A complicação é comum em quem sofre de diabetes tipo mellitus e faz com que feridas nos pés dificilmente cicatrizem. Em alguns casos é preciso recorrer à amputação. Em 2007, com financiamento do Ministério da Saúde, a professora, especialista em engenharia biomédica, começou a desenvolver o Rapha e veio com uma solução: um aparelho que associa luzes de led e lâminas de látex. Por ser portátil, o tratamento pode ser feito em casa. ;A Anvisa já autorizou nosso estudo e, a partir do ano que vem, ele deve estar disponível pelo SUS;, comemora Suélia.
A equipe conta com cerca de 80 pessoas, composta por professores e alunos. Entre eles, está a farmacêutica e professora da UnB Talita Souza Carmo, 37, que estuda a combinação de um fármaco associado ao Rapha para aprimorar a regeneração de tecidos. Quando soube do trabalho dela, Suélia não hesitou em fazer o convite. Para Talita a recepção foi uma grata surpresa. ;Ela é extremamente aberta. Ela não tem nenhum problema em receber pessoas dispostas a agregar ao projeto;, descreve.
Brasiliense, Talita interessou-se pela área da saúde desde criança, inspirada pelo pai, que é médico. Na pesquisa, passou a se especializar na área de diabetes, tornando-se doutora em biotecnologia. Quando soube do trabalho de Suélia, quis aliar conhecimentos. Além da área de interesse, as duas compartilham de um otimismo em ver a presença de mulheres buscando a ciência e a pesquisa. ;A gente tem uma presença feminina bem maior do que quando compara há 10 ou 15 anos, com muito mais publicações de artigos e livros feitos por mulheres no Brasil;, pondera.
Inspiração
Suélia é exemplo aos alunos. A professora ministra disciplinas de graduação e pós no campus Gama da UnB para os cursos de engenharia. Nas aulas em roda, busca descontração. ;Minhas aulas têm um conteúdo pesado em termos de cálculos matemáticos e esses meninos já vivem sob constante estresse, então tento fazer aulas mais leves, conversar com eles para que eles saibam que eu estou ali se precisarem;, pondera Suélia, que divide o tempo entre pesquisas, aulas, orientações e família.
Ela comemora o aumento no número de garotas interessadas em engenharia. ;Quando entrei na faculdade, era a única moça no meio de vários homens. Hoje tenho ao menos 10 alunas por turma, e isso é algo muito bom de se ver.; Uma delas é Priscilla Costa de Souza, 21, que está no último semestre de engenharia eletrônica. A jovem conta que assim que entrou na UnB encantou-se com a especialidade de Suélia. ;Meu olho brilhou quando descobri a engenharia biomédica. Não demorou e comecei a participar de projetos de extensão com a professora. Ela é uma inspiração como mulher e como profissional;, elogia. ;Vou ser a primeira engenheira da família e a primeira na área de exatas. Até por influência da Suélia, penso em ir agora para a área acadêmica também;, declara.
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Relação próxima
Na Esplanada dos Ministérios, fica o lugar preferido da goiana que está em Brasília desde 2005, graças ao filho, Mário Rodrigues, 12 anos. Quando ele tinha apenas 2, em um passeio noturno na Praça dos Três Poderes, o menino disse que quando crescer, quer trabalhar no prédio onde fica ;a moça com o olho tampado;. Ele se referia à escultura Justiça, em frente ao STF.
Formando novas cientistas
O Meninas Velozes nasceu em 2013 de uma preocupação em colocar mais mulheres nos cursos de engenharia. Foi feita uma parceria com o Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria e, desde então, cerca de 100 jovens participaram. Nas oficinas, as alunas de graduação são monitoras. Incentivar as adolescentes a cursar o nível superior já é visto como vitória. ;Muitas vezes elas nem pensam nisso, seja por dificuldades familiares, seja por gravidez. Não acreditam que podem, mas a gente mostra o projeto e elas veem que conseguem;, declara Dianne.
A engenheira recorda que quando entrou na faculdade, no início dos anos 1980, viu-se em uma turma de 60 alunos em que só três (5%) eram mulheres. ;Hoje, na engenharia mecânica, cerca de 10% dos estudantes são moças. Os motivos são diversos. Às vezes, pode ser cultural, uma base fraca escolar em matemática e física ou até falta de incentivo de professores;, pondera.
O trabalho que entra no sexto ano tem colhido resultados. Algumas das adolescentes que foram meninas velozes terminaram o ensino médio e são monitoras do programa. Uma delas é Ana Carolina Leandro, 19, que está no segundo semestre de engenharia aeroespacial da UnB. ;Eu nunca tinha pensado em fazer nada em exatas. Cogitei ir para artes cênicas, depois disso, minha cabeça mudou;, comemora.
Aluna de engenharia mecânica, Bárbara Nascimento, 28, alegra-se com a oportunidade de poder participar de um trabalho envolvendo a comunidade. ;A Dianne tornou-se mais do que minha professora, é uma amiga de verdade. Ela interage com os alunos de forma igual, é totalmente aberta e motivadora;, elogia. ;Quando a gente vai para locais onde existe a vulnerabilidade social, vemos como isso afeta na escolha das alunas. Precisamos de quem pense além de si mesmo, porque a corrida para a faculdade é desigual;, conclui.
Rendimento
O trabalho feito no CEM 404 de Santa Maria tem sido elogiado também pelos docentes da instituição. O professor de física Érico Fonseca, 31, a companha as alunas e nota bons resultados tanto nelas quanto nos pais. ;A procura é muito grande e eu acho fantástico esse projeto. O Meninas Velozes dá oportunidade para que elas conversem com professores e conheçam laboratórios da UnB, o que é incrível;, elogia.
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Reconhecimento internacional
Ela se graduou pela UnB e depois rodou o país e o mundo fazendo mestrado, doutorado e pós-doutorado. Passou por São Paulo, República Tcheca e Chile. Em 2015, voltou ao DF como professora e conquistou o carinho e a admiração dos colegas. Professor do Departamento de Matemática da UnB, Giovany Figueiredo, 55, é um deles. ;Aposto muito nela. Você pode até conhecer jovens que tenham carreiras tão promissoras quanto à dela, mas ela chama responsabilidade e protagonismo para si;, elogia.
Infância no Guará
Jaqueline está na Alemanha pesquisando equações diferenciais funcionais com retardamento, importantes para estudar fenômenos como a ingestão de medicamentos. Mas se engana quem acha que ela se esqueceu da terra onde cresceu. Entre os lugares prediletos, está o Guará, onde passou a maior parte da vida. ;Lá tive os momentos mais marcantes da minha infância e juventude. Brasília é parte da minha história e essência. Foi onde conheci as pessoas mais importantes da minha vida, construí fortes vínculos emocionais e tive a base da minha formação pessoal e profissional;, recorda.
O plano é retornar em 2020 e usar os novos conhecimentos na formação dos alunos. Mesmo de longe, ela se faz presente na vida dos orientandos de mestrado e doutorado. Anna Carolina Lafetá, 27, conheceu a professora em 2016 durante um curso. ;Na época, eu estudava teoria dos números, e a especialidade dela é em análise. Quis mudar de área, conversamos, e ela topou me orientar no doutorado;, recorda.
;Ela é muito ativa e está sempre incentivando os alunos a crescer. Faz mil coisas, e a gente fica chocado, mas mesmo sem estar no Brasil, sempre tem tempo de nos orientar e tirar dúvidas;. Além do perfil professora, o lado sociável é mais um motivo para a admiração de quem a conhece. ;Sempre no final do semestre, ela faz uma confraternização com todo mundo para a gente descontrair. Ao contrário de alguns professores, ela não passa medo de mostrar trabalho; ao contrário, é motivante;, declara Anna.