A Petrobras registrou prejuízo de R$ 2,7 bilhões no segundo trimestre de 2020, conforme balanço financeiro divulgado ontem. No ano passado, a estatal teve lucro de R$ 18,8 bilhões no mesmo período. No primeiro trimestre deste ano, no entanto, a perda havia sido de R$ 48,5 bilhões. Em 2020, a companhia acumula resultado negativo de R$ 51,2 bilhões ante lucro de R$ 22,9 bilhões no mesmo período do ano passado.
O resultado foi melhor do que o projetado pelo mercado. Os bancos esperavam que a estatal mostrasse prejuízo entre R$ 8,5 bilhões a R$ 23 bilhões, sendo esta última estimativa do Credit Suisse. Segundo a Petrobras, o prejuízo só não foi maior porque a companhia teve ganho de R$ 10,9 bilhões referentes à exclusão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da base de cálculo do PIS/Cofins entre outubro de 2001 e junho de 2020. Por conta da decisão favorável da Justiça Federal, a petroleira terá R$ 16,9 bilhões a receber do governo federal.
“Nossa capacidade de reação e nossa estratégia têm se mostrado eficazes no enfrentamento da crise e da recessão global. Seguiremos trabalhando e tomando as decisões necessárias para tornar a Petrobras uma empresa ainda mais resiliente e geradora de valor”, comentou a diretora Executiva Financeira e de Relacionamento com Investidores, Andrea Almeida.
Além disso, a empresa informou que não houve novas baixas contábeis, como no primeiro trimestre deste ano. “Excluindo esses fatores, o resultado teria sido pior, devido aos impactos da covid-19 em nossas operações, com reflexo nos preços, margens e volumes”, disse Andrea. O lucro também foi afetado, porque as despesas com vendas subiram 14% devido à desvalorização cambial e aos maiores custos logísticos.
“Mesmo em um cenário desafiador como o segundo trimestre de 2020, a Petrobras conseguiu apresentar sólidos resultados em função de decisões ágeis tomadas logo no início da crise. A companhia fechou o trimestre com Ebitda (lucro antes de impostos, juros e depreciação) recorrente de US$ 3,4 bilhões e fluxo de caixa livre de US$ 3,0 bilhões. Os números mostram que, mesmo com redução de 42% no preço do barril de petróleo e queda na demanda interna por derivados no período, a companhia seguiu firme em sua operação e com caixa para garantir sua liquidez”, informou a estatal, em relatório.
O documento destacou que o resultado líquido da companhia reflete, também, o impacto das indenizações a funcionários por conta dos programas de desligamento voluntário (PDVs), do Programa de Aposentadoria Incentivada (PAI) e do resultado financeiro, com prejuízo líquido recorrente de US$ 2,5 bilhões. “Nesse cenário desafiador, a Petrobras conseguiu fechar o trimestre com uma dívida bruta de US$ 91,2 bilhões, um aumento de apenas US$ 2 bilhões em relação ao trimestre anterior.”
Para especialistas, o controle do endividamento foi um dos pontos positivos do balanço. “A primeira impressão dos resultados é negativa, uma vez que receitas, Ebitda ajustado recorrente e lucro líquido recorrente vieram abaixo das expectativas”, avaliou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. “Todavia, o controle do endividamento realça a capacidade de gestão da companhia e pode abrandar a recepção dos números por parte do mercado.”
O equacionamento da dívida, segundo a companhia, foi importante para reforçar o caixa e garantir liquidez para enfrentar o momento de maior volatilidade. “A partir do segundo semestre, a companhia já começa o pré-pagamento de linhas de crédito rotativas para que o caixa se aproxime aos patamares pré-crise. No último dia 27, por exemplo, realizou o pré-pagamento de US$ 3,5 bilhões, do total de US$ 8 bilhões das linhas de crédito compromissadas.”
TCU não vê problema em venda de ativos
O Tribunal de Contas da União (TCU) deu parecer favorável à venda de refinarias pela Petrobras, que que está sendo questionada pelo Congresso no Supremo Tribunal Federal (STF), após manifestação do senador Jean-Paul Prates (PT-RN). Segundo o relator do casso no TCU, Walton Alencar Rodrigues, “a comparação entre os montantes envolvidos nas negociações de refino, da ordem de R$ 68 bilhões, e os montantes do ativo total e imobilizado da Petrobras, em 31/12/2019, da ordem de R$ 1,1 trilhão e R$$ 663 bilhões, respectivamente, não permite qualquer sugestão de que a empresa esteja se valendo da criação de subsidiárias para desmembrar seu ativo e promover sua privatização ao arrepio da lei”. A matéria foi encaminhada ao colegiado do órgão e poderá ser considerada pelo STF para respaldar sua decisão.