Economia

Obstáculos à sucessão no BB

Executivos do mercado financeiro recusam convite para assumir presidência do Banco do Brasil. Ex-presidente do HSBC, Conrado Engel, ganha força nas apostas

 
Altos executivos do setor privado têm resistido ao convite do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente Jair Bolsonaro, para assumirem a presidência do Banco do Brasil, no lugar de Rubens Novaes, que renunciou ao cargo. Para além do “baixo salário” de R$ 68,8 mil — que pode até dobrar com parte da renda variável — as recusas têm causas “mais profundas”, segundo fontes ouvidas pelo Correio.

“Ninguém quer, obviamente, baixar tremendamente o que ganha. Mas, às vezes, vale a pena assumir um cargo desse, que melhora o currículo de qualquer um. No entanto, dá para fazer pouco em uma conjuntura na qual é preciso lidar com brigas de egos e quedas de braço constantes entre Executivo, Legislativo e Judiciário”, disse um executivo.

Conrado Engel, ex-presidente do HSBC e ex-vice-presidente do conselho de administração do Santander, ganhou força nas apostas. O nome dele está sendo analisado pela Casa Civil, que está fazendo uma varredura na vida do executivo. Ele conversou com Guedes, mas ainda faltam acertar detalhes e, principalmente, aval de Bolsonaro.

Segundo as fontes, Guedes quer correr com a nomeação. Quanto mais demorar a escolha do substituto de Rubens Novaes, maior o risco de ter que ceder à gula do Centrão, que já indicou ao Palácio do Planalto que ficaria muito satisfeito com a presidência do BB. A voracidade do bloco, mesmo com a anunciada saída do MDB e do DEM, continua enorme.

Mateus Bandeira, ex-candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo partido Novo e alinhado a Bolsonaro, também teria sido contatado pela equipe de Guedes. Entre os candidatos que não aceitaram o convite estariam o diretor de estratégia digital do BV, antigo Banco Votorantim, Guilherme Horn, e o CEO e fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo.

Caso Guedes não consiga convencer os homens de mercado, continuam sendo cogitados os vice-presidentes do BB Walter Malieni (Negócios de Atacado), Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo (Gestão Financeira e Relação com Investidores) e Mauro Ribeiro Neto (Corporativo).

Ontem, Rubem Novaes despachou, normalmente, em Brasília, e participou da reunião semanal do Conselho de Administração do BB, demonstrando a satisfação de quem se livra de “um fardo”. Deixou claro que, apesar de sua renúncia ter surpreendido a maioria dos funcionários, nunca teve pretensão de ficar os quatro anos de governo Bolsonaro no comando do BB.

Anabb pede investigação
A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb) solicitou formalmente ao  Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue a venda da carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões para o banco BTG Pactual. A operação foi fechada no início de julho por R$ 371 milhões, valor considerado muito baixo por funcionários e sindicatos de empregados da instituição.  Em ofício encaminhado ao tribunal, o presidente da Anabb, Reinaldo Fujimoto, questiona o fato de o negócio ter sido feito sem um leilão, como seria normal nesses casos, e pede que seja apurado eventual prejuízo aos acionistas.