A combinação das crises econômica, política e sanitária gera um quadro paralisante, de acordo com Fraga. Ele cita que, com a chegada da pandemia e suas consequências no emprego, uma saída deve ser pensada de forma coordenada, como resposta a todas as frentes, como tem sido feito no mundo todo.
Segundo ele, porém, o Brasil é um ponto fora da curva. "O que nós temos é diferente: são várias semanas seguidas de crescimento no número de casos sem, ainda, um sinal claro de reversão, mas já com muita pressão para reabrir a economia".
De acordo com ele, o governo também deve ficar atento com sua capacidade de aumentar os gastos em decorrência da pandemia. "O governo não pode se acomodar achando que o Brasil é um Japão ou os Estados Unidos, que podem sair gastando sem grandes consequências", argumenta o economista, que acrescenta: "De meia-sola em meia-sola o buraco vai aumentando e, agora, nós estamos batendo na porta de uma dívida de 100% do PIB e uma máquina do crescimento absolutamente avariada."
Fraga também não esconde seu receio do risco de solvência da dívida, que começaria, diz, com o encurtamento dos prazos dos títulos e, portanto, do prazo médio da dívida. Se nesse intervalo o governo não fizer um ajuste fiscal permanente, a dívida vira uma quase moeda, com prazos muito curtos de vencimento e em valor superior às reservas cambiais, o que provocaria uma fuga para outros ativos e moedas, explica o ex-presidente do BC. Este cenário, segundo Fraga, deixaria apenas duas opções "intragáveis": uma inflação muito alta ou um default, ou seja, um calote nos detentores dos papéis.