Economia

Taxa de desemprego sobe a 13,3% no trimestre até junho, diz IBGE

O resultado representa alta 6,9% em relação ao mesmo período do ano anterior

Com os efeitos da pandemia pelo novo coronavírus, o segundo trimestre de 2020 encerra com taxa de desemprego de 13,3%, quantidade recorde de desalentados e o menor número de pessoas com carteira assinada da série histórica, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE.

Mesmo com o número de pessoas ocupadas tendo também registrado queda recorde de 9,6% entre de abril a junho, com menos 8,9 milhões de ocupados, a taxa de desocupação subiu 1,1 ponto percentual frente ao trimestre encerrado em março (janeiro a março) de 2020, quando ficou em 12,2%.

O número de desocupados ficou estável em 12,8 milhões, em relação ao mesmo período de 2019. A população ocupada (83,3 milhões de pessoas) chegou ao menor nível da série histórica iniciada em 2012, com redução de 9,6% (8,9 milhões de pessoas a menos) em relação ao trimestre anterior e de 10,7% no confronto com o mesmo trimestre de 2019 (10,0 milhões de pessoas a menos).

Ambas as quedas foram, mais uma vez, recordes da série, informa o IBGE. Essa aparente contradição entre queda entre os desocupados e a taxa de desemprego é explicada pela analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

O motivo foi, destaca Adriana, a queda na força de trabalho, que é a soma das pessoas ocupadas e desocupadas. “Essa taxa é fruto de um percentual de desocupados dentro da força de trabalho. Então como a força de trabalho sofreu uma queda recorde de 8,5% em função da redução no número de ocupados, a taxa cresce percentualmente mesmo diante da estabilidade da população desocupada”, explica.

Segundo a pesquisa do IBGE, a população fora da força de trabalho (77,8 milhões de pessoas) é o maior contingente da série: subiu 15,6% (mais 10,5 milhões de pessoas) em relação março e aumentou em 20,1% (mais 13 milhões) frente a igual trimestre de 2019.

Todos os setores de atividade tiveram impacto negativo, mas o comércio foi o mais afetado, com perde 2,1 milhões de empregos, ou 12,3% das vagas, no trimestre encerrado em junho, em relação ao anterior. Em seguida, a construção teve uma redução de 16,6%, ou menos 1,1 milhão de trabalhadores, no período.

Outra perda considerável foi na categoria de serviços domésticos, em que os ocupados foram reduzidos em 21,1% frente ao trimestre encerrado em março. São 1,3 milhão de pessoas a menos nesse grupamento de atividades. A categoria alojamento e alimentação também teve perda de 1,3 milhão de empregados (-25,2%).

Desalentados

O grupo de pessoas que não buscaram trabalho, mas que gostariam e estavam disponíveis para trabalhar, chegou a 5,7 milhões de pessoas, maior contingente da série histórica, desde 2012, de acordo com o IBGE. Em relação ao último trimestre, houve um acréscimo de 19,1%, o que representa 913 mil pessoas a mais nessa situação.

O estudo aponta que, nesse segundo trimestre, 5,2 milhões de pessoas entraram na força de trabalho potencial, que soma as pessoas em idade de trabalhar que não estavam nem ocupadas nem desocupadas, mas que tinham potencial para estarem na força de trabalho. Agora esse grupo soma 13,5 milhões de pessoas.

“É um crescimento recorde tanto na comparação trimestral quanto na anual. Há um aumento da força potencial de pessoas que apesar de não estarem procurando trabalho, elas até gostariam e quando a gente observa internamente as razões por essa não procura por trabalho, um grande contingente alega motivos ligados à pandemia”, afirma Adriana Beringuy. Chamou também atenção, afirma ela, a queda nos postos de trabalho de pessoas com carteira assinada, também no menor patamar da série histórica

A categoria dos empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada foi estimada em 8,6 milhões de pessoas, uma queda de 2,4 milhões em relação ao último trimestre. Já contingente de trabalhadores por conta própria teve uma queda de 10,3% e agora chega a 21,7 milhões de pessoas.

São menos 2,5 milhões de pessoas nessa categoria. Isso porque, com a pandemia, o número de informais, sem CNPJ, despencou. “Da queda de 8,9 milhões da população ocupada, 6 milhões eram de ocupados informais, ou seja, a queda na informalidade ainda responde por 68% da queda da ocupação”, explica a analista da pesquisa.

O setor privado dispensou 2,9 milhões de trabalhadores (-8,9%) com carteira assinada. Agora o grupo soma 30,2 milhões de pessoas empregadas. “Isso faz com que a gente chegue ao menor contingente de trabalhador com carteira assinada na série histórica e mostra que essa queda na ocupação está bem disseminada por todas as formas de inserção, seja o trabalhador formalizado, seja o não formalizado”, analisa ela. Em consequência, a massa de rendimento tem retração de R$ 12 bilhões, aponta o IBGE.

O rendimento médio habitual aumentou 4,6% no trimestre encerrado em junho, chegando a R$ 2.500, o maior desde o início da série histórica. Já a massa de rendimento real teve redução de 5,6%, ou seja, uma perda de R$ 12 bilhões. “No segundo trimestre, com uma redução importante da população ocupada, a maior parte dessa redução vem dos trabalhadores informais, que são os de menor rendimento. Isso faz com que a média do rendimento acabe aumentando. Com relação à massa de rendimento, por mais que o rendimento médio aumente, sempre acaba pesando mais essa redução bastante forte da população ocupada”, reforça Adriana.