Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

PT chama Roriz de 'ficha suja' na TV

No primeiro dia do horário eleitoral gratuito, programa petista diz que ex-governador é inelegível por ter renunciado para não ser cassado no "caso da bezerra de ouro". Advogados do PSC pedirão direito de resposta

Na estreia da novela da disputa ao governo transmitida pela televisão, os candidatos expuseram na quarta-feira (18/8) no primeiro capítulo os discursos que deverão dar o tom de toda a campanha. Agnelo Queiroz (PT) partiu para cima do principal adversário. Em um texto com fundo preto lido por um narrador aparentemente não identificado com a campanha do petista, Joaquim Roriz (PSC) é apontado como um político ;ficha suja;, que teve o registro da candidatura e dois recursos negados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF). O ex-governador, que apareceu na tela antes do rival, já havia apresentado um antídoto. Garantiu que será candidato e está no páreo para valer. ;Sou candidato. Confio na Justiça do país. A campanha está nas ruas. O clima é de grande entusiasmo;, disse Roriz.

O bordão do ex-governador foi usado no programa do início da tarde e repetido à noite. Agnelo só iniciou a ofensiva na segunda aparição. No horário do almoço, adotou um estilo mais leve, embora tenha feito críticas aos governos passados, que teriam provocado uma desorganização urbana no Distrito Federal. Não citou explicitamente Roriz, que governou o DF em quatro oportunidades. A tática do primeiro programa foi associar a imagem de Agnelo à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O principal cabo eleitoral do PT pediu votos para o petista em um discurso de enaltecimento ao próprio governo, sem ressaltar, por enquanto, as qualidades do ex-ministro do Esporte. E ainda pegou uma carona: aproveitou para pedir votos para a presidenciável Dilma Rousseff (PT).

Os advogados de Roriz vão pedir direito de resposta aos ataques sofridos no programa de Agnelo. A petição será encaminhada ao TRE-DF hoje, sob a justificativa de que o horário eleitoral é um espaço para propostas de candidatos, e não para agressões. Começa, assim, em clima quente o embate entre os dois líderes na corrida ao Palácio do Buriti. O petista Agnelo Queiroz foi apresentado como um candidato ;ficha limpa;, com a vida profissional dedicada à saúde, e que pode melhorar o Distrito Federal como Lula teria mudado o Brasil.

Roriz, por sua vez, optou por apresentar realizações de seus governos anteriores. Justificou a criação de cidades e a distribuição de lotes, um dos principais pontos de crítica dos adversários, como uma forma de evitar a favelização do Distrito Federal. Ao contrário de Agnelo, que explorou o apoio de Lula, Roriz não fez qualquer menção ao ;aliado; na campanha presidencial, o tucano José Serra, tampouco às gestões do PSDB. Eduardo Brandão, que concorre ao governo pelo PV, também surfou na onda nacional. Foi apresentado na televisão pela candidata do partido à Presidência da República, Marina Silva. A aposta dos verdes é o possível bom desempenho da representante na corrida ao Palácio do Planalto, que poderia transferir parte de sua popularidade aos nomes da legenda na capital do país. Por isso, Marina também surgiu no vídeo pedindo votos para os concorrentes ao Senado, Cadu Valadares e Moacir Bueno.

Senado
A estratégia dos quatro principais candidatos ao Senado no horário eleitoral foi de paz com os adversários. A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), o senador Cristovam Buarque (PDT) e os deputados federais Alberto Fraga (DEM) e Rodrigo Rollemberg (PSB) optaram por uma exibição da própria trajetória política ao eleitorado, sem ataques a adversários. Os dois integrantes da coligação encabeçada por Agnelo Queiroz (PT) fizeram referências ao candidato a governador. No programa de Rollemberg, Lula também foi cabo eleitoral. O presidente da República apareceu em uma foto apontando para o candidato do PSB. O governador de Pernambuco e presidente nacional da legenda, Eduardo Campos, se incumbiu de dizer que a candidatura de Rollemberg surgiu de uma sugestão de Lula.

Abadia se apresentou como aliada de Roriz, coisa que Fraga evitou. O programa do democrata contou por meio de ilustrações e fotos, ao som de moda de viola, a trajetória do ex-secretário de Transportes, sem os anunciados ataques à candidatura de Roriz. O slogan de Fraga será um ;soldado do povo no Senado;, que acabou com bandidos na Ceilândia, defendeu o armamento e melhorou o transporte coletivo. Cristovam pediu votos para continuar seu projeto em defesa da ética e da educação.

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Cadê a crase? Cadê a vírgula? As perguntas se espalham como fogo morro acima e água morro abaixo. Cadê? Cadê? Cadê? A gramática busca a resposta desesperada. A razão: depois do programa eleitoral, o grampinho e a bengala correm risco de desaparecer. Trata-se da velha lei do uso e do desuso.

Da mesma forma que partes do corpo, sinais linguísticos podem dar adeus à vida. Vale o exemplo do rabo. Quando quadrúpedes, os humanos exibiam o acessório como o gato, o cachorro, o cavalo. A evolução tornou-o inútil. O rabicho pôs o rabinho entre as pernas, bateu asas e voou.

Eis o perigo. ;A candidatura de Roriz continua rumo a vitória;, diz a legenda na tela. ;A mostra está nas obras ; das grandes as mais simples;, continua. Sem o acento, a crase fica desamparada e o sentido torto. A vírgula tem sorte igual. ;A história começa com o carinho da mãe Alaíde e do pai Agnelo;. Ops! Olha a vingança. Sem o sinal, o texto faz denúncia grave. Diz que Agnelo tem mais de uma mãe e mais de um pai. Pode? Pode. É a vingança da língua.


Desempenho


Joaquim Roriz (PSC)

Com o registro negado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), abriu o programa com a confirmação de que continua candidato e confia na Justiça. Apresentou várias obras de seus governos anteriores, como a Ponte JK, a hidrelétrica de Corumbá IV e a implantação de nove cidades. Na estreia, Roriz atacou uma das principais críticas de seus adversários, a de que loteou o DF. Para se contrapor a isso, uma suposta moradora da invasão Boca da Mata, transferida para Samambaia, dá um depoimento de que sua vida melhorou. Um dos destaques foi a alusão ao polvo-profeta, sucesso na Copa do Mundo da África do Sul, que apareceu como o ;povo; que já teria escolhido Roriz. Apresentou pesquisas que o colocam na frente e uma possibilidade de vitória do primeiro turno. José Serra (PSDB) não deu as caras.

Agnelo Queiroz (PT)

No horário da tarde, abriu o programa com a apresentação de sua trajetória de vida, desde o nascimento em Itapetinga, na Bahia, com destaque para a sua profissão de médico. Os narradores e o próprio candidato reforçaram a visão de que o DF enfrenta uma situação de desordenamento territorial provocado por problemas de gestões anteriores. O destaque foi a participação do principal cabo eleitoral de Agnelo, o presidente Lula. Ele, no entanto, não fez referências pessoais ao petista. Elogiou a própria gestão e disse que para manter a política atual é preciso eleger Dilma Rousseff presidenta e Agnelo governador. À noite, o programa mudou. Sem identificação da coligação, um narrador atacou Joaquim Roriz, apontando-o como um político ficha suja que teve o registro da candidatura negado pelo Tribunal Regional Eleitoral.


Toninho do PSol

Sem grandes produções e com tempo curto, o candidato do PSol apareceu como garoto-propaganda da própria campanha. Fez um pronunciamento crítico em relação aos governos dos últimos 20 anos, quando Brasília foi tomada, segundo ele, pelo atraso e pela corrupção. Incluiu nos ataques o período do governo petista, de Cristovam Buarque (1995-1998), em que foi secretário de Administração, e a mulher, Maria José Maninha, de Saúde.


Eduardo Brandão (PV)

Pegou carona na campanha da senadora Marina Silva, estrela do PV na disputa nacional. No primeiro programa, a presidenciável que já tem projeção nacional apareceu ao lado de Eduardo Brandão, elogiando a sua trajetória como defensor do meio ambiente e da ética. Ele fez críticas aos governos anteriores e defendeu mudanças.



Ricardo Machado (PCO)

Usou o tempo para atacar a política econômica do presidente Lula de ;apoio aos banqueiros;. Também criticou o PT e a corrente majoritária do partido, a Articulação, que supostamente prejudica os servidores públicos, especialmente os bancários.

Newton Lins (PSL)

O candidato apareceu com um aquário com duas iscas de pescaria e criticou os governos anteriores que estariam tentando enganar o eleitor. O telespectador só entendeu o cenário, quando no fim do pronunciamento, Newton Lins perguntou: ;Você não vai morder essa isca, vai?

Rodrigo Dantas (PSTU)

Criticou os governos Arruda e Roriz e ainda a aliança entre Agnelo Queiroz (PT) com o deputado Tadeu Filippelli (PMDB), antigo aliado do ex-governador que hoje disputa eleição pelo PSC. Defendeu o combate à corrupção e a expropriação dos bens dos empresários envolvidos em falcatruas.

Frank Svensson (PCB)

Defendeu o fim do capitalismo, apontado como ;desumano pela própria natureza;. O programa também não teve produção. Uma imagem fechada focou o rosto do candidato, ainda desconhecido da maioria da população.