Ela também revela orgulho ao comentar o pioneirismo das mulheres da família na luta por igualdade de gênero no Brasil. ;Acho que, no Legislativo, o maior legado dela(Márcia) foi garantir à mulher o direito de poder herdar ou ser dona de propriedade, independentemente de estado civil;, afirma.
O caderno de aniversário de Brasília deste ano é em homenagem às mulheres da cidade. Qual a importância de dona Sarah nessa questão?
Posso assegurar que, sem Sarah Kubitschek, a quem tenho o prazer de chamar de avó, não haveria Brasília. E não se trata de nenhum exagero. Após participar do célebre comício de Jataí (GO), em 4 de abril de 1955, quando foi questionado pelo eleitor Antônio Soares Neto, o Toniquinho, sobre a construção da nova capital no Planalto Central, JK prometeu cumprir a Constituição. Mas voltou preocupado para casa. De imediato, recebeu dela o apoio que sempre teve e a resposta pragmática: ;Se prometeu, agora vai ter de cumprir;.
Que projetos dela viraram realidade?
As Pioneiras Sociais, o Hospital Sarah e a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, após uma promessa pela cura da minha mãe, Márcia, que tinha um sério problema na coluna. Como a graça foi alcançada, a primeira igreja de Brasília foi dedicada à Virgem e teve o belo projeto de Oscar Niemeyer. E culminou sua trajetória com a obra definitiva para Brasília, o Memorial JK, que conseguiu erguer a muito custo, no fim do regime militar, sem colaboração oficial, exceto a doação do terreno. Sarah Kubitschek foi uma mulher à frente do seu tempo.
A sua mãe, Márcia, participou ativamente da política brasiliense. Qual é o legado dela?
As barreiras que a minha avó quebrava com a sua capacidade de articulação e a sua presença ao lado de JK abriram caminho para que a minha mãe tivesse uma vida de plena dedicação ao povo de Brasília. Os cargos foram muitos... Chefe do Escritório da Embratur, em Nova York; deputada federal na Constituinte, vice-governadora do DF na administração de Joaquim Roriz; secretária de Turismo do Ministério... Foi uma incansável defensora de Brasília e do Brasil. Como constituinte, foi lutadora ferrenha pela autonomia política do DF.
Qual foi a importância dela para a ascensão feminina?
Com outras 24 deputadas, a minha mãe apresentou um pacote de 34 emendas coletivas que visavam à igualdade de direitos e deveres entre o homem e a mulher. Acho que, no Legislativo, o maior legado dela foi garantir à mulher o direito de poder herdar ou ser dona de propriedade, independentemente de estado civil. No GDF, esteve ao lado de Roriz na política habitacional que levou moradia aos pobres. E foi, também, a primeira mulher a ser governadora do DF, mesmo que de forma interina. Um legado invejável, feminino e feminista.
Qual é a sua grande missão, além de preservar essa memória?
Comecei a vida pública muito cedo ,ao assumir a superintendência regional da Legião Brasileira de Assistência (LBA) no DF. Já era casada, mas ainda não tinha filhos. E comecei a seguir os passos de minha mãe e minha avó, cuidando do povo de Brasília. Tive Felipe e André enquanto estava no cargo e, quando saí, havia um legado expressivo para a capital. Depois de ver os meninos tornarem-se mais independentes, dediquei-me ao trabalho de guardiã da memória de JK. Mas nós sabemos que ser mulher nunca é missão simples. São múltiplas jornadas. Tenho pai vivo, meus filhos, meu marido, Paulo Octávio, minhas irmãs a quem amo, mas preciso estar focada na minha missão maior, que é defender o legado de JK.
Como foi a convivência com JK?
Tive muita proximidade com meu avô nos 10 primeiros anos de minha vida até a sua morte trágica. Mesmo com muitas memórias claras dele como um maravilhoso avô, o que me interessa hoje é defender incondicionalmente seu legado de progresso e liberdade, personificado na construção de Brasília.
O que Brasília representa para a senhora?
Brasília é o ar que respiro, o céu que me abençoa e me dá a energia para continuar trabalhando.