As regras para o estudante do 2; ano Luca Lima, 16 anos, são claras: celular, só quando o professor autorizar e nos intervalos, entre uma aula e outra. O aparelho que muitas vezes foi considerado o vilão em sala, hoje tem conquistado um papel positivo. ;A gente tem um grande número de informações no celular que nós podemos acessar a qualquer momento e usar isso a nosso favor. A gente usa o aparelho para fazer algumas atividades e para ter contato direto com o professor fora da sala de aula, por meio de mensagens;, conta o estudante.
Especialista em educação física escolar e membro do Laboratório de Estudos do Lazer (LEL), Tiago Aquino destaca que as redes e as mídias sociais trouxeram a aceleração do conhecimento e da troca de informação, o que é visto com bons olhos, no âmbito da educação. ;A gente não pode negar a tecnologia. Isso seria um retrocesso, mas a escola deve utilizá-la como meio de aprendizagem, sem deixar de fornecer o lado orgânico;, orienta.
Na Escola Americana Brasileira, o uso de celular é proibido em sala de aula, mas tablets têm sido usados como ferramenta de aprendizagem nas classes de crianças menores. ;Aplicativos para séries inferiores geralmente possuem uma estrutura de jogo, onde alunos são desafiados a identificar determinadas palavras ou objetos, formar números e letras corretamente, realizar cálculos simples, entre outros;, afirma Brian Sullivan, diretor de tecnologia na instituição de ensino.
Luca estuda no Centro Educacional Leonardo da Vinci. A instituição buscou incluir a tecnologia nas aulas. O coordenador disciplinar Fábio Paiva afirma que, além do uso de aplicativos e quizzes, a escola fez uma parceria com o Google Sala de Aula, uma plataforma que ajuda alunos e professores a organizarem as tarefas e facilita a comunicação entre eles. ;A ideia é construir com os alunos uma autonomia, para que eles tenham disciplina e saibam o momento certo de usar o celular;, pondera.
Paiva ressalta que, apesar de a instituição ter incluído o uso do celular nas aulas, a atividade é feita sob supervisão e o uso do aparelho é permitido apenas para fins pedagógicos. Luca diz que respeita a regra e que a tecnologia jamais terá mais força que o contato pessoal. ;É claro que o lado humano é muito importante e não pode ser substituído. A gente tem que trabalhar juntos porque a máquina nunca vai substituir o professor;, enfatiza o estudante.
Supervisão
Para evitar que o uso do celular prejudique o aprendizado, a supervisão dos pais e da escola é fundamental. O bombeiro militar Lauro Lúcio Castelo Branco, 45, fica de olho na relação do filho, Miguel Castelo Branco, 15, com o smartphone. ;Ele é orientado a não usar em sala de aula, sem a autorização do professor. Na escola, nunca atrapalhou, mas em casa é complicado. Eles (crianças e jovens) não têm controle. A gente tem que ficar o tempo todo vigiando;, comenta.
Miguel estuda na rede pública de ensino do Distrito Federal e garante que, em sala, ele só usa o celular quando o professor autoriza. O estudante conta que alguns docentes liberam o uso do aparelho para escutar música no fone de ouvido, enquanto os alunos copiam o conteúdo do quadro, ou para fazer pesquisas, mas, na hora da explicação, a norma é guardar o celular. ;Estamos na era da tecnologia. Se a gente souber usar com responsabilidade, isso ajuda muito no nosso aprendizado. Se a gente não souber separar a vida social da estudantil, isso pode atrapalhar, reflete o estudante.
Tiago Aquino alerta que, se os pais e os professores não controlarem o uso do celular, isso pode se tornar um grande problema. ;As crianças já nascem com as redes sociais como uma prioridade e isso se torna negativo quando eu não tenho educação para usar o celular. A gente tem que saber o que nós queremos transmitir e para quem, além de ter consciência do tempo em que passamos na rede e se esse tempo está sendo produtivo ou não;, alerta.
O especialista ressalta que o celular tem, sim, seu lado positivo e que tem muito a contribuir com a aprendizagem, desde que não seja usado sem limites e passando dos objetivos pedagógicos.
"Não se pode negar a tecnologia. Isso seria um retrocesso, mas a escola deve utilizá-la como meio de aprendizagem, sem deixar de fornecer o lado orgânico"
Tiago Aquino, professor