Terminou nesta terça-feira (9/6) o leilão de biodiesel realizado para o bimestre de julho e agosto, com preços mais altos do que os praticados no último certame, feito em abril para abastecimento em maio e em junho. Tal aumento vai afetar o preço do diesel nas bombas. As distribuidoras de combustíveis alegam que o impacto será de R$ 0,15 por litro no período e alertam, ainda, que poderá faltar biodiesel para os últimos 15 dias de junho. A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) sustenta que a alta ficará entre R$ 0,02 e R$ 0,03 por litro e reconhece que será necessário novo certame para suprir nove dias de junho.
Os leilões de biodiesel são realizados para que o produto seja misturado ao diesel na proporção de 12% como determina a regra da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o objetivo de reduzir a poluição provocada pela queima de derivados de petróleo. Em março do ano que vem, a proporção sobe para 13%. Os certames são realizados para suprimento dos dois meses seguintes, com entrega marcada para o período.
No entanto, em abril, quando foi realizado o leilão para maio e junho, as distribuidoras temiam que a queda na demanda por diesel fosse maior do que realmente acabou sendo. Atualmente, a demanda está em 98% do normal antes da pandemia. O combustível usado em caminhões de carga não sofreu o mesmo impacto que a gasolina, usada em carros de passeio, cuja demanda despencou quase à metade.
Quando houve essa discussão sobre a demanda menor por diesel, a ANP reduziu a obrigação mínima de retirada de 95% por parte das distribuidoras e de entrega mínima de 90% por parte dos produtores. Houve um acordo e foi estabelecido 80%. Como a demanda do diesel não teve a retração estimada, pode faltar biodiesel para misturar nos últimos dias de junho.
O que incomoda as distribuidoras é o alto preço praticado pelos produtores no certame que terminou hoje. Para o setor, as usinas retiveram o produto que não foi comprado, por conta da redução do índice de obrigatoriedade, e jogaram no leilão com valores que variaram de R$ 2,50 na primeira oferta até quase R$ 4 no terceiro lote. Isso, segundo as distribuidoras, pode impactar em R$ 0,15 a mais por litro, considerando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o combustível.
O diretor superintendente da Aprobio, Júlio Minelli, explicou que os produtores calcularam a redução na demanda de forma mais precisa do que as distribuidoras. “Elas queriam que caísse para 50% a retirada. Os produtores refutaram. Era uma realidade para o etanol na gasolina, mas para o diesel, não. Com intermediação da ANP, chegamos a 80% de obrigação de compra e de entrega. Agora, as distribuidoras estão verificando que compraram uma quantidade menor do que a que estão precisando para junho”, disse.
Isso fez com que as indústrias de biocombustível não se preparassem em termos de quantidade de insumos, ressaltou Minelli. “Além disso, tivemos, nesse período, variações do dólar e do custo de matéria prima. Entregar mais produto aos preços que foram negociados há dois meses seria prejuízo para os produtores. Lembrando que o leilão foi feito no meio de abril. Se as distribuidoras tivessem seguido a nossa indicação, teriam comprado certo”, assinalou.
Saiba Mais
O superintendente da Aprobio alertou, ainda, que os preços praticados no leilão que terminou hoje, que as distribuidoras argumentam terem sido muito altos, ficaram abaixo do preço de referência utilizado pela ANP, que calcula custos com matéria prima e com logística. “Ficaram maiores do que o leilão passado, mas, praticamente, R$ 900 abaixo da referência. A participação do biodiesel é muito pequena do preço final diesel. Há justificativa para subir, no máximo, R$ 0,02 a R$ 0,03 na bomba. As variações do dólar ou do barril de petróleo no mercado internacional têm impacto muito maior, porque impactam em 88%”, defendeu.