal (MPF) está investigando o programa Minha Casa, Minha Vida ; uma das principais bandeiras de campanha da presidenciável petista, Dilma Rousseff ; em Erechim, no Rio Grande do Sul. O procedimento foi aberto depois de denúncia anônima indicando fraude na linha mais básica de financiamento da casa própria, direcionada a famílias com renda de até três salários mínimos. As primeiras diligências foram realizadas esta semana. O MPF aguarda informações da Caixa Econômica Federal, da prefeitura e do Ministério das Cidades. Cerca de 250 famílias foram beneficiadas pelo programa no município de 97 mil habitantes.

Segundo a denúncia, ;laranjas; estariam sendo usados para receber as casas do governo federal. Depois, eles repassariam os imóveis para terceiros ligados a políticos e que não se enquadrariam nos critérios de seleção de beneficiários do programa. Desde que foi lançado, no ano passado, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, o programa gerou muitas dúvidas. Entre elas, quais os critérios para a inscrição no programa ; que prevê renda familiar máxima de R$ 1.395 para se eleger ao recebimento do benefício.

Crítica
Ontem, Dilma criticou a Caixa Econômica Federal por esconder os números de casas já entregues dentro do programa. Criado em março de 2009, a iniciativa tem como meta a construção de 1 milhão de casas até o fim do ano. Até agora, Dilma diz que 590 mil unidades foram contratadas. ;A Caixa não deveria ficar com vergonha. A Caixa precisava explicar melhor, e não esconder os números;, disse.

Segundo a presidenciável, a explicação para o baixo número de casas entregues deve-se aos prazos e à burocracia de aprovação dos projetos. Dilma explicou que se levam 33 meses para entregar uma casa pronta, o que aumenta o atraso. ;É claro que há falhas. Há um esforço para reduzir o tempo de 33 meses. Em outros países, esse tempo é menor. O problema não é construir, mas esse início;, disse. ;É possível fazer mais de 2 milhões de casas no período de 2011 a 2014. Já existem 1 milhão (de projetos) dentro da Caixa;, afirmou, dizendo ser possível alcançar a meta estabelecida para este ano, de 1 milhão de residências. Segundo ela, 590 mil já foram contratadas. ;Podemos chegar a 890 mil, 920 mil ou 1,04 mil casas;, afirmou.