;É preciso fazer ajustes para que a criança ou o adolescente encontre equilíbrio. Se existe uma pessoa que não pode sofrer dentro da escola é o aluno. O planejamento é fundamental para que o estudante perceba que naquele colégio ele está seguro, e que essa instituição vai primar pela sua evolução. Se a escola não tiver um cronograma à altura do aluno e que não atenda às suas necessidades, isso é um problema;, analisa a professora do curso de pedagogia do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Adjanira Borges.
Segundo a professora, é importante que os pais também participem do processo. Educar, para Adjanira, não é uma obrigação exclusiva das escolas. ;A responsabilidade é igual para os dois lados. A criança tem de se sentir acolhida principalmente pelos pais, que, diante de um novo desafio, devem ser o seu porto seguro. São eles que devem passar confiança;, explica.
O apoio é indispensável especialmente para os mais pequenos. Para a professora, as crianças que deixam o ensino infantil precisam de uma preparação tanto na escola quanto em casa para que o seu momento seja respeitado. ;Nos anos iniciais do ensino fundamental, as responsabilidades mudam. É nesse momento que todos devem trabalhar para que a integração do aluno a esse novo ambiente se dê da melhor maneira possível. O que foi trabalhado na educação infantil não pode ser esquecido de imediato;, analisa Adjanira.
No Colégio Claretiano, em Taguatinga, a troca entre as etapas de ensino é supervisionada por praticamente todo o corpo de funcionários, sobretudo por coordenadoras pedagógicas, como Maria Alice de Camargo, responsável pela coordenação do ensino infantil. Para preparar os alunos à mudança, o trabalho é iniciado ainda nos últimos meses do ciclo dos pequenos na etapa inicial da educação básica.
;A professora do 1; ano do ensino fundamental faz visitas aos alunos da pré-escola 2 e até dá algumas aulas, para que eles já se sintam habituados. Além disso, o tempo de intervalo também muda, e passa a ser o mesmo da série na qual eles estarão no ano seguinte;, conta Maria Alice. Por outro lado, quando as crianças já estão, de fato, na primeira fase do ensino fundamental, são mantidas algumas particularidades do ano anterior.
;Alguns processos, como a leitura compartilhada e as brincadeiras, não são retiradas de imediato. Isso é feito aos poucos, para que eles se adaptem ao ritmo do 1; ano do ensino fundamental;, conta a coordenadora. ;A gente ainda precisa dessa ludicidade, até para que as crianças não percam aquela sensação de cuidado que existe no ensino infantil. A partir desse olhar, elas vão se sentindo mais ambientadas e veem que o ensino fundamental não é nenhum bicho-papão;, completa Maria Alice.
Etapas seguintes
Para os alunos mais velhos, a transição não é menos importante. Coordenadora do ensino fundamental, Maria José Passos conta que a mudança das séries iniciais do ensino fundamental (1; ao 5; ano) para as séries finais (6; ao 9; ano) também é feita entre o fim de um ano letivo e o início de outro. ;O estilo de prova e projetos aplicados no 6; ano já é feito no 5; ano. Os estudantes também vão se adaptando a uma quantidade maior de professores. Mas claro que tudo é feito considerando a maturidade e a vivência dos alunos;, detalha.
Mesmo assim, o primeiro trimestre do 6; ano costuma ser adverso para boa parte dos estudantes. Para resolver a questão, o colégio oferece um serviço de orientação educacional e ainda comunica a família do aluno em dificuldade. Assim, o desempenho tende a ser positivo nos trimestres seguintes. ;Não há uma turma homogênea, portanto, as dificuldades sempre vão existir. Mas logo eles amadurecem, entram no ritmo e seguem o processo normal;, garante Maria José.
O mesmo acontece aos alunos que terminam o ensino fundamental. Aos 15 anos, a estudante Luísa Araújo, já no 1; ano do ensino médio, sabe bem o que transitar entre cada um dos ciclos da vida escolar, e a ajuda na transição oferecida pela escola foi crucial para que ela se adaptasse neste ano.
;Do 9; ano do ensino fundamental para o 1; ano do médio, os professores são os mesmos. Isso faz com que os alunos tenham uma confiança maior. No entanto, o modo como o conteúdo é cobrado é diferente, assim como as provas. Por causa disso, meu rendimento no primeiro trimestre ficou abaixo do esperado. Tive até medo de ficar com recuperação, assim como alguns colegas. Mas conversamos com o diretor da escola e ele nos deu todo o suporte necessário quanto a essa questão de adaptação. Isso nos deixou mais tranquilos;, comenta.
Para facilitar o contato entre alunos e professores, o colégio disponibiliza uma plataforma on-line para que os estudantes tenham acesso a conteúdos e exercícios, e possam tirar dúvidas sobre determinados assuntos. Segundo Luísa, isso também contribuiu para que a passagem pelo ensino médio fosse menos traumática.
;Toda a turma se juntou para aproveitar ao máximo essa ferramenta. Isso fez com que a gente tirasse dúvidas até entre nós mesmos. Hoje, já estamos muito mais adaptados. Com a turma unida e a escola preocupada em nos ajudar, temos mais confiança;, analisa a estudante.
"Alguns processos, como a leitura compartilhada e as brincadeiras, não são retirados de imediato. Isso é feito aos poucos, para que eles se adaptem ao ritmo do 1; ano do ensino fundamental"
Maria Alice de Camargo, coordenadora do ensino infantil
"Os estudantes vão se adaptando a uma quantidade maior de professores. Tudo é feito considerando a maturidade e vivência dos alunos"
Maria José Passos, coordenadora do ensino fundamental