Com uma população de 3,05 milhões de habitantes, o Distrito Federal tem 28,5% dos profissionais em trabalho remoto. Não por acaso, Brasília ganhou o título de capital do home office, afirma o pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O principal motivo é o alto nível de escolaridade da população: 20,8% dos moradores têm nível superior completo, taxa bem maior do que a nacional, de 14,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta remuneração também tem forte influência nesse cenário de trabalho remoto. Em 2018, de acordo com a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o salário médio na capital era de 5,5 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 45,5%.
“Esses dados são importantes, porque, quanto mais escolarizados, mais condições têm os empregados de ficar no teletrabalho. E as profissões de nível superior são as que mais se adequam”, destacou o pesquisador. “Temos que considerar, ainda, que 70% da economia do DF é do setor de serviços. Por isso, mais gente pode manter as atividades em casa. Observe que o percentual do teletrabalho no DF é superior aos de São Paulo e Rio de Janeiro, que têm mais indústrias, por exemplo”.
A grande dúvida é o que vai acontecer a curto prazo, destaca Balassiano. “Cerca de 60% da população do país vai sair mais pobre da pandemia”, lembrou o pesquisador. E Brasília, apesar dos mais abastados, tem também altos índices de desigualdade. Em 2018, o cientista político Lúcio Rennó, então presidente da Codeplan, já avisava que o DF registrava desigualdade maior do que o resto do país e da região Centro-Oeste. O Índice de Gini — medida de desigualdade que varia de 0 (o ideal) a 1 (pior grau) — era de 0,602, em comparação a 0,549 no país e a 0,536 no centro-Oeste.
Cautela
O trabalho em casa está regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde a década de 1940. “Mas nem todo teletrabalho é home office. Somente é ‘tele’ quando intermediado pela internet”, observa Eduardo Pragmácio Filho, do escritório Furtado Pragmácio Advogados. A prática tem vantagens e desvantagens, como a liberdade para produzir tarefas, mas, por outro lado, causa efeitos psicológicos desgastantes, afirmou Pragmácio. Em 2017, a reforma trabalhista dedicou vários capítulos à regulamentação do teletrabalho.
E é preciso que patrões e empregados negociem os detalhes. “As normas sobre quem vai arcar com as despesas —de água, luz, telefone, equipamentos tecnológicos, entre outras —, têm que estar estabelecidas em contrato. O acordo tem que prever, inclusive, o risco ergonômico, ou seja, os problemas da postura inadequada. Nesse momento de pandemia, o teletrabalho acabou sendo compulsório. Mas as empresas devem tomar cuidado para não correr riscos de futuros passivos”, destaca Pragmácio.
Funcionária de uma empresa de TI, Gabriela Sartori, 26 anos, é formada em gestão da tecnologia da informação, mora em Ceilândia e está aproveitando o home office para melhorar o currículo e ficar com a filha, de 6 anos. “Eu perdia três horas do meu dia só no transporte, sem contar a hora do almoço. Com a quarentena, consigo dormir mais, passo mais tempo com a minha filha e ainda tenho feito alguns cursos”, disse.
A empresa na qual Gabriela trabalha tem mais de 25 mil funcionários. “Em alguns contratos, estão pedindo o retorno ao presencial. Vários profissionais voltaram. Mas faço parte do time interno e o retorno ainda não foi pedido”, contou. Ela relata que já estão sendo feitas, inclusive, novas contratações no modelo de teletrabalho.