Economia

'Não existe juros baixos com fiscal desorganizado', alerta Banco Central

Presidente do BC avisou que o mercado já está de olho no impacto das medidas que serão tomadas pelo governo brasileiro após a pandemia de covid-19

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avisou nesta quinta-feira (16/07) que não será possível manter os juros baixos caso a situação fiscal do país continue se agravando ao longo do próximo ano. Ele pediu, então que o ajuste fiscal volte a ser prioridade após a pandemia de covid-19.

"Não existe um país com juros baixos e inflação baixa com o fiscal desorganizado. Então, se o fiscal for para um rumo de desorganização, nós não vamos conviver com os juros baixos que estamos convivendo hoje. Independente do tipo de crise que exista, o fiscal é crucial", alertou o presidente do BC, em live com o mercado financeiro.

Ele lembrou que o país estava fazendo um ajuste fiscal quando foi atingido pela pandemia do novo coronavírus e teve que trocar essas medidas de austeridade fiscal por medidas emergenciais de enfrentamento à covid-19 - medidas que demandam gastos e, por isso, ampliaram o déficit e o endividamento público. Mas disse que o mercado entende "esse desvio", apesar de já estar de olho no que vai vir depois do novo coronavírus em termos fiscais.

"O importante é mostrar que o desvio é temporário. Existe uma ansiedade grande sobre qual é o plano de saída do Brasil", avisou Campos Neto. Ele sugeriu, então, que as políticas públicas que virão depois da pandemia devem se adequar ao teto de gastos, que "é simbólico na cabeça dos investidores". 

A defesa do teto também tem sido constante na equipe econômica, que tem insistido que medidas como o auxílio emergencial são temporárias. E, por isso, está estudando formas de amparar os trabalhadores informais sem descumprir o teto em 2021. Por conta disso, Campos Neto se disse confiante de que o "governo vai deixar claro para os investidores que vai voltar à trajetória inicial e vai perseguir a disciplina fiscal".

Ele admitiu, contudo, que a saída dessa crise não deve ser tão harmoniosa quanto a construção de políticas como o auxílio emergencial. Afinal, a decisão sobre quais gastos serão realizados depois da pandemia vai envolver interesses políticos, como já mostrou a briga interna do governo em relação ao Plano Pró-Brasil.

"O que preocupa é que eu vejo uma facilidade de se organizar para gerar programas fiscais e de incentivo, mas acho que a saída não será tão organizada. Vai ser mais brigada. Vai gerar um clima entre a vontade do Executivo de diminuir, em geral, não só no Brasil, e a vontade dos políticos de continuar", observou Campos Neto.

Copom

Apesar de todas essas ponderações, Roberto Campos Neto reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve se debruçar sobre os dados da atividade econômica atual na sua próxima reunião. O Copom volta a se reunir em agosto para avaliar o rumo da taxa básica de juros (Selic). E o presidente do BC já admitiu que o Comitê está dividido entre manter a Selic nos atuais 2,25% ao ano ou fazer um novo ajuste residual, provavelmente reduzindo a taxa básica de juros para 2% ao ano.

O presidente do BC explicou que os dados de consumo mostraram uma recuperação mais rápida do que o esperado e que o consumo deve continuar sob estímulo nos próximos meses devido ao auxílio emergencial. E isso vai rebater na inflação, que é a meta do Copom. Por isso, Campos Neto acredita que avaliar a intensidade desse consumo será fundamental na decisão sobre a taxa básica de juros. "As próximas duas ou três semanas vão ser mais importantes do que o passado recente", avisou.