Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 17:06
Por causa da recessão e das despesas associadas ao enfrentamento da pandemia de covid-19, tanto na saúde quanto na manutenção de renda, a dívida bruta do governo geral fechará 2020 em 93,7% do Produto Interno Bruto (PIB) ante os 75,8% do fechamento de 2019, estima o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Em sessão sobre a "visão geral da conjuntura", publicada na Carta de Conjuntura do Ipea, os pesquisadores defendem a retomada da agenda de reformas em prol da consolidação fiscal após o controle da pandemia e alertam para o achatamento do espaço para gastos de custeio e investimentos.
Mesmo com a manutenção do teto de gastos e com a percepção, por parte dos agentes econômicos, do compromisso do governo com a disciplina fiscal, a dívida bruta teria seu crescimento estabilizado, em termos de proporção do PIB, num patamar elevado Nas projeções do Ipea, a dívida chegaria a 104,1% do PIB em 2036.
A elevação da dívida em 2020 se dará com um déficit primário (saldo entre despesas e receitas, sem considerar os gastos com juros da dívida) de cerca de 10% do PIB, ante o déficit de 1,3% registrado em 2019.
O aprofundamento do rombo nas contas públicas virá tanto por meio do aumento de gastos - nas contas do Ipea, o governo gastará R$ 404,2 bilhões com medidas emergências contra a pandemia, mas o valor poderá ficar R$ 100 bilhões maior, com a prorrogação das medidas por dois ou três meses - quanto por meio da queda nas receitas. A retração de 6,0% do PIB em 2020, como projetada pelo Ipea, deverá subtrair R$ 120 bilhões da arrecadação inicialmente prevista no Orçamento da União.
Para os pesquisadores do Ipea, a retirada dos gastos emergenciais não bastará para melhorar o quadro fiscal. No mundo pós-pandemia, o País estará com a dívida mais elevada e com arrecadação menor, tendo em vista a fraqueza da atividade econômica. Assim, "o esforço fiscal que vinha sendo realizado" até a economia nacional ser atingida em cheio pela covid-19 terá que ser "reforçado, visando reafirmar o compromisso com o equilíbrio das contas públicas e com uma trajetória sustentável para a dívida pública".
Um dos motivos para retomar o trabalho de equilíbrio das contas públicas, com novas reformas, é o achatamento do "espaço fiscal" - definido pelos pesquisadores como "a diferença entre o teto e o total das despesas obrigatórias (sujeitas ao teto)" de cada ano - nos próximos anos. A equipe do Ipea fez essas contas até 2023, quando o valor projetado para o "espaço fiscal" será 36% menor do que o total das despesas discricionárias previstas para 2020. Ou seja, para cumprir o teto de gastos em 2023, o governo precisará cortar os gastos com custeio e investimentos nessa magnitude.
Nas contas do Ipea, o "espaço fiscal" cai pouco em 2021, para R$ 111,4 bilhões, ante a previsão de despesas discricionárias de R$ 114,4 bilhões este ano. Em 2022, o "espaço fiscal" cairia para R$ 93,6 bilhões e, em 2023, chegaria a R$ 73 bilhões, sempre em valores reais.
"Isso implica dificuldades cada vez maiores para a execução de despesas relativas a custeio e investimento, colocando em risco o funcionamento da máquina pública e a continuidade de diversas políticas sociais, e reforça a necessidade de novas medidas voltadas para a contenção das despesas obrigatórias", diz um trecho do texto publicado nesta terça-feira, 30.
Saiba Mais
Assumir mais esses gastos, sem cortes equivalentes em outras despesas, poderia levar o valor reservado para o custeio da máquina pública e os investimentos públicos a níveis "insustentáveis". Já o abandono do compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade da dívida poderia levar a uma nova crise fiscal.
"Na ausência de medidas efetivas que disciplinem o crescimento dos gastos públicos, a possível percepção de insustentabilidade da dívida pública poderia gerar um ciclo vicioso, no qual aumentos da taxa de juros, do déficit nominal e da dívida se reforçariam mutuamente, tornando cada vez mais difícil o ajuste das contas públicas e conduzindo a economia a um equilíbrio instável de baixo crescimento", diz o texto dos pesquisadores do Ipea.
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