Exatamente uma semana após a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e o candidato do PSDB, Aécio Neves, se despedirem do horário eleitoral com discursos otimistas, que fecharam um ciclo de ataques, eles retornam hoje ao rádio e à tevê com uma campanha repaginada para o segundo turno. Em vez de alfinetadas e desconstrução explícita dos adversários, como ocorreu com a candidata do PSB, Marina Silva, derrotada no domingo, a estratégia dos dois partidos será de usar os 10 minutos disponíveis para cada um para enaltecer as propostas e se viabilizarem como o político capaz de promover as mudanças que os eleitores querem. No primeiro turno, a petista teve quase 12 minutos de tempo na tevê, contra 4 minutos e meio de Aécio.
A nova estratégia visa atrair principalmente os 22 milhões de eleitores de Marina Silva. Após a reunião de terça-feira da presidente Dilma Rousseff com coordenadores de campanha, governadores e senadores eleitos, participantes do encontro declararam que o perfil de quem vota na ex-senadora é o de quem não gosta de ataques, que prefere discutir propostas, como a reforma política, a pancadaria.
[SAIBAMAIS]A redução da agressão, no entanto, não significa ausência de críticas. Ao enaltecer os próprios feitos, o PT não deixará de comparar as gestões de Dilma e Lula com as de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002). O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, anunciado por Aécio como futuro ministro da Fazenda, caso seja eleito, deve ser um dos alvos. Há gravações com críticas ao tucano, que deixaram de ir ao ar no primeiro turno após a morte de Eduardo Campos (PSB), em 13 de agosto ; quando a artilharia petista se virou contra Marina Silva (PSB). A ideia dos petistas é mostrar que o governo de FHC provocou desemprego, não reajustou os salários e ainda implantou a privatização de setores públicos.
O tucano, por sua vez, deve seguir tática parecida com a da petista e adotar uma postura mais ;alto astral;. Ontem, durante um evento de campanha em Brasília, o candidato chegou a prometer uma campanha ;da alegria e da verdade;. Os programas na televisão, a princípio, serão leves, sem ataques muito fortes. Aécio vai reforçar que o país precisa de uma mudança e que ele é o único que pode liderar esse processo. O Nordeste deve ser outro foco prioritário na propaganda tucana. A região foi a única em que Aécio não venceu o primeiro turno em nenhum estado.
Com as repetidas críticas de Dilma às políticas sociais das gestões tucanas, o tema deve receber um tratamento especial na propaganda tucana. A ideia é desmistificar a tese de que Aécio acabaria com as conquistas das classes populares e mostrar que, se eleito, o ex-governador de Minas Gerias promoverá melhorias nas políticas públicas voltadas aos mais pobres. A defesa do legado de FHC não deverá ser prioridade, assim como eventuais críticas ao governo Lula. A equipe de campanha de Aécio considera mais proveitoso expor os problemas atuais do Brasil e os caminhos para resolvê-los.