Corriam os anos 1980, a cidade fervia com bandas, punks e malucos belezas. Eram tempos elétricos, em que camisetas de Che Guevara dividiam espaço nas festas com as de Sex Pistols, Joy Division e Clash. Cabeludos e moicanos errantes perambulavam pelo Concerto Cabeças ou pelo Cine Centro São Francisco. Foi nesse cenário que surgiu o maranhense Celso Araújo, jornalista, ator, poeta; De tudo um pouco (muito). Com a banda Akneton, ele lançou mais uma granada na explosiva cena roqueira brasiliense. Diferente de todos, o grupo atraía cada vez mais fãs com uma miscigenação egípcia, cósmica, urbana, silvícola. ;Eu mesmo não sabia a dimensão que aquilo poderia ter;, confessa Celso, sobre as várias vibrações e reverberações daquela década. O líder da Akneton garante que não lamenta o fato de jamais ter lançado um disco, mas uma parte da história da música da cidade certamente ficou sem registro. A seguir, um bate-papo com Celso Araújo:
Como foi que enveredou para o rock? O que te atraiu naqueles anos 1980?
Sempre quis fazer música, compor. Frequentava a turma do Liga Tripa, do Renato Matos; e foi quando decidi compor. Depois fui morar no Rio de Janeiro, em 1980, e tive a oportunidade de assistir a todas as bandas de rock de Brasília, de São Paulo e do Rio que tocaram no Circo Voador. Daí veio o start: eu podia fazer rock. Era minha chance de subir num palco, acabar com a timidez e mostrar minha energia. Nessa época, me encontrei algumas vezes com Renato Russo. Voltei a Brasília decidido a fazer rock. Tinha 30 anos, comecei tarde. O que me fez querer fazer aquilo era a veemência, a força com que esses novos músicos se expressavam, principalmente os vocalistas. Era um estilo quase selvagem, de fúria, de gritar, de ir contra um bocado de coisas naquela época em que o país estava saindo de um regime militar. Me interessava o movimento punk, mas queria usar também o teatro, a poesia nos palcos. Cheguei a gravar um disco que não foi lançado. Ainda me considero um músico desconhecido.
Qual a sua definição para o rock de Brasília daqueles tempos?
O rock brasiliense foi uma quebra de paradigmas, em sua pluralidade, em seus recônditos, em histórias de bandas que nem fizeram história. É uma síntese do rock do mundo; não foi à toa que a cidade ganhou a alcunha de capital do rock, embora seja também a capital do choro, do rap, da bossa (Rosa Passos), da música contemporânea experimental (Guilherme Vaz, Jorge Antunes, Conrado Silva).