Quem tem o costume de praticar atividades físicas ou simplesmente passear no Eixão nos fins de semana teve uma surpresa na manhã de ontem. Em meio a pedestres e ciclistas, o baticum dos repiques, dos pandeiros e dos tamborins da Aruc, a mais tradicional escola de samba candanga, acompanhado pela corte de Momo e pelas passistas. A apresentação fazia parte da programação do Eixão do Lazer, iniciativa da Administração de Brasília que reúne diversas atrações no último domingo do mês. Nessa edição, a escolha do samba deu ao brasiliense mais uma prévia do carnaval.
A apresentação foi apenas uma amostra do que a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc) fará na avenida (1) este ano. Para comemorar os 50 anos de Brasília, a escola preparou um enredo sobre o misticismo da capital. Abelardo Lopes Filho, vice-presidente da agremiação, sinalizou a importância de participar de eventos gratuitos, como o de ontem. ;Temos, principalmente, uma forte responsabilidade social. Levar a alegria também expressa esse propósito;, explica.
A folia empolgou quem passou pelo local. A pedagoga Janaína Segatto, 22 anos, percebeu a movimentação e resolveu se aproximar, acompanhada pelas primas Julia e Laura, ambas com 6 anos. Tímidas, as garotinhas preferiram somente assistir à evolução dos passistas, enquanto Janaína sonhava com o Rio de Janeiro, onde deve passar o carnaval. ;Gosto muito de samba e ver a Aruc já ajuda a me colocar no clima do Rio;, disse. O auxiliar operacional Jhonatan Souza, 19 anos, aplaudiu a iniciativa. Morador de Taguatinga, ele foi surpreendido pela folia durante uma caminhada no Eixão. ;É justamente disso que Brasília precisa. Precisamos de lazer na rua. Esse batuque desperta a emoção;, reivindicou.
Durante o intervalo da apresentação da escola de samba, entraram em cena professores de dança de salão ; assim, ninguém podia dar a desculpa de não saber dançar para deixar de cair no samba. A servidora pública Rosane Borges, 44 anos, foi uma das que aproveitaram a lição. ;Infelizmente, só soube da apresentação enquanto passava e perdi parte do show;, lamentou. Ao fim da aula aberta, a Aruc voltou a tocar, acompanhada pela bela corte de mulatas e pelo Rei Momo, o gerente administrativo Antônio Jorge Sales, 38 anos. ;Pelo quarto ano, desempenho esse papel especial. Quanto mais próximos estamos do carnaval, mais divertido fica;, disse.
Além do samba, os frequentadores do Eixão puderam contar com apresentações de capoeira, lazer para crianças, trenzinho de bicicletas e sessões de acupuntura e massagem. A próxima edição do programa está marcada para 28 de fevereiro.
1 - Gritos de carnaval
A Aruc fará os últimos ensaios antes do desfile na quinta-feira e no domingo, às 19h. O sambão toma conta da quadra da escola, localizada na Quadra 8 do Cruzeiro Velho. Informações pelo telefone: 3361-1649
Um invisível entre os foliões
Durante todas as apresentações, um rapaz negro, sem camisa e aparentemente dopado permaneceu deitado num acostamento do Eixão. Ele chamou a atenção de diversas pessoas, que se preocupavam com o estado de saúde do rapaz. Apesar de estar bem em frente à concentração do evento, ele foi ignorado pelas equipes que prestavam atendimento ao público com medições de pressão e outros serviços relativos à saúde. O rapaz só foi socorrido por uma ambulância no fim da manhã, depois de alguns chamados insistentes à central de emergências. Acordado, ele contou aos paramédicos que sentia dores decorrentes de uma cirurgia recente. Acabou sendo encaminhado a um hospital. ;Infelizmente, alguns esquecem que os miseráveis são dignos de solidariedade;, disse uma mulher que passava pelo local.