Correio Braziliense
postado em 28/07/2020 06:00
Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para 4 e 5 de agosto, que deve definir novo patamar para a taxa básica de juros, diretores do BC não param de realizar videoconferências com agentes financeiros e operadores do mercado.
O volume de lives chamando a atenção. Ontem, o diretor de Política Monetária, Bruno Serra, e o de Política Econômica, Fábio Kanczuk, áreas que costumam interagir com o mercado, tiveram reuniões virtuais com investidores. Na sexta-feira passada, apenas Kanczuk realizou quatro lives com o mercado financeiro.
As conversas são constantes, inclusive, com diretores de áreas técnicas, que são não interlocutores habituais dos agentes financeiros. Essa frequência elevada de falas da diretoria colegiada tem ajudado a aumentar a volatilidade da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e do câmbio, na contramão do que um órgão regulador deve fazer, segundo analistas.
O período de silêncio dos diretores do BC começa sempre na quarta-feira da semana anterior ao Copom e termina no dia de divulgação da ata da reunião, na terça-feira seguinte. A assessoria do órgão não comentou sobre o excesso de lives da diretoria.
Devido às últimas declarações de diretores, as previsões para a taxa básica da economia (Selic) estão convergindo apenas para um corte residual de 0,25 ponto percentual, o que resultaria no novo piso histórico de 2% ao ano. A dúvida é se o ciclo de cortes será fechado ou ainda haverá uma janela aberta para outras reduções.
O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), defende que a diretoria fale o menos possível. “O Bacen devia se resguardar. Ele precisa ser mais prudente, já que as informações sobre taxas de juros e câmbio mexem com todos os ativos”, afirmou. Ele lembrou que o Banco Central Europeu (BCE) e o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) têm evitado falas constantes como as do BC brasileiro.
“Esse excesso de falas deixa a impressão de que o BC baixou os juros desnecessariamente e, agora, não quer ou não pode subir, o que será um problema”, comentou o economista e ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas. Na avaliação dele, a Selic já está muito baixa e existe uma desconfiança de que há uma bolha na Bolsa.
A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, também considerou excessivo o número de falas dos diretores do BC brasileiro. “Nesse período de crise, devido ao aumento da volatilidade, os diretores do Fed têm falado menos e unificado o discurso. Aqui, ocorre o contrário. Estão falando demais e assumindo que há divisão entre a diretoria, o que tem aumentando a volatilidade”, comparou.
“A situação é muito incerta, mas, como não há uma coesão no discurso, a comunicação do BC está confusa”, lamentou. Assim como Gomes, ela aposta em um corte na Selic de 0,25 ponto percentual na semana que vem.
De acordo com o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio, os diretores do BC tentam buscar massa crítica para medir o termômetro do mercado, mas o excesso de otimismo da equipe econômica e dos operadores da Bolsa preocupa.
“O Copom não incluiu no balanço de riscos uma segunda onda de contaminação da covid-19, mas o Brasil corre o risco de entrar nela sem ter saído da primeira. E, se isso vier, vai ser um desastre, com forte aumento do desemprego. Não é possível encontrar lastro em tanto otimismo”, alertou.
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