Jornal Correio Braziliense

Eleições 2014

Cartel de grandes empreiteiras superfaturava obras e garantia propinas, diz Costa

Paulo Roberto afirma que tentou furar esquema, mas foi "difícil". Veja a lista de empresas denunciadas pelo delator da Lava-Jato

Um cartel de grandes empreiteiras que combinavam preços e licitações previamente dava base financeira para manter um esquema de corrupção na Petrobrás, segundo afirmou à 13; Vara Federal de Curitiba o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, réu na Operação Lava-Jato, na primeira oitiva após fechar acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ele diz que participavam do esquema pelo menos nove empresas para embutir 3% nos orçamentos e, assim, garantir a propina a políticos do PT, PMDB e PP para fins eleitorais. Entre elas, estão Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, Iesa, Engevix, Mendes Júnior e UTC. O ex-diretor disse que outras empresas estão em seus depoimentos sigilosos prestados aos investigadores após o acordo de colaboração premiada.

Os presidentes e dirigentes das empresas sabiam dos acertos de corrupção, de acordo com Paulo Roberto. Na Odebrecht, os contatos eram feitos com Rogério Araújo e Márcio Faria. Na Camargo Corrêa, acertos seriam feitos com Eduardo Leite, que, para os policiais e procuradores, é chamado de ;Leitoso; em diálogos captados pela Operação. Na Andrade Gutierrez, com Paulo Dalmazzo, na OAS, com Léo Pinheiro, na Queiroz Galvão, com Idelfonso Colares, na Engevix, com Gérson Almada, na UTC, com Ricardo Pessoa, na Galvão Engenharia, com uma pessoa de nome Erton.

Ouça trecho do depoimento

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[SAIBAMAIS]Segundo o réu na Operação Lava-Jato, havia um acerto prévio entre as empresas para definirem preços em licitações da Petrobras. ;E essa cartelização obviamente resulta num ;delta preço; excedente;, explicou ele ao juiz Sérgio Moro, da 13; Vara. As empresas colocariam de 10% a 20% de ganhos entre os custos indiretos e o seu lucro, o chamado ;BDI;. ;O que se acontecia nas obras da Petrobras? Por hipótese. O BDI era 15%? Então se colocava normalmente em média 3% a mais. E esses 3% eram alocados a agentes políticos;, afirmou o delator.

Paulo Roberto chegou a dizer que havia reuniões de representantes de grupos políticos na Petrobrás para serem incluídas empresas no cartel. Os pedidos dos partidos e mesmo dos diretores da petroleira tinham peso, mas precisavam ter uma qualificação técnica mínima. O ex-diretor garante que tentou incluir firmas menores de fora do cartel. ;Começamos a colocar empresas de menor porte para quebrar um pouco esse cartel;, afirmou. ;Parece até um pouco de demagogia, mas é verdade. Foi feito isso;, disse.

Ele mencionou a ;dificuldade; de incluir novos fornecedores. Numa ocasião, Paulo Roberto se reuniu com as grandes empreiteiras do cartel da petroleira. ;A palavra que me falaram foi: ;Você vai quebrar a cara, porque essas empresas não vão dar conta do trabalho;.; Algumas empresas menores realmente faliram, mas outras permaneceram. ;Houve alguns casos de solicitação minha de incluir empresas de fora do cartel e para aumentar a concorrência;, disse.

Esquema antigo
Paulo Roberto disse acreditar que o esquema existia antes de seu ingresso na diretoria de Abastecimento, em 2004, porque ;essas empresas trabalham há muito tempo; com a estatal e porque há ;indicações políticas; na Petrobras desde o governo de José Sarney (1985-1990), passando por Fernando Henrique (PSDB) e Lula (PT).

;Parece demagogia, mas foi feito. Tivermos muita dificuldade. A palavra que me falaram foi: ;Voce vai quebrar a cara, porque essas empresas não vai dar conta;. E realmente algumas faliram, não deram conta. Outras não foram para frente.; ;Houve alguns casos de solicitação minha de incluir empresas de fora do cartel e para aumentar a concorrência;.