Economia

Inadimplência pode voltar ao nível de 2016, diz Banco do Brasil

O banco acredita que a inadimplência pode voltar a crescer após o fim dos programas que permitiram a prorrogação de parcelas durante a pandemia

O Banco do Brasil (BB) acredita que a taxa de inadimplência brasileira só não subiu durante a pandemia do novo coronavírus por conta da prorrogação das parcelas que venceriam na quarentena. Porém, teme uma explosão da taxa de inadimplência após o fim dessas prorrogações. Por isso, acredita que a inadimplência pode saltar dos atuais 2,9% para perto de 7% até o início de 2021.

"Nossa projeção é de que a inadimplência deve atingir o ponto máximo entre o quarto trimestre deste ano e o primeiro trimestre do ano que vem. Com a prorrogação de parcelas, muito da inadimplência foi represado. Por isso, só deve se apresentar no último trimestre", explicou o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos, Carlos Bonetti, na apresentação dos resultados financeiros do banco, nesta quinta-feira (06/08).

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No início da pandemia do novo coronavírus, o Banco Central (BC) permitiu que os bancos brasileiros postergassem por até seis meses a cobrança dos financiamentos bancários que venceriam na quarentena sem elevar seu nível de provisões. A medida tenta dar um fôlego aos consumidores que foram afetados financeiramente pela covid-19. E, só no Banco do Brasil, permitiu a prorrogação de R$ 71 bilhões em parcelas.

Com isso, milhões de consumidores deixaram para pagar seus financiamentos bancários mais para o fim do ano e a inadimplência até caiu durante a pandemia. Segundo o BC, a taxa de inadimplência da carteira de crédito brasileira era de 3,2% em março, no início da pandemia. E só avançou até 3,3% em abril. Depois, voltou a cair, tanto que fechou o mês de junho em 2,9%. A taxa é menor até que a observada no início do ano, 3%, e é ainda mais baixa no BB: 2,84%.

O BB, contudo, acredita que essa taxa ainda pode chegar perto de 7% até o primeiro trimestre de 2021, assim como aconteceu após a crise de 2015. "Na melhor projeção, a inadimplência chegaria em patamares semelhantes ao que vimos em 2016", alertou Bonetti.

Ele lembrou, contudo, que a alta da inadimplência vai variar conforme o tipo de crédito. "Vai ter comportamentos diferentes a depender do perfil de cada carteira. Deve ser maior nos clientes que têm crédito não consignado. E não vemos grande pressão na carteira rural, que os produtores vêm colhendo boas safras", analisou. Pela composição da sua carteira, o BB acredita, portanto, que estará em uma situação "confortável" quando a inadimplência voltar a subir no Brasil. 

"Na nossa carteira, há um peso grande da agricultura, que está indo muito bem, obrigado. Também temos muitos empréstimos para o setor público, que geralmente têm garantia da União e um risco baixíssimo. E temos um peso muito grande das pessoas físicas, principalmente de gente do setor público. E os empregados do setor público não estão sofrendo como estão sofrendo os demais habitantes do país e do planeta, porque são mais protegidos do desemprego e da queda de salário. Então, somos beneficiados também", alfinetou o presidente do BB, Rubem Novaes, que está de saída do banco.

Novaes ainda lembrou que, mesmo assim, o BB já se antecipou a possíveis perdas e elevou as suas provisões, até de "maneira conservadora". durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo o balanço financeiro do banco, apresentado nesta quinta-feira, as provisões subiram 42,4% no segundo trimestre deste ano, chegando a R$ 5,9 bilhões. Com isso, o BB alcançou um índice de cobertura de 223,5% da inadimplência de 90 dias. "Temos mais que o dobro de provisões do que de inadimplência. O banco está sólido", garantiu Novaes, na apresentação do seu último resultado financeiro à frente do BB.