Economia

Arrecadação de direitos autorais de músicas cai 50% durante pandemia

Dado é informado por Isabel Amorim, superintendente executiva do Ecad, em entrevista ao Correio

Assim como ocorreu em todos os setores da economia, o serviço de arrecadação de direitos autorais no Brasil foi fortemente afetado pela pandemia de covid-19. Ao intermediar a relação entre compositores, intérpretes, editores e produtores fonográficos e os canais e espaços públicos que tocam música, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) assegura o sustento de milhares de aristas brasileiros, mediante o recolhimento de direitos autorais anualmente. Em 2019, o Ecad distribuiu R$ 986,5 milhões para 383 mil compositores, artistas e demais titulares, além das associações. Porém a pandemia provocou uma queda de 50% nos meses de abril a junho e agora julho, segundo Isabel Amorim, superintendente executiva do escritório. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Correio.

 

Qual foi o impacto da pandemia?

Grande parte da arrecadação, entre 40% e 50%, equivale a segmentos como clientes gerais (bares, restaurantes, estabelecimentos comerciais), além de shows e eventos. Para se ter uma ideia, nós estamos voltando para a mesma média de 2015 e 2016. É muita coisa, para nós e para os músicos. O Ecad fez um previsão de que a arrecadação anual, feita em nome de compositores e artistas no Brasil, poderia sofrer uma queda entre R$ 330 milhões e R$ 340 milhões. Para o ano de 2020, antes da pandemia do coronavírus, a expectativa de arrecadação de direitos autorais para os compositores e artistas era de R$ 1,17 bilhão. Mas, diante do quadro atual, o valor referente a todo o ano pode girar em torno de R$ 830 milhões a R$ 840 milhões. O que mais assusta são os shows, pois o Ecad licenciava mais ou menos 6.600 apresentações ao vivo por mês.
 

Como a pandemia afetou bares, hotéis e restaurantes?

Como boa parte desses estabelecimentos teve de fechar as portas em meados de março, vários shows foram cancelados. A arrecadação no país caiu 50% nos meses de abril, maio, junho e agora julho. Estamos falando de um dos segmentos que mais sofreram durante a pandemia. 

Como o Ecad reagiu?

Tomamos várias medidas. A primeira delas foi ter certeza de que nossos funcionários estariam em segurança, que poderiam trabalhar de casa em home office. Até porque precisamos continuar trabalhando para arrecadar e distribuir. Com apoio da gestão coletiva da música no Brasil, composta pelas associações Abramus, Amar, Assim, Sbacem, Sicam, Socinpro, UBC e o Ecad que aprovou em março um plano emergencial para apoiar financeiramente compositores e demais artistas de todo o país. Conseguimos trabalhar de forma muito ágil, mas para isso foi necessário tornar a equipe mais eficiente. E não estamos falando de um milagre. Os músicos não vão receber pelos shows que poderiam estar acontecendo. Isso vai refletir em toda a arrecadação e receitas dos músicos do próximo semestre.
 

O fenômeno das lives pelas redes sociais deu um alento para a classe artística? Oferece novas oportunidades?

Penso que foi mais uma necessidade das pessoas se comunicarem, de ter uma atividade, entretenimento. Todos tiveram que se reinventar para se ocupar durante o isolamento, e, obviamente, também pensando como um negócio. As lives já existiam, do ponto de vista tecnológico. Não é nada novo no modelo de entretenimento e negócios. Mas quando aconteceu toda a situação da pandemia, o volume de lives se tornou exponencial. Certamente algumas empresas viram como oportunidade. Mas 6.600 shows por mês não são substituídos por lives.

Por quê?

Quando começou essa história das lives, descobrimos que ter audiência não necessariamente traz receita. O faturamento vem, basicamente, de publicidade. Quando esse mercado cai, a renda também é interrompida. Acredito que esse aumento no ramo das apresentações on-line foi acelerado pela covid-19, mas o modelo de negócio e a previsão de ganho para os artistas ainda são questionáveis.

Qual a expectativa para o segundo semestre?

Quando comecei como superintendente executiva do Ecad, em novembro de 2019, naturalmente não esperava por isso (covid-19). Em março, quando estourou a pandemia, eu estava— e ainda estou — aprendendo, mas só tinha três meses de casa. Os primeiros três meses da pandemia serviram para arrumar a casa. Agora o momento é de entender o mercado, planejar e ter em mente de que, cada vez mais, o digital será importante no direito autoral.
 

Qual foi o desempenho do Ecad em 2019?

O Ecad existe para impulsionar a música como arte e como negócio. Em 2019, distribuímos R$ 986,5 milhões para 383 mil compositores, artistas e demais titulares, além das associações. Está presente no país inteiro, aliando gestão eficiente e tecnologia para unir as diferentes partes de uma complexa cadeia produtiva.
 

Por que o Ecad é importante?

O Ecad tem  um dos maiores bancos de dados referentes à música da América Latina. São 12 milhões de obras musicais, 8 milhões de fonogramas, 178 mil obras visuais, 586 mil espaços e canais que utilizam música, como hotéis, academias, emissoras de tv e rádio, hospitais, restaurantes, entre outros.

*Estágiaria sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza