Um tema aparentemente técnico, mas que mexe diretamente com a vida dos brasileiros, deve estar presente nos debates do segundo turno da campanha à Presidência da República: a energia elétrica. Se, por um lado, a candidata do PT, Dilma Rousseff, deverá lembrar o racionamento de energia de 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, do PSDB, deve focar suas críticas nos problemas atuais do setor, que podem resultar em reajustes na conta de luz.
Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a questão da energia elétrica vai dar um ;bate-boca quente; no segundo turno das eleições. Segundo ele, a tentativa do governo de reduzir a tarifa de energia resultou em ;desastre total; para as distribuidoras. ;Todo esse populismo, o Aécio vai abordar. E, claro, a Dilma vai retrucar com o apagão que houve no governo FHC;, analisa.
A Medida Provisória 579, de 2012, promoveu a redução dos preços da energia elétrica em 20% em média, mas estabeleceu uma série de condições para as distribuidoras de energia, como a renovação antecipada das concessões que estavam para vencer.
Segundo análise do Tribunal de Contas da União, a medida trouxe desequilíbrio nas contas do setor elétrico, processo agravado pelas chuvas abaixo do normal nos últimos meses.
Com isso, o governo teve que adotar medidas para socorrer as distribuidoras, como a alocação de recursos do Tesouro e a autorização para empréstimos no mercado, que deverão ser repassados para os consumidores por meio da conta de luz.
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, acredita que o assunto deve ser tratado de forma mais técnica durante a campanha.
;Não creio que a questão da política energética em si receba um grande destaque, porque é algo que tem um embasamento técnico muito grande e possivelmente não se preste a discussões em campanhas eleitorais, onde se busca muito mais destacar emoções do que razões;, avalia.
Mesmo assim, ele acha que tanto o racionamento de 2001 quanto os problemas atuais do setor podem ser abordados pelos dois candidatos. ;Cada um tem os seus argumentos, a presidenta Dilma tem razão de trazer à tona a questão do racionamento de 2001, porque ele teve como causa básica a perda da capacidade de planejamento. E o Aécio, certamente, vai trazer a questão da crise financeira, que tem uma correlação direta com a crise hidrológica que o país está passando;, disse.
Em entrevista à Agência Brasil, Aécio Neves disse que a situação do setor elétrico brasileiro é trágica. Segundo ele, os recursos aplicados pelo Tesouro nas distribuidoras de energia poderiam ir para outras áreas, como saúde, educação e segurança pública.
;Essa política de usar dinheiro do Tesouro para forçar a queda das tarifas não deu certo e causou instabilidade ao sistema. O que precisa ser feito é ampliar a oferta, com o uso de energia eólica, por exemplo, mas só isso não é suficiente;, disse o candidato.
A candidata Dilma Rousseff lembrou recentemente, em sua conta no Twitter, o racionamento de energia ocorrido em 2001, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é do mesmo partido de Aécio Neves. ;O povo brasileiro não quer de volta aqueles que trouxeram o racionamento de energia;, disse Dilma.
O programa de racionamento foi adotado de junho de 2001 a fevereiro de 2002 para evitar um colapso no abastecimento de energia e atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da Região Norte.