Depois de três horas de atraso, o tradicional bloco de carnaval de Taguatinga, Mamãe Taguá, finalmente conseguiu sair da concentração. E estava vistoso, caprichado, com mais de 20 bonecos de cabaça, feitos durante o ano todo pelos alunos do terceiro ano do segundo grau do Centro de Ensino Número 4 da cidade. Os artistas plásticos Tetê e Jorge Simas explicaram a demora na confecção dos artefatos: ;Só para vestir os bonecos levamos mais de uma hora. É uma operação que exige paciência;, disse Tetê. Simas contou que o bloco também teve problemas com o carro de som que difunde as marchinhas pela avenida.
Tudo pronto, os integrantes da comunidade fizeram a festa. Aliás, a sobrevivência do Mamãe Taguá vem da sua grande ligação com a comunidade. O bloco é pequeno, mas seus fundadores, todos artistas plásticos, formam a geração que vai brincar nas ruas. As oficinas são ministradas durante o ano inteiro. Os alunos pegam gosto e amor pelo bloco. Na hora de mostrar o trabalho, saem para desfilar.
Foi assim com Lorena Reis Dias, que levou três meses para confeccionar o velho de cabaça. Ao lado de morenas beiçudas, vestidas de chita, o velho de Lorena aguardava o folião que iria trajá-lo nas ruas. Este ano, segundo Tetê, o Mamãe Taguá estava homenageando a cultura popular e o povo de Brasília. Daí os bonecos serem cidadãos comuns. Os artistas evitaram caracterizar personagens conhecidos. ;O povo não tem rosto;, avaliou Tetê.
Aos bonecos feitos pelos alunos se juntaram pernas de pau e bonecos antigos, com rosto de papel marchê. Quando o Mamãe Taguá desfilou pela primeira vez, em 1994, contava com apenas dois bonecos. ;Nunca tivemos luxo. Só queríamos um lugar para brincar;, resumiu Tetê. O símbolo do bloco é uma mãe, a Mamãe Taguá. ;Nós todos somos filhos da mãe, o que é muito melhor do que ser filho da outra;, brincou a artista.
Aos poucos, Tetê e os antigos organizadores sabem que precisarão passar o bastão para a frente. A sucessão está preparada. ;Já estamos na terceira geração de foliões;, disse Tetê ao lado da filha, Michele, e segurando, orgulhosa, o netinho Vítor no braço. Na rua, com a cabrita cibernética e o bode, símbolo da resistência do povo nordestino, o Mamãe Taguá fez sucesso. Todos paravam admirados para ver o bloco passar. Na praça do DI, já os aguardava com o som do batuque afro o bloco Asé Dudu, comandado pela vigorosa Betinha.