Além de acomodar uma nova leva de aliados, cada uma das duas campanhas tenta não frustrar as expectativas do eleitorado, sob pena de diminuir seu cacife. Por isso, embora esteja interessada na adesão de políticos que apoiaram Agnelo Queiroz, a dupla Frejat e Rollemberg evita falar em alianças com o partido do governador, o PT, por acreditar que a maioria dos seus eleitores rejeita a legenda, assim como rechaçou a possibilidade de reeleição do atual chefe do Executivo brasiliense.
A seguir, o Correio mapeia os principais movimentos das duas candidaturas no sentido de atrair novos apoios. As conversas ocuparam os políticos dos dois lados nas 24 horas iniciais após a divulgação dos resultados do primeiro turno e continuam nos próximos dias.
Frejat fala com partidos
As articulações da coordenação de campanha de Jofran Frejat (PR) em busca de novos apoios para o segundo turno começaram ainda na noite de domingo, pouco depois de o candidato ser confirmado na continuidade da disputa pelo Palácio do Buriti. O objetivo principal é conseguir trazer para a base do grupo alguns dos 18 partidos que, no primeiro turno, estiveram com Agnelo Queiroz (PT) e Luiz Pitiman (PSDB). A aproximação com os aliados do tucano é mais provável, mas há possibilidade também de que muitas siglas que apoiaram a reeleição do petista engrossem as fileiras da candidatura de Frejat.
O dia de ontem foi marcado por vários contatos. O candidato do PR ligou para nomes como o vice-governador Tadeu Filippelli, presidente regional do PMDB, e o deputado distrital Alírio Neto, presidente regional do PEN. As duas siglas estiveram com Agnelo Queiroz no primeiro turno. Frejat também falou com Renato Andrade (PR), eleito distrital. A expectativa é de que ele, por ser evangélico, possa facilitar a interlocução com legendas que têm base protestante, como o PRB, que elegeu Júlio César ; o distrital mais votado ; e o PROS ; que pôs Ronaldo Fonseca na Câmara dos Deputados. O problema nessa última articulação é que Fonseca deixou o PR quando Arruda se filiou, no fim de 2013. PRB e PROS apoiaram o PT no primeiro turno.
;A partir de agora, nosso tempo vai ser dividido entre o corpo a corpo, nas ruas, e as articulações em busca de apoio;, confirmou o candidato do PR ao GDF. Ele também conversou com a distrital Eliana Pedrosa (PPS), a fim de reafirmar o alinhamento do grupo da parlamentar com sua candidatura. No primeiro turno, ela foi contra a orientação partidária, que fechou com Pitiman, e apoiou José Roberto Arruda (PR) e, depois, o próprio Jofran Frejat, que substituiu o ex-governador na disputa. Mesmo derrotada na corrida por uma vaga na Câmara dos Deputados, Pedrosa teve mais de 55 mil votos e é considerada uma líder importante.
PMDB ;fechado;
A tendência dos 16 partidos que se uniram em torno da candidatura de Agnelo Queiroz é de cada um seguir um rumo a partir de agora. Em reunião da Executiva Local, o PT deve decidir seu futuro hoje, com possibilidade de liberar as bases e a militância para apoiar (e votar em) quem quiser. Mas a tendência natural da maioria dos petistas é seguir para a campanha de Rodrigo Rollemberg (PSB). Já o PMDB ainda não tem um caminho determinado. Filippelli convocou ontem os deputados eleitos (um federal e três distritais) para definir os rumos. ;Estamos fechados e vamos caminhar juntos;, disse um dos parlamentares.
Um dos partidos da coligação petista, o PRP, migrou para a base de Arruda e Frejat ainda durante a disputa do primeiro turno. A legenda não elegeu representantes na Câmara Legislativa nem na Câmara dos Deputados. O PSDC, que apoiava Pitiman, perdeu 25 candidatos a distrital e federal para a campanha de Frejat a uma semana do 5 de outubro. Os próprios tucanos tendem a voar para a candidatura do PR. Deputado federal reeleito, Izalci Lucas é alinhado ao grupo, assim como Raimundo Ribeiro, eleito para a Câmara Legislativa.
"A partir de agora, nosso tempo vai ser dividido entre o corpo a corpo, nas ruas, e as articulações em busca de apoio"Jofran Frejat, candidato do PR
Rollemberg: longe do PT
Com uma vantagem significativa sobre o adversário no primeiro turno, Rodrigo Rollemberg (PSB) e os chefes da sua campanha a governador do Distrito Federal adotam o discurso de aceitação de apoios dos derrotados, sem a negociação de cargos. Falam publicamente em conversar com todos, inclusive integrantes da coligação do Partido dos Trabalhadores (PT), que tinha 14 legendas. Pretendem atrair petistas de carteirinha e ocupantes dos cargos de confiança da atual administração, que ficarão desempregados a partir de 1; de janeiro, com o fracasso de Agnelo Queiroz na tentativa de reeleição. Mas reforçam: não garantem emprego, rechaçam o petismo e recusam ampliar a aliança com a inclusão de mais siglas.
A estratégia de Rodrigo Rollemberg para o segundo turno visa, acima de tudo, não desagradar àqueles que o apoiaram desde o início da campanha ; a chapa tem quatro partidos ;, quando estava em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, nem os eleitores que o escolheram. A distância formal do PT, por exemplo, manteria a coerência do discurso de mudança, não daria razão à estratégia de Jofran Frejat (PR) de ligar Rollemberg a Agnelo Queiroz e ao PT e evitaria um desgaste com a rejeição ao atual governo local, apontada em todas as pesquisas de opinião e confirmadas nas urnas.
De volta ao expediente no Buriti, ontem, Agnelo deu mostras de que não vai declarar adesão a nenhum dos candidatos à sucessão. Indagado sobre quem o PT vai apoiar no segundo turno, o governador limitou-se a dizer que a sua preocupação é finalizar o mandato, em vigor até 31 de dezembro. ;Essa será minha dedicação única e exclusiva neste período;, declarou.
Até o fim do dia, o PT e quase todos os caciques do partido no DF não haviam se pronunciado sobre o rumo individual ou conjunto na segunda fase da eleição distrital. A exceção foi o deputado distrital reeleito Chico Leite. Ontem, ele se tornou o primeiro dos deputados fora da coligação de Rollemberg a declarar apoio ao pessebista. ;Defenderei nas reuniões internas do PT que apoiemos Rollemberg sem negociar cargos em troca;, afirmou Leite.
A depender do presidente do PSB-DF, Marcos Dantas, os políticos do PT continuarão distantes da chapa. ;Quem quer a renovação não quer o PT nem o passado;, afirmou, referindo-se ainda a Frejat e ao grupo político que o ex-secretário de Saúde dos governos de Joaquim Roriz representa.
Dantas adiantou que, a partir de hoje, quando a campanha retoma com força total, líderes da coligação de Rollemberg estarão prontos para se sentarem à mesa com integrantes de legendas derrotadas. ;Não vamos discutir a participação no governo, trocar apoio por cargo. Isso tem 0% de chance de acontecer;, ressalvou.
O senador priorizará o corpo a corpo. Mas, para trazer mais votos, pretende ampliar o contingente de cabos eleitorais, colocando na rua os 150 candidatos da coligação com os apoiadores deles, mais os 2,3 mil voluntários que trabalharam como fiscais nas seções eleitorais, no domingo. Esse exército percorrerá, principalmente, as cidades onde Rollemberg teve pior desempenho, apesar de ele ter vencido em 20 das 21 zonas eleitorais do DF ; perdeu apenas para Planaltina, com 64 votos a menos que Frejat, em primeiro.
Reflexo do desgaste
Agnelo Queiroz teve 20% dos votos e sua coligação conseguiu apenas uma cadeira, com Érika Kokay, na Câmara dos Deputados. O PT também não elegeu o candidato a senador, Geraldo Magela, secretário de Habitação de Agnelo, e tantos outros secretários de Estado da atual gestão, candidatos a deputado distrital ou federal.