O pai, militar, veio para a capital um ano depois da inauguração da cidade. Em 10 de novembro de 1964, a mãe deu à luz a Márcia, a caçula, no Rio de Janeiro, e logo depois voltou para o Distrito Federal.
A família ainda morou durante outro período na capital fluminense e, quando Márcia cursava o 2; ano do ensino médio, desembarcou novamente em Brasília. Foi nessa fase que uma primeira e importante influência surgiu. Veio da professora de química Ana Doca o incentivo para cursar geologia na UnB.
Durante a graduação, que concluiu em 1986, foi a vez de a professora de mineralogia e cristalografia do Instituto de Geociências Maria Adusumilli se tornar referência. Daí, a trajetória passou por diversos episódios de superação. Conciliar família, estudos e trabalho foi um deles. Descobriu que estava grávida de Tomás, hoje com 29 anos, um dia antes da seleção do mestrado e, após o nascimento do primogênito, cogitou dedicar a vida à maternidade.
A mãe, Josephina Abrahão Moura, 80, que nunca trabalhou, foi quem a incentivou a não abrir mão da carreira. ;Eu não seria feliz, nem a minha família seria feliz;, afirma a reitora, casada há mais de 30 anos com Luiz Ferreira da Veiga. Defendeu a dissertação em 1993 e, em 1998, após o nascimento da caçula, Renata, 26, teve a tese de doutorado aprovada.
;Ela é um exemplo na área administrativa e para as geólogas, porque, inicialmente, essa era uma profissão onde predominavam homens. Ainda hoje existe discriminação;, observa Nilson Botelho, orientador de mestrado e doutorado de Márcia, ambos na área da geologia econômica.
Antes de chegar à Reitoria, ela ocupou os cargos de vice e de diretora do Instituto de Geociências e, um dos maiores orgulhos: liderou, como decana de Ensino de Graduação, a expansão da universidade, por meio do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
Ao todo, foram 36 cursos criados nos quatro câmpus ; Darcy Ribeiro, Planaltina, Gama e Ceilândia ; e vários outros com vagas ampliadas.
Raízes
Pouco antes da vida universitária, Márcia integrou o time de vôlei da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). Em uma das competições, conheceu Maria Tereza Walter. Mais tarde, as duas começaram a jogar do mesmo lado da quadra. Entraram para o time da universidade e representaram a capital federal em disputas nacionais. O companheirismo que ali surgiu se estendeu por toda a vida.
;Márcia sempre foi muito muito alegre. Temos aquele tipo de relação que basta um olhar para que uma saiba o que a outra quer dizer;, destaca a amiga.
A experiência com o esporte ajuda até hoje no trabalho em equipe. É de fácil convivência, tem determinação e coragem, conforme relatos de pessoas próximas, e ainda carrega a bandeira de valorização das mulheres. Dos oito decanatos, cinco são geridos por elas. ;Eu sei de tudo que está acontecendo, mas descentralizo demais. Quero que as pessoas que trabalham comigo também se realizem;, garante a reitora.
Bem pertos dos alunos
Até hoje, a reitora e cofundadora do Centro Universitário Iesb colhe os frutos do trabalho que desenvolveu, principalmente com a expansão da instituição de ensino para outras cidades do Distrito Federal. O caminho até aqui, no entanto, não foi curto. Mineira de Bento Brandão, Eda morou em São Paulo antes de se mudar para o Paraná. Ali, aos 17 anos, surgiu a vocação para o ensino. Ela atuou como diretora de um grupo de escolas na zona rural do Paraná e, quatro anos depois, aprofundou as experiências com a educação durante uma viagem à Colômbia.
Em 1966, mudou-se para Brasília. ;Foi amor à primeira vista com a cidade. Senti que podia ser livre, feliz e que continuaria aqui pelo resto da vida. Em nenhum outro lugar tive essa conexão;, recorda-se.
Experiências
Pouco tempo depois de terminar o curso de pedagogia na Universidade de Brasília (UnB), passou a dar aulas na Faculdade de Educação, foi para a Fundação Getulio Vargas (FGV) e, enquanto trabalhava lá, ganhou uma bolsa de mestrado para estudar nos Estados Unidos, onde decidiu ficar até terminar o doutorado. Quando voltasse, teria uma vaga garantida na Universidade de Campinas (Unicamp). Liliane, 60, filha mais velha de Eda, ainda era adolescente e morou com a mãe durante esse período, pois o pai havia morrido.
Dali, Eda passou pela Unicamp, esteve nos Estados Unidos novamente, estudou na Alemanha e voltou para Brasília, em 1977. Apesar das constantes viagens, a previsão de que permaneceria na cidade concretizou-se. Aqui, a família cresceu. Dois anos depois de ter Edson, hoje com 33, o segundo filho, a professora ganhou o primeiro neto da filha primogênita ; hoje tem mais dois. O foco voltou-se às crianças e, mesmo aposentada, Eda manteve uma rotina intensa de trabalho, na década seguinte, com a inauguração do primeiro câmpus do Iesb, na Asa Sul.
Amigo de longa data de Eda, o atual senador Pedro Chaves dos Santos auxiliou na criação da instituição de ensino. ;Todas as viagens dela, e a relação com as universidades nos Estados Unidos, deram a ela um know-how diferente. Ela tem de 7 mil a 8 mil alunos e atende cada um. Ela é a amiga das amigas e sempre foi a nobreza em pessoa;, elogia Pedro.
[VIDEO1]
Você sabia?
Hino da capital criado por uma professora
Há 58 anos, o Hino de Brasília foi composto por uma professora. A pianista carioca Neusa Pinho França Almeida criou cada uma das notas da parte instrumental da música enquanto estava em um ônibus, a caminho da antiga Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Antes de chegar à futura capital, Neusa conseguiu o emprego de professora de música em Brasília, ao ser a primeira colocada em um concurso público para a vaga. A canção composta por Neusa, e com letra do poeta Geir Campos, passou pela avaliação de especialistas e foi oficializada por Jânio Quadros, em 19 de julho de 1961. Neusa morreu em março de 2016, aos 95 anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral.