Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Aliados avaliam que perfil centralizador, técnico e notívago de Serra atrapalha

São Paulo ; Depois que as pesquisas de intenção de voto passaram a mostrar a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, cada vez mais distante do tucano José Serra, um grupo de aliados políticos do PSDB começou a cobrar do candidato que ele distribua o poder de decisão da campanha para garantir um segundo turno. Além de centralizador, Serra é apontado nos bastidores como obcecado por informações técnicas, o que acaba por deixá-lo distante do ;povão;. Outro ponto negativo apontado por quem trabalha em sua campanha é o fato de ele passar a noite em claro ; chega a ficar até as 4h no escritório político perto de sua casa, no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo, estudando horas sobre o que vai tratar no dia seguinte. Com tal rotina, geralmente não acorda antes das 11h.

Um exemplo do excesso é o fato de Serra ter lido quase 30 páginas de um relatório sobre as Santas Casas de Misericórdia para falar sobre o tema durante alguns segundos em entrevista ao Jornal Nacional. ;Até agora, a campanha está muito sofisticada. Ele tem que descer do pedestal para se aproximar do eleitor comum, que não lê jornal;, diz um deputado estadual de São Paulo que prefere não se identificar.

Uma corrente de correligionários defende que Serra passe a reunir um conselho político formado na época da pré-candidatura e que até agora não deu ;pitaco; nas estratégias. Desse conselho fazem parte o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ). ;Na nossa avaliação, ao conduzir a campanha praticamente sozinho, Serra acabou amargando uma queda nas pesquisas. Nada que seja irreversível;, diz um aliado.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reconhece que o comando de campanha errou ao não reunir o conselho e avisa que será agendado um encontro nos próximos dias. Guerra assegura que já era esperada a queda de Serra nas pesquisas. ;A campanha começa pra valer agora, com os embates entre os candidatos e o horário de propaganda eleitoral na tevê;, diz o senador.

Sozinho
Nos planos do comando de campanha, o candidato deveria começar o programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão pelo menos empatado com Dilma. Nessa fase, os marqueteiros investiriam mais na comparação da figura pública de Serra com a da petista. No entanto, com até 11 pontos percentuais de desvantagem, segundo as sondagens mais recentes dos institutos de pesquisa, a estratégia deixou de fazer sentido, segundo avaliação de quem trabalha próximo ao candidato. Principalmente depois que a campanha de Dilma passou a comparar Serra com o presidente Lula. ;O ideal agora é aproximar Serra da população;, diz um estrategista.

Outra observação feita por aliados é que a sua autoridade máxima sobre todo tipo de decisão acabou afastando correligionários importantes. No interior de São Paulo, por exemplo, candidatos a deputado estadual fazem campanha pedindo voto para si e para o candidato a governador Geraldo Alckmin (PSDB) sem citar o nome de Serra(1). Com a candidatura de Dilma, isso não ocorre. Nos lugares mais distantes, todos querem tirar proveito da posição privilegiada da petista.

Até tu?
Um dos sintomas da ausência de sintonia é que a campanha para a reeleição de Sérgio Guerra em Pernambuco, pelo menos até agora, ignorou Serra. Na televisão, ele já esteve ao lado de figuras nobres do tucanato, como Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin. ;Ele vai aparecer em breve;, promete Guerra. O presidente tucano diz, inclusive, que é comum os candidatos a deputado ignorarem o postulante ao Planalto. Mas uma reunião com 400 prefeitos tucanos e de partidos aliados marcada para esta semana vai tentar reverter o quadro.

1 - Apelo ao povão
Uma tentativa de aproximar Serra do eleitor humilde ocorreu em seu primeiro programa eleitoral. Apesar do tropeço de ter apresentado um criticado jingle com referências a Lula, a peça tinha apelo emocional. O candidato chega a ser chamado de Zé. ;Achei bom e popular. Acho que vamos para o segundo turno e a situação da Dilma vai ficar complicada na segunda fase;, diz o deputado estadual paulista Fernando Capêz (PSDB). Segundo ele, no segundo turno Serra e Dilma estarão ;desnudos; num palco com as cortinas abertas e iluminados por holofotes. ;Aí a população vai saber quem é o melhor.;