A crise econômica causada pelo novo coronavírus já destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho formais e informais no Brasil. Com isso, elevou para 12,9% a taxa de desemprego no país e provocou uma situação inédita no mercado de trabalho: pela primeira vez na história, mais da metade da força de trabalho brasileira ficou sem trabalhar.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Pnad avaliou exatamente os três meses mais intensos da pandemia no país —março, abril e maio. E revelou que, nesse período, 5,8 milhões de trabalhadores informais ficaram sem condições de trabalho e mais 2 milhões de empregados formais perderam as vagas por conta das medidas de distanciamento social impostas pela pandemia.
Esse movimento provocou um recuo recorde de 8,3% da população ocupada. E a taxa de ocupação despencou de 54,5%, no trimestre encerrado em fevereiro, para 49,5% no trimestre encerrado em maio. “Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, o nível da ocupação ficou abaixo de 50%. Isso significa que menos da metade da população em idade de trabalhar está trabalhando. É uma redução inédita na pesquisa e atinge principalmente os trabalhadores informais”, destacou a analista da Pnad, Adriana Beringuy.
Segundo o IBGE, além de provocar uma redução de 7,5% do número de trabalhadores com carteira de trabalho, essa situação derrubou a taxa de informalidade brasileira de 40,6% para 37,6%. Este também é o menor nível da séria histórica do IBGE, segundo Adriana. Ela lembrou que a redução da informalidade "não necessariamente é um bom sinal". "Significa que essas pessoas estão perdendo ocupação e não estão se inserindo em outro emprego. Estão ficando fora da força de trabalho”, explicou.
A estudante Aline Moreira, de 21 anos, sabe bem disso. Ela foi demitida da editora em que trabalhava há um ano com carteira assinada depois da pandemia ter derrubado a venda de revistas. E aí precisou recorrer aos pais para se sustentar. Só que tanto a mãe, quanto o pai de Aline são informais e também acabaram sem renda durante a crise. Por isso, toda a família precisou fazer cortes de gastos e aprender a viver com o estritamente necessário. "Minha mãe trabalha com uma loja de roupa e meu pai com uma loja de material de construção. Meu pai conseguiu voltar a trabalhar agora em junho, porém minha ainda está com a loja fechada devido ao isolamento", conta Aline.
Segundo o IBGE, por conta de situações como essa, a massa de rendimento gerada pelo mercado de trabalho brasileiro perdeu R$ 11 bilhões no trimestre encerrado em maio.
Apesar disso, a taxa de desemprego não explodiu nos três primeiros meses de pandemia. Ela avançou de 11,6% para 12,9%, mas deve subir bastante nos próximos meses. Segundo especialistas, muitos dos trabalhadores que ficaram sem trabalho ainda não começaram a buscar uma vaga, devido às medidas de distanciamento social. (Marina Barbosa e Fernanda Strickland*)
*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo