;Brasília é uma obra digna dos tempos romanos.;
(Giovanni Gronghi, Presidente da Itália, 1959)
Sem medo de errar, podemos afirmar que a decisão corajosa de três homens patriotas foi decisiva para que se concretizasse o sonho secular: marechal José Pessoa, governador José Ludovico de Almeida e Juscelino Kubitschek.
José Pessoa, em abril 1955, não se conformando com a decisão do presidente Café Filho, que se negou a declarar de utilidade pública a área escolhida para o futuro Distrito Federal, decidiu viajar a Goiás e apelar para o governador José Ludovico, no qual encontrou o apoio indispensável à medida, que possibilitou ao presidente Kubitschek cumprir o dispositivo constitucional que determinava a transferência da capital para o Planalto Central.
Sancionada a Lei n; 2.874 em 19 de setembro de 1956, já no dia 24 eram nomeados os dirigentes da Novacap, responsáveis pela construção da cidade: Israel Pinheiro da Silva, presidente, e Ernesto Silva, Bernardo Sayão e Íris Meinberg, diretores.
Daí em diante, os pioneiros da grande epopéia se lançaram à mais arrojada obra de que o Brasil tem notícia. Foram mil dias de ininterrupto e obstinado trabalho, sem descanso de uma só hora. A preocupação dominante de todos, sem exceção, constituiu em dedicar um esforço sem limite para entregar a cidade em condições de ser inaugurada a 21 de abril de 1960. Para atingir esse objetivo, era imprescindível que trabalhássemos como se cada hora fosse a última hora concebida e a madrugada viesse iluminar o dia festivo da inauguração. Finalmente, a 21 de abril de 1960, perante milhares de turistas, do Corpo Diplomático, dos heróicos construtores da cidade, Brasília se transformou na capital do Brasil.
Durante a missa campal, o cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, legado pontifício, invocou o nome de Deus e saudou a nova capital:
;Continua a História do Brasil. Como na hora de seu nascimento e perante o mesmo crucifixo de ferro que serviu na Missa da Descoberta, renova-se o Santo Sacrifício da Redenção ; principio do homem novo e do mundo novo ;, ao inaugurar Brasília, a nova capital do Brasil do futuro. E eu pergunto a mim se isto não significará um novo nascimento;.
Após a missa, o cardeal Cerejeira deu a bênção papal à nova capital; a seguir, diretamente da Rádio do Vaticano, fez-se ouvir a saudação de Sua Santidade, o papa João XXIII, ao povo brasileiro:
;Brasília há de constituir um marco milionário da História já gloriosa das terras de Santa Cruz, abrindo novos horizontes de amor, de esperança e progresso entre suas gentes que, unidas na mesma fé, se tornarão aptas aos maiores cometimentos;.
Durante a tarde de 20 de abril, às 16 horas, o presidente da República recebia a chave da cidade das mãos de Israel Pinheiro, que se dirige ao presidente:
;Hoje, à meia-noite, Brasília será a capital da República. Neste momento, os soldados dessa grande e dura peleja aqui se encontram reunidos para entregar ao seu comandante a chave da cidade de Brasília. Aqui estamos, todos os que porfiaram na dura batalha: os candangos, os funcionários, os técnicos, os diretores, os conselheiros e todos aqueles que cooperaram na construção da capital. Batalha de cuja crueza e de cujos sofrimentos surgiu essa nova força propulsora, de imponderável significação ; o Espírito de Brasília, revigorador da nossa fé, do nosso entusiasmo, da nossa confiança;.
;Amanhã, 21 de abril, frente ao Palácio da Alvorada, clarins festivos vibrarão a alvorada.
;É o Brasil que amanhece;.
Responde o presidente Juscelino Kubitschek:
;Brasília só pode estar aí, como a vemos, e já deixando entender o que será amanhã, porque a fé em Deus e no Brasil nos sustentou a todos nós, a esta família aqui reunida, a vós todos, candangos, a que me orgulho de pertencer. Reconheço e proclamo, neste momento, que sois a expressão da força propulsora do Brasil. Ninguém vos subtrairá a glória de terdes lutado nesta tremenda batalha.
;A irmanação de quantos aqui trabalharam lembra a construção das catedrais da Idade Média, quando artistas anônimos, mestres, aprendizes se animavam pela fé em Deus, em cuja honra se levantavam esses poemas arquitetônicos.
;Os que duvidaram desta vitória; os que procuraram impedir a ação; os que desmandaram em palavras contra esta cidade, desconheciam que o impulso, o ânimo, a fé que nos sustentavam eram mais fortes que os desejos de obstrução que os instigavam, do que a visão estreita que não lhes permitia alcançar além das ruas citadinas em que transitam.
;Mas deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da História os que não compreenderam e não amaram esta obra;.
Ao completar seu 49; aniversário, Brasília entusiasma os que a visitam, Brasília acolhe e afaga os que nela vivem.
Hoje, crescendo a população desmedidamente, descaracterizado o Plano Urbanístico de Lúcio Costa em todas as ESCALAS, pergunto: qual será o destino desta cidade ;edificada no entusiasmo e na precipitação, uma das maiores epopéias da História dos homens;?
*Ernesto Silva é médico, pioneiro e trabalhou na equipe de Juscelino Kubitschek
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