Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Ataques de Roriz ao PT param na Justiça

A defesa de Agnelo entra hoje com uma ação contra o candidato, que comparou o vermelho do partido à "cor de satanás"

Os ataques disparados pelo candidato do PSC ao Buriti, Joaquim Roriz, contra o Partido dos Trabalhadores viraram briga judicial. No fim de semana, o ex-governador subiu o tom contra seu principal adversário nas urnas, o candidato Agnelo Queiroz (PT), e comparou, durante um comício no Itapoã, o vermelho usado pelos petistas com a ;cor do satanás;. Disse ainda que, no governo do PT, ;pode-se matar, roubar e estuprar;. Os advogados de Agnelo usarão as novas farpas para sustentar uma ação contra Roriz, que será ingressada hoje na Justiça. Caso o ex-governador confirme no Judiciário o que foi dito em público, a defesa de Agnelo pedirá indenização por danos morais.

Parte do discurso de Roriz no Itapoã foi publicada pelo Correio na edição de domingo último. No dia anterior, o candidato do PSC fez um pronunciamento inflamado para uma plateia composta por cerca de 2 mil pessoas. O ex-governador chegou à cidade à tarde, logo depois da saída de correligionários petistas. ;Aqui passou a bandeira vermelha. Xô, satanás!”, disparou Roriz, pedindo que as pessoas replicassem a última frase. O ex-governador mostrou fotos de derrubadas na antiga invasão durante o governo de Cristovam Buarque (PDT), hoje candidato à reeleição para o Senado. ;Os vermelhos estão perdendo tempo aqui (no DF). No governo do PT pode matar, roubar e estuprar. No Itapoã, não tem bandeira vermelha, aqui a bandeira é azul;, alfinetou.

Ontem, ao inaugurar um comitê majoritário no Núcleo Bandeirante, Agnelo Queiroz considerou um ;crime; o que o adversário falou contra o PT e disse que as acusações são uma ;incitação à violência;. ;São ataques de desespero. É uma grande irresponsabilidade fazer esse tipo de citação. Uma incitação à violência;, analisou. Agnelo enfatizou que não seguirá o modelo adotado por Roriz para fazer campanha. No programa eleitoral, que começa hoje, ele disse que não usará o tempo para fazer ataques ao concorrente, e, sim, dará visibilidade à aliança feita com os 11 partidos ; que ainda é malvista por militantes mais ferrenhos. ;Vamos explicar direito (a aliança) para as pessoas. O que é ponto negativo para alguns, será ponto positivo para nós;, afirmou Agnelo.

Danos morais
Segundo o advogado Claudismar Zupirolli, que faz parte da equipe jurídica de Agnelo, a interpelação judicial é o instrumento legal para apurar se Roriz realmente fez as afirmações contra o PT em discurso. ;Se ele confirmar, evidentemente, caracterizam-se crimes de calúnia e difamação;, disse. Ele considerou ofensivas as acusações contra o cliente. ;Vamos entrar com ações penal e por danos morais;, afirmou. Para Eládio Carneiro, um dos advogados de Roriz, as frases pontuadas no discurso do ex-governador não podem ser tratadas como crime. ;Isso é retórica normal de palanque que reporta a situações históricas da origem de Agnelo, que era um comunista. Que eu saiba os comunistas perseguiram a Igreja e renegaram a Deus;, argumentou Carneiro.

Em visita ao Mercado do Núcleo Bandeirante, na manhã de ontem, Roriz voltou a dizer que ;vai dançar conforme a música; durante a campanha. Ou seja: só atacará os adversários(1) se for atacado. ;Cada candidato tem um ponto para ser criticado e atacado. Temos o ataque e a Justiça para nos defender. Mas vamos agir com cautela;, explicou.

O cientista político Octaciano Nogueira, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o candidato que desqualifica o concorrente perde pontos com o eleitor. ;Ele não pode esperar recompensa nas urnas e, sim, uma condenação. Esse comportamento atenta conta a cultura cívica do povo brasileiro. Mostra o nível chulo, pobre e sem nenhuma criatividade das campanhas;, criticou. Na opinião do cientista político David Fleischer, também da UnB, esse tipo de acusação demonstra a falta de propostas e de ideias dos candidatos. ;A única estratégia disponível que eles têm são as agressões. Ele (Roriz) acha que o povão vai entender isso, mas a conduta enfraquece a democracia;, afirmou.

1 - Militantes
As provocações dos apoiadores de Roriz contra os adversários foram vistas na última quinta-feira, quando os candidatos ao GDF participaram no primeiro debate de televisão. Na frente do prédio onde os concorrentes estavam, no Setor Comercial Sul, rorizistas queimaram bandeiras do PT.

Memória
Situações semelhantes


Não é a primeira vez que Joaquim Roriz solta a verbo em público contra os adversários. O estilo agressivo já foi utilizado em outras ocasiões. Em 14 de agosto de 2003, Roriz chamou o ex-governador Cristovam Buarque de ;assassino; e de uma pessoa ;que não gosta de pobres;. O discurso contra o então petista foi pronunciado no Itapoã, mesma cidade em que Roriz comparou o vermelho do PT à ;cor de satanás; no último fim de semana.

Cristovam pediu indenização de R$ 50 mil contra Roriz, que negou ter dito as palavras argumentando que não poderia ser responsabilizado pelas notícias veiculadas em jornal. Na ocasião, Roriz inaugurava uma obra pública e lembrou aos presentes sobre um confronto na Estrutural. Segundo a transcrição do discurso e a matéria veiculada pela imprensa, o réu disse: ;O governador (Cristovam) é chefe da polícia, obrigou a polícia a ir pra lá e assassinou seis pessoas (...);.

Em fevereiro de 2002, Roriz patinou mais uma vez com as palavras e, mesmo pedindo perdão em público, não conseguiu consertar o fato de ter chamado o aposentado Marinaldo Marcelino do Nascimento de ;;crioulo petista;;. Durante um discurso em Brazlândia, ele pediu uma salva de vaias para o ;crioulo petista; e orientou que as pessoas expulsassem de casa quem fosse contra ele. O PT entrou com ação penal contra o candidato.

Colaboraram Flávia Maia e Juliana Boechat