O juiz federal William Douglas acredita que o país deverá ter mais concursos públicos com uma eventual melhora da economia. Ele, que é considerado um guru quando o tema é concurso, e o maior autor de best-sellers sobre o assunto, vê com otimismo a possibilidade de novas contratações no setor público. A afirmação foi feita em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília. Ele também comentou sobre a estabilidade de cargos públicos e defendeu a exoneração de funcionários improdutivos para garantir a boa qualidade dos serviços prestados à sociedade.
Há a sensação de que o serviço público brasileiro é ruim. Muitas pessoas desejam ser servidores, mas por que, quando conseguem chegar lá, prestam serviços tão ruins?
Existe gente que vai só pelo dinheiro. Muitos não são treinados, orientados, não existe um investimento no material humano. Sou juiz na 4ª Vara Federal de Niterói (RJ), e lá a gente investe no ser humano, deixamos claro o papel do servidor, a importância do trabalho. Se isso acontece, o funcionário rende.
O fato de ter estabilidade faz com que as pessoas se acomodem quando chegam aos cargos públicos?
Sim. Acho que a gente tem estabilidade demais, é uma luta tirar a “maçã podre”. Tem alguns cargos que têm que ter estabilidade. Um juiz para decidir contra poderosos, policiais, precisa ter. Existem carreiras típicas de Estado que devem ter proteção. Só que existem funções em que poderiam ter mais flexibilidade ou, pelo menos, ser mais simples de mandar embora em caso de corrupção, preguiça ou incompetência.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que os servidores são parasitas. O que o sr. acha disso?
Eu conheço o Paulo Guedes há muito tempo. É alguém que quer o melhor para o país, mas tem a linha dele, baseada no liberalismo da Escola de Chicago. Quando fez essa declaração, conversei com ele e falei das exceções. Voltou atrás e pediu desculpas. Quando fala que tem parasita, nós, servidores públicos, sabemos que tem. É comum uma pessoa chegar num balcão e ficar vendo dois, três funcionários batendo papo enquanto ela está em pé e ainda a atendem de cara feia. Essas pessoas são parasitas, sim.
O sr. acha que voltaremos a ter concursos em um futuro próximo?
Do jeito que estão as contas públicas, não há dinheiro para pagar. Mas eu acredito que a gente vai ter muito concurso. A economia vai voltar a crescer e vai ter dinheiro.
A MP de contratação de temporários caducou. O governo sinalizou que vai encaminhar um projeto de lei sobre isso. Como o sr. vê essa questão de trabalhadores temporários?
Em algumas funções, em situações emergenciais, faz sentido um temporário. Por exemplo, a gente teve uma quantidade muito grande de aposentadorias no INSS. Em uma situação como esta, de pandemia, pode-se contratar temporariamente. Agora, eu sei que uma preocupação do Paulo Guedes é a corrupção, e o temporário está muito mais suscetível a isso. Não gosto do temporário, gosto do servidor de carreira, que tem investimento, ele rende mais.
Estudo do Banco Mundial mostrou que o servidor público brasileiro ganha em média 97% a mais do que trabalhadores do setor privado na mesma função. O servidor ganha muito?
O servidor é bem-remunerado, na média. O problema desse país não é o servidor que ganha muito, é a iniciativa privada que está pagando pouco. Para enfrentar um traficante tomando tiro de fuzil, o sujeito tem que ganhar bem. Para educar crianças, tem que ganhar bem. Vamos pagar bem, até para disputar o sujeito com a iniciativa privada.
* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
CB.Saúde
» Nesta quinta-feira, o entrevistado do programa CB.Saúde será Gustavo Fernandes, diretor do Hospital Sírio-Libanês em Brasília. A entrevista será transmitida ao vivo na TV Brasília às 13h20.