Pernambucana de Olinda, ela formou-se em engenharia química porque pensava em seguir carreira na área de petróleo e gás, forte na região. Amava carros porque, quando criança, adorava passear com o pai nos diferentes modelos que ele dirigia pertencentes à locadora onde trabalhava.
"Me lembro de cada detalhe do dia em que meu pai comprou seu primeiro carro zero-quilômetro - um Fiat Uno de quatro portas -, em 1996", contou ela ontem, num intervalo das várias reuniões que teve para discutir projetos na nova função. "Perdi meu pai muito cedo e acho que passei a gostar de automóveis por causa dessas lembranças."
Quando soube que Pernambuco teria uma fábrica de automóveis em Goiana, região cercada por canaviais, se interessou pelo assunto Dois anos antes da inauguração, o Polo Automotivo Jeep, como foi chamado, abriu inscrições para trainee e Juliana, alertada pela avó, enviou currículo e entrou para o grupo de 40 selecionados, dos quais 10 a 15 eram mulheres.
Primeiro emprego
Era seu primeiro emprego. Fez cursos no Brasil, passou quatro meses na Itália e na Sérvia conhecendo os métodos de produção das fábricas da Fiat. "Acompanhei todo o processo de nascimento de uma fábrica: a construção, a chegada de equipamentos e robôs, a estruturação de cada setor, o início da produção e a seleção de pessoas, muitas delas cortadores de cana e catadores de caranguejo que conseguiram o primeiro emprego formal", diz Juliana.
A fábrica foi inaugurada em 2015 e hoje produz os utilitários-esportivos Renegade e Compass, da Jeep, e a picape Fiat Toro.
Inicialmente, ela foi trabalhar no setor de pintura, o mais ligado à área química. Era a única mulher e destacou-se pelo conhecimento técnico e habilidade em liderar equipes e logo conquistou o posto de gerente. Três anos e meio depois assumiu a gerência da área de montagem de veículos. Num setor tradicionalmente dominado por homens, seguiu conquistando espaço
Há 1,5 ano foi convidada para dirigir a área responsável por novos desenvolvimentos na manufatura das fábricas do Brasil e da Argentina. Foi então transferida para a fábrica de Betim (MG), e agora retorna a Pernambuco para substituir o engenheiro italiano Pierluigi Astorino, de 38 anos, que vai assumir o cargo de diretor de manufatura do grupo na América Latina.
Com sete anos de FCA, tem como missão dar continuidade ao trabalho de aperfeiçoar a produção da Jeep, que em breve receberá novos produtos. Ela assume a unidade de Goiana em plena pandemia do coronavírus, com produção reduzida e ociosidade diante das previsões de queda de 40% nas vendas de carros no mercado brasileiro neste ano. "É um desafio ainda maior pois sabemos que não vamos fazer o que projetamos no início do ano, mas também vemos oportunidades para a retomada, principalmente em 2021", afirma Juliana.
Como única mulher no momento a ocupar esse cargo no Brasil, ela diz encarar a tarefa com "muita humildade e abertura para continuar aprendendo todos os dias, buscando sempre o desenvolvimento da região, das pessoas e a qualidade do nosso produto final, que é o que atrai nossos consumidores."
Mulheres no comando. Pelo menos outras duas montadoras tiveram mulheres no comando de fábricas no Brasil. A General Motors teve Sonia Campos como diretora da unidade de São Caetano do Sul (SP) de 2011 a 2015, e a PSA Peugeot Citroën teve Ana Isabel Fernandes dirigindo a fábrica de Porto Real (RJ) de 2012 a 2014
Saiba Mais
A PSA é a única montadora que tem uma mulher como presidente atualmente, Ana Theresa Borsari, no cargo desde 2015.
Levantamento feito pela agência Automotive Business mostra que a presença feminina na alta gestão das empresas do setor automotivo (montadoras e autopeças) é de apenas 6%. Na média gestão (gerência) é de 12%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.