O governo está convencido de que a economia vai se recuperara da recessão provocada pela covid-19 mais rapidamente do que o mercado espera. Por conta disso, prevê uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 menor do que o projetado pelos especialistas e organismos internacionais.
Conforme dado do Boletim Macro Fiscal, divulgado ontem pelo Ministério da Economia, a projeção de queda de 4,7% do PIB, feita em maio, não foi alterada. A projeção de expansão de 3,2% para 2021 também foi mantida. O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, demonstrou otimismo com a retomada da economia porque os indicadores antecedentes estão vindo melhor do que o esperado. Ele ainda afirmou que, daqui para a frente, o mercado deve reduzir as estimativas de queda do PIB.
“Abril foi o fundo do poço e, agora, há um movimento de recuperação (da atividade)”, afirmou. Ele citou, como exemplo, a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que, após registrar um tombo de 20% em maio na comparação com o mesmo período do ano passado, vem ganhando fôlego. No relatório da pasta, o auxílio emergencial de R$ 600 para os trabalhadores informais vem ajudando no processo.
Enquanto isso, a mediana das estimativas do mercado para o PIB de 2020 computada pelo boletim Focus, do Banco Central, prevê retração de 6,1%. Na semana passada, a previsão de queda era de 6,54%. Essas projeções, no entanto, são mais otimistas do que as de organismos multilaterais. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, por exemplo, preveem retração de 9,1% e de 8%, respectivamente, do PIB brasileiro deste ano.
Na avaliação de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ainda é cedo para o governo ser tão otimista nas projeções do PIB, porque os dados de contágio pela covid-19, no Brasil e nos Estados Unidos, maior economia do mundo, não param de crescer. “Já estamos no terceiro trimestre do ano e isso deve significar que ainda teremos forte queda de PIB no ano como um todo. Estamos prevendo recuo de 6,4%, o que é melhor do que a baixa de 7,8% que esperávamos antes. Mas ainda não dá para dizer que o segundo semestre será bom, longe disso”, avaliou.
Christopher Garman, diretor para América do Eurasia Group, reconhece que há muita discrepância entre as previsões dos organismos internacionais e do governo. “Os economistas estrangeiros estão muito mais pessimistas com o Brasil do que o governo, e até mesmo do que os economistas brasileiros. Pode ser que estejam exagerando um pouco, porque a mediana do Focus está em 6% de queda”, disse. “Eu tenho confiado mais nas previsões locais, mas o curioso é que Banco Mundial e FMI sempre foram muito mais conservadores do que o governo nas suas previsões. Acredito que eles estão mais cautelosos em relação ao Brasil”, destacou.
Contudo, Garman admitiu que as notícias sobre como o governo Bolsonaro está enfrentando a covid-19 não são positivas e isso tem influenciado nas avaliações dos estrangeiros. “É possível, também, que eles tenham subestimado o impacto do pacote de socorro do governo na economia.”
Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina, lembrou que os dados positivos do varejo e da indústria em maio causaram certo otimismo no mercado nos últimos dias. Porém, disse que esses dados não são tão fortes a ponto de justificar a manutenção da projeção do governo de queda de 4,7%.