Em dois dias de horário eleitoral na tevê e no rádio, ser amigo ou o ;escolhido; do presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou senha obrigatória para a maioria dos candidatos pedir votos ao eleitor. Ontem, nos programas veiculados pelos postulantes aos governos estaduais, pelo menos em 12 locais ele era presença garantida. Em alguns casos, aparecia em vídeos gravados para os candidatos. Em outros, era citado à exaustão. O indício do ;fator Lula; nos programas de tevê começou já na estreia, na terça-feira. Entre os que disputam o Palácio do Planalto, o presidente ocupou o vídeo por quatro minutos, dos 21 minutos a que Dilma Rousseff (PT) teve direito. O programa do tucano José Serra foi mais comedido, mas ainda assim citou Lula por três vezes em um jingle.
A julgar pela reação dos eleitores, ter citado o nome de Lula durante a propaganda de Serra pode ser considerado um tiro no pé. Além da aparição no jingle, a voz do locutor, supostamente semelhante à do presidente, irritou parte dos eleitores do tucano. O ilustrador Guilherme Gonzaga, 28 anos, aponta que, ao se aproximar de Lula, Serra perde parte da identidade. ;É frustrante! Parece que o PSDB tem medo de bater de frente com o Lula. Muita gente apoiaria ele (Serra) exatamente por ;bater; no Lula. Como eleitor do Serra, fico surpreso, mas sei que é uma estratégia de desespero, errada;, aponta. Para a publicitária Chrissie Tavares, 34 anos, ao citar o presidente, o tucano reforça a imagem de Lula. ;O horário deve ser usado para expor propostas que ajudem a solucionar o que está errado em vez de lembrar que o Lula ainda está governando, não?;, questiona.
A reação do público aos primeiros programas de tevê e a queda nas pesquisas provocaram uma mudança no curso da campanha tucana. Ontem, em debate transmitido pela internet, um Serra mais agressivo foi prenúncio de que ele deve elevar o volume das críticas a Dilma ; disparar contra Lula ainda é hipótese remota. ;O Serra vai seguir essa linha agora, de ser enfático, questionar a Dilma. Ele vai tentar desconstruir a imagem dela, até porque o debate dele é com ela;, aponta a vice-presidente do PSDB, senadora Marisa Serrano (MS).
Para os especialistas, Serra ainda tateia ao tentar construir uma imagem de oposição sem trombar com Lula. ;No contexto atual, colocar-se como diferente é correr o risco de ir contra o desejo do eleitorado, mas se você se aproxima demais do que não é, pode anular o seu efeito. O programa eleitoral do Serra reflete isso;, diz a cientista política Flávia Biroli.
PRESSÃO SOBRE OS ALIADOS
; A cúpula da campanha de José Serra (PSDB) deve pressionar os aliados, especialmente os candidatos a cargos proporcionais, a corrigirem as propagandas em que não há citação ao nome e ao número do presidenciável. No Rio de Janeiro, Serra sumiu do programa de Rodrigo Maia (DEM) e de todos os candidatos do DEM.
Até o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, não colocou o candidato a presidente em seu vídeo, mas prometeu mudar a perspectiva nos próximos dias.