Washington - A designação do congressista Paul Ryan, um grande inimigo dos gastos públicos, como companheiro de chapa de Mitt Romney, revela que o candidato à presidência republicano acredita que os eleitores desejam um debate sobre o futuro fiscal e sobre o papel do governo na vida dos Estados Unidos.
Desafiando as previsões de que tomaria uma decisão prudente e não arriscada como um gesto para os eleitores independentes, o candidato republicano escolheu um herói dos conservadores, que provocou controvérsias no passado. Ryan, um sério e entusiástico "falcão" fiscal que ganhou notoriedade na Câmara de Representantes com um plano orçamentário para cortar gastos, tem uma clara simpatia de conservadores influentes que desejavam para Romney um companheiro de chapa que despertasse paixões.
O congressista, que aos 42 anos passou um terço da vida como representante por Wisconsin, estimulou um debate sobre o caminho da economia do país na condição de presidente do Comitê de Orçamento da Câmara de Representantes. "Estamos oferecendo ao país um caminho melhor para avançar", declarou Ryan em março, pouco antes de a Câmara ter aprovado o orçamento, com 228 votos a favor, todos de republicanos, e 191 contrários. O projeto de orçamento detalha "nosso plano para resgatar o país de um futuro da dívida, dúvida e declive", afirmou Ryan.
[SAIBAMAIS]Apesar de o orçamento, que prevê cortes de cinco trilhões de dólares na próxima década, não ter qualquer chance de aprovação no Senado, de maioria democrata, constitui um documento que estabelece as principais diretrizes republicanas sobre gastos e dívidas.
Mas o plano, que agora também está associado a Romney, é criticado pelo presidente Barack Obama e pelos democratas, que afirmam que concede isenções tributárias aos milionários, ao mesmo tempo que elimina programas sociais federais. Entre outras coisas, o projeto prevê a privatização parcial do Medicare, o programa de saúde governamental.
Muitos conservadores pressionavam Romney a adotar uma decisão arriscada na questão do vice-presidente. "Ryan colocou os programas sociais no centro do debate público. É o que melhor mostra a natureza destas eleições e o que está em jogo", afirmou o The Wall Street Journal em um editorial recente.
O congressista nasceu e cresceu em Janesville, Wisconsin, onde ainda mora com a esposa e os três filhos. Seu pai morreu quando ele ainda estava no colégio, o que fez de Ryan um jovem introspectivo, voltado para os livros. "Cresci muito rápido", disse em uma recente entrevista à revista The New Yorker.
Depois de trabalhar em 1996 para o candidato republicano à vice-presidência Jack Kemp, Ryan foi eleito para o Congresso pela primeira vez em 1998, aos 28 anos. Em 2004 ganhou fama pelos esforços para privatizar o programa de aposentadorias do governo.
A escolha de Ryan tranquiliza os conservadores, que poderiam ter suspeitas pelas mudanças nas posturas de Romney sobre temas como o aborto ou os direitos dos homossexuais, mas os analistas questionam se o candidato republicano está cortejando os eleitores adequados nestas eleições acirradas. "Romney deve se concentrar nos eleitores independentes nos estados-chave e não acredito que Paul Ryan o ajude de maneira alguma", disse o analista político da Universidade Emory, Alan Abramowitz.