Jornal Correio Braziliense

Eleicoes2010

Dilma, Serra e Marina não se cansam de repetir mesmas frases e informações

São histórias de humildade, competência e superação

; Vinicius Sassine
; Ivan Iunes
; Tiago Pariz


Dilma é mulher, mãe e a candidata do presidente Lula. Merece, por isso, ser presidente da República. Serra odeia ;ti-ti-ti; e ;tro-ló-ló;, tem origem humilde, pais modestos. Não precisa de Lula para governar e, por isso, merece presidir o Brasil. Marina demorou 16 anos para aprender a ler e a escrever, saiu do interior da Amazônia, ficou como indigente numa fila de hospital público. É negra, pobre, sofreu. Merece ser presidente.

Os três candidatos à Presidência da República, desde a pré-campanha, não se cansam de repetir essas informações. São frases exaustivamente pinçadas em entrevistas, em discursos, no contato com o eleitor. Em 40 dias oficiais de campanha, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) se repetem, dizem sempre a mesma coisa, têm como estratégia colar nos eleitores o discurso da humildade, da competência e da superação. É quase impossível esbarrar em um deles e não ouvir as mesmas histórias da ;mãe; Dilma, do ;modesto; Serra e da ;analfabeta até os 16 anos; Marina Silva.

Dilma tem uma coleção de frases, histórias e dados que ela gosta de repetir em suas andanças. A maioria gira em torno das mulheres e da condição de mãe. A história campeã de repetições é a da ;menina Vitória;, que Dilma encontrou num aeroporto. A criança quis saber da candidata se mulher pode ser presidente da República. O curioso é que a ex-ministra da Casa Civil sempre se embaralha e conta o nome da criança no começo do causo, diminuindo o tom do final.

A mensagem sempre vem casada com histórias de mãe, uma das imagens preferidas de Dilma. Ela costuma lembrar que as mulheres são 52% do eleitorado, enquanto os outros 48% ;são nossos filhos;. E emenda com a frase de efeito: ;O presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo;.

Dilma tem algumas promessas e dados na ponta da língua, como os 24 milhões de pessoas que saíram da pobreza e os 31 milhões que ascenderam à classe média. E em quase todos os seus discursos proferidos, da pré-campanha até agora, existe a cobrança pela ;valorização do professorado;.

;Na garupa;
Quem acompanha com razoável rotina a segunda tentativa de José Serra de chegar ao Palácio do Planalto certamente constata que o candidato está um tanto ;popular; nestas eleições. Há frases do tucano muito recorrentes, mas o que mais chama a atenção são as expressões ;ti-ti-ti; e ;tro-ló-ló;, bengalas sempre à mão. A primeira é utilizada para negar informações de crise com algum aliado. A última serve quase como sinônimo para ;conversa fiada;.

Serra tenta colar a todo custo no eleitorado a imagem de que é um candidato de origem humilde. A intenção é aproximar a biografia à do presidente Lula. O tucano já citou pelo menos três vezes o baixo poder aquisitivo dos pais, sempre com as câmeras de TV focalizadas nas falas. ;Concorrer à Presidência é algo que me emociona. Vim de uma família de pais modestos. Entrei para a universidade e depois me envolvi na política. Isso me custou 14 anos de exílio.;

Quando a intenção do tucano é criticar a adversária Dilma Rousseff, as frases tentam atribuir a ela uma incapacidade política sem a ajuda de Lula. Para isso, o cardápio de expressões é extenso, mas dá sinais de esgotamento. Primeiro, a referência era à imobilidade: ;A Dilma precisa começar a andar com as pernas dela;. Durante a semana passada, a metáfora foi outra: ;O próximo presidente vai ter de governar e não pode ir na garupa.;