O economista Rubem Novaes caiu da presidência do Banco do Brasil (BB). Segundo comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários, ele renunciou ao cargo, conforme pedido encaminhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao presidente Jair Bolsonaro. Ele ficará na função até agosto.
A nota encaminhada à Comissão de Valkores Mobiliários (CVM) diz que Novaes decidiu renunciar “entendendo que a companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”. No entanto, a insatisfação do Palácio do Planalto com Novaes era visível. Apesar de ter sido alertado pelo presidente da República de que não era o momento para se falar sobre a privatização do BB, o executivo insistia no assunto, criando constrangimentos para o governo junto à base aliada e entre os militares, que são contra a venda da instituição.
Fontes próximas ao ministro Paulo Guedes informaram que o pedido de renúncia foi feito “há um mês”. E que Novaes deverá ser assessor especial do ministro, “ajudando o time do Rio de Janeiro”.
Outro motivo de desgaste de Novaes foi a disputa com o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Bolsonaro passou a comparar as ações dos dois bancos e começou a exercer forte pressão sobre Novaes por resultados, que, segundo o Palácio do Planalto, nunca foram entregues.
A gota d’água para a queda de Novaes foi a briga que ele comprou com o Tribunal de Contas da União (TCU). Nesta semana, ele apresentou à Corte um agravo pedindo que fosse revista a proibição de o BB anunciar em sites que são acusados de disseminarem notícias falsas.
A suspensão da publicidade do Banco do Brasil em sites de fake news foi tomada pelo ministro Bruno Dantas, que já vinha aventando a possibilidade de rever sua decisão, depois de uma longa negociação com o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Dantas, no entanto, ficou irritadíssimo com a ação encabeçada por Novaes, que alardeava que a determinação do TCU era inaceitável e que estava causando sérios prejuízos ao banco. Tudo o que o Planalto não quer, neste momento, é briga com o TCU ou qualquer braço do Judiciário.
Novaes, que também é atacado pelos funcionários do banco, dizia que a privatização não era só um desejo dele, mas, também, do ministro Paulo Guedes, que, na fatídica reunião de 22 de abril deste ano, disse que a instituição estava pronta para ser vendida. Guedes foi repelido por Bolsonaro.
A expectativa é grande sobre o nome do sucessor de Rubem Novaes. Entre os cogitados, estão o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e os vice-presidentes do BB: Carlos Hamilton (Gestão Financeira e Relação com Investidores), Walter Malieni (Negócios de Atacado) e Carlos Motta (Varejo). Nada impede, porém, que Guedes, em acordo com Bolsonaro, leve para o BB alguém do mercado.
Críticas
Além de desagradar o presidente Jair Bolsonaro, Novaes vinha sendo criticado também pelos funcionários do banco por defender sistematicamente a privatização da instituição. Em artigo encaminhado ao Correio, o presidente da Associação dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), Reinaldo Fujimoto, disse “poucas vezes se viu tamanha falta de liturgia no cargo como no atual comando” da casa.“Causa apreensão a investida verbal do comando da empresa contra o Tribunal de Contas da União e as decisões tomadas relativas à publicidade do BB na internet, com indícios de investimentos em veículos inadequados. E mais: sem a devida transparência e prestação de contas”, acrescenta Fujimoto.
O presidente da Anabb acusa Novaes de querer “desmontar, desfazer e rejeitar o que dá certo”. “Graças ao trabalho de seus funcionários, o BB gera excelente retorno para os acionistas. Sem considerar recolhimento de impostos, o Banco do Brasil alimentou o caixa da União com quase R$ 51 bilhões nos últimos 13 anos”, afirmou.
“Causa apreensão a investida verbal do comando da empresa contra o Tribunal de Contas da União e as decisões tomadas relativas à publicidade do BB na internet, com indícios de investimentos em veículos inadequados”
Reinaldo Fujimoto, Presidente da Associação dos funcionários do BB (Anabb).