A segunda-feira de carnaval é, há 21 anos, o dia do Carnaval de Segunda na capital maranhense. O trocadilho, que brinca com a data da folia e a expressão que desqualifica coisas ou pessoas, dá nome a uma festa realizada dentro e fora de um casarão do início do Século 20, no centro da cidade. No casarão, funciona há 38 anos o Laborarte, um ponto de cultura que busca resgatar tradicionais folguedos maranhenses.
Criado para retomar as tradições do carnaval maranhense, num momento em que os investimentos do governo se voltavam para o desfile das escolas de samba e as brincadeiras se perdiam, o Carnaval de Segunda chega aos 21 anos comemorando o sucesso.
;Na época, o carnaval estava se restringindo muito à Passarela do Samba, mas o samba que se fazia lá não era mais a nossa batucada tradicional ; estava virando uma imitação das escolas de samba do Rio de Janeiro", lembra a cantora Rosa Reis, coordenadora do Laborarte.
Segundo ela, o carnaval de rua estava praticamente acabando em São Luís. "Em 1986, montamos o espetáculo Súditos da Folia, criticando o que estava acontecendo. Foi aí que pensamos nesse carnaval alternativo, com as brincadeiras da cidade;, disse Rosa.
Uma das principais atrações do Carnaval de Segunda é o Baile da Chupeta. Criado há 13 anos, o baile é realizado nos salões do Laborarte, cuja fachada é coberta pelos azulejos portugueses que caracterizam a parte histórica da cidade.
;Quando completamos 25 anos, começamos a fazer o baile, porque vinham muitos pais com as crianças e elas faziam a maior loucura dentro desse casarão;, lembra Rosa Reis. ;Na cidade, elas não tinham muitas opções;, completa outro coordenador do Laborarte, Júlio César.
;É sempre bom trazer as crianças para mostrar um pouco da cultura do nosso estado;, diz Rosângela Bentevi, mãe de Alex Vinícius, de 4 anos, um dos pequenos foliões do baile. ;Viemos atrás de um lugar feito especialmente para crianças, e o ambiente é muito bom para trazermos nossos filhos;, diz Diogo Ávila, pai de Débora, de 4 anos, e João Pedro, de 9 meses.
Além de receber foliões de todas as brincadeiras tradicionais do Maranhão, como tambores de crioula, blocos de sujos, tribos de índio e blocos afro, o Laborarte oferece shows de Rosa Reis e do grupo Fuzarka, formado por músicos maranhenses que se dedicam à pesquisa e que cantam apenas músicas carnavalescas do repertório popular local. E, para não faltar tradição, é oferecido um cuxá aos brincantes ; comida composta por peixe frito, camarão, gergelim e vinagreira.
Este é o segundo carnaval organizado pelo Laborarte após a morte do fundador do grupo, Nelson Brito. Artista e intelectual maranhense, Brito morreu de infarto, em janeiro do ano passado, perto da data dos festejos. Mesmo assim, a festa da segunda-feira foi mantida.
;Todo mundo perguntava se íamos fazer o Carnaval de Segunda, e dizíamos que sim, porque era uma coisa que o Nelson criticava muito, essa de o dono da brincadeira falecer e ela não continuar mais;, diz Rosa Reis, viúva do fundador do Laborarte.
Ao longo do ano, o Laborarte não para, proporcionando à população atividades como oficinas de danças populares e tambor de crioula. Cinquenta pessoas tocam o ponto de cultura, entre sócios efetivos e colaboradores. Quando o Laborarte surgiu, em 1972, o que se pretendia era formar um grupo forte de artistas de São Luís para desenvolver pesquisas, especialmente teatrais. Nos anos 80, passou a se dedicar à cultura popular.