Correio Braziliense
postado em 19/06/2020 06:00
A possibilidade de fazer pagamentos e transferências bancárias por meio do WhatsApp despertou a curiosidade de muitos brasileiros. Porém, também chamou a atenção dos bancos e dos órgãos reguladores do sistema financeiro nacional. O receio é de que, por conta da sua popularidade e facilidade, o WhatsApp abocanhe grande parte do mercado de pagamentos digitais, reduzindo a concorrência do setor e atrapalhando os planos de digitalização dos bancos brasileiros e até do Banco Central (BC).
O recurso de pagamentos do WhatsApp, batizado de Facebook Pay, foi lançado nesta semana. Por enquanto, é uma exclusividade dos usuários brasileiros do aplicativo de mensagens instantâneas, que não são poucos. O WhatsApp tem 120 milhões de usuários no Brasil e calcula que 51 milhões podem aderir ao sistema num primeiro momento.
A empresa tem uma base de clientes potenciais muito maior do que o cadastro de qualquer banco brasileiro, e ainda indicou que tem planos para ampliar as possibilidades de transação financeira.
Os bancos trabalham há anos em aplicativos digitais e o Banco Central vai lançar, neste ano, o sistema de pagamentos instantâneos, o PIX. Segundo fontes do mercado, o BC e o Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) enviaram pedido de informações ao WhatsApp e ao Facebook, que é o dono do aplicativo de mensagens.
O Cade informou que “está atento ao assunto”. O BC afirmou que o sistema tem “grande potencial de sua integração ao PIX”. Entretanto, o BC considera prematura qualquer iniciativa que possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos. O BC vai ser vigilante a qualquer desenvolvimento fechado ou que tenha componentes que inibam a interoperabilidade e limite seu objetivo de ter um sistema rápido, seguro, transparente, aberto e barato”, ressaltou.
O WhatsApp informou que espera trabalhar junto ao BC no PIX. “Queremos que os pagamentos alcancem todos os usuários do WhatsApp no Brasil e achamos que o PIX será uma ótima maneira de ajudar a expandir a cobertura para todos”, ressaltou a empresa.
O assunto divide especialistas. O CEO da Matera, Carlos Netto, acredita que “isso tudo acaba impulsionando ainda mais o PIX, pois os grandes bancos verão, nele, uma forma de não perder a base de clientes”. Já o sociólogo e economista-político Edemilson Paraná acredita que há motivos para temer a redução da concorrência no setor de pagamentos digitais.
“É uma preocupação vista em vários lugares do mundo, por conta da ampla base de penetração do Facebook e do WhatsApp. Não à toa, esse serviço começou no Brasil. A empresa encontrou dificuldades em vários países e apostou no Brasil porque aqui o mercado é grande e porque o governo atual parece ser mais liberal quanto a isso”, avaliou.
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