Economia

Novas medidas para crédito chegar de fato

Presidente do BC rebateu críticas de que emprestar dinheiro a quem precisa, neste momento de pandemia, ficou complicado. Segundo ele, há mais dispositivos para facilitar o acesso aos recursos

Após várias críticas de que o dinheiro está fora do alcance dos negócios mais impactados pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou, ontem, que a instituição vai lançar novas medidas, em breve, para dar mais direcionamento ao crédito. “Está difícil chegar às pequenas (empresas)”, admitiu, em live promovida pelo BTG Pactual. Ele também destacou que a instituição estava preparada para fazer intervenção maior no mercado de câmbio, mas não foi necessário porque a moeda se acomodou antes disso. Depois de bater em R$ 5,95, o dólar fechou em R$ 5,38. “(O câmbio) ainda será uma variável que seguirá volátil, por isso vamos continuar com as atuações que estamos realizando até agora”, afirmou.

Campos Neto ressaltou que as medidas adotadas pelo BC para o enfrentamento da crise econômica que veio com a pandemia colocou à disposição do mercado R$ 1,3 trilhão, dos quais só foram usados R$ 260 bilhões. “Adotamos três objetivos: dar liquidez ao sistema, garantir o direcionamento para onde houvesse dreno mais relevantes e garantir a estabilidade do mercado”, afirmou.

Segundo ele, não está havendo saída muito grande dos Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). Dos R$ 200 bilhões, só foram consumidos R$ 3,9 bilhões. “O programa vai sofrer ajustes, que serão anunciados na semana que vem, porque o desembolso foi baixo. Talvez porque tinha relação com outro programa que financiava o seguro-desemprego. Ou pelo fato de não poder demitir ninguém e as empresas acharam muito restritivo”, avaliou.

Para tranquilizar o mercado, Campos Neto garantiu que existem muitas armas para manter a estabilidade. “Vamos ajustar os programas que já foram lançados para ter maior alcance. Mas é preciso dizer que, em muitos países, o crédito está caindo e, no Brasil, há expansão do crédito”, afirmou.

Empoçamento
O presidente da autoridade monetária ressaltou que é “mito” que os bancos estão empoçando a liquidez. “Conseguimos mapear tudo que é feito em termos de liquidez, em que está sendo alocada. Novas concessões, na parte de empresas, de 16 do março a 15 do maio, foram R$ 541 bilhões em operações. Em novas contratações, R$ 441 bilhões e, em repactuação adicional, R$ 535 bilhões. Não é verdade que bancos não estão fazendo repasses”, destacou.

Como justificativa, o presidente do BC alertou que a demanda por crédito, sobretudo do setor de pequenas empresas, cresceu 300% e que a oferta não consegue acompanhar na mesma velocidade. “Vai ter sempre o sentimento de que não é atendido”, explicou.

Sobre juros, ele repetiu o que vem dizendo em outras lives, de que há uma discussão sobre manutenção em patamares baixos. “Será que a gente deveria cortar mais e deixar a porta aberta indefinidamente?”, indagou. “Em algum momento, isso pode ser contraproducente”, acrescentou. A ideia, portanto, é suavizar o ciclo de corte de juros.

 

Estatísticas confirmam dificuldade

O impacto da pandemia do novo coronavírus na economia provocou aumento na inadimplência em abril e queda nas compras à vista com cartão de crédito e na aquisição de veículos, com redução nas taxas de juros. Segundo a nota de estatísticas monetárias, divulgada ontem pelo Banco Central (BC), a concessão de crédito caiu 16,5% em abril, com recuo de 21,1% para pessoas jurídicas e redução de 13,2% para pessoas físicas, o que reforça a dificuldade de acesso a empréstimos justamente no pior momento da crise.
De acordo com Fernando Rocha, chefe de Estatística do BC, a nova conjuntura começou a ter efeito em março. “Em abril, há impacto cheio sobre as estatísticas de crédito”, explicou. A inadimplência vem subindo desde fevereiro, quando estava em 3,6%, para 3,9% em março e 4% em abril. “Estamos num momento de crise. Em relação às pessoas físicas, isso, em geral, representa menos renda, ou por perda de emprego ou redução de jornada e salário, como a gente está vendo agora. Embora eu não possa ser preciso sobre quanto mais vai subir, a perspectiva é de vai aumentar”, alertou.

Cartão

Outro efeito da crise é apontado pela redução nas compras à vista com cartão de crédito. O saldo recuou 13,9%, ou R$ 27 bilhões, em abril, e as concessões, que são relativas aos gastos efetivamente feitos a cada mês, recuaram 23,5%. “Isso está correlacionado com a redução nas compras dos consumidores e tem a maior contribuição para queda no saldo das pessoas físicas no mês”, explicou Rocha. Houve redução de 0,9% no saldo de pessoas físicas (R$ 2 trilhões). Para pessoas jurídicas, houve expansão de 1,2% na carteira (R$ 1,6 trilhão).

Como o rotativo é aquele saldo da compra feita e não paga, quando há redução nas compras à vista, o reflexo é haver menos valores não pagos para alimentar o rotativo. Isso impactou na queda das taxas de juros. Os juros continuam assustadores: no rotativo regular, as taxas caíram para 269% ao ano em abril –– estavam em 290,1% a.a., em janeiro, 292,4% a.a., em fevereiro, e em 297,9% a.a. em março. No total, considerando regular e não regular, os juros caíram de 327,1% ao ano em março para 313,4% em abril.

No cheque especial, após a regulamentação do BC que limitou juros em 150% a. a. e 8% ao mês, a taxa média vem caindo: passou de 150% a.a. em fevereiro para 130% a.a., em março, e em abril caiu para 119% ao ano, ou 6,8% ao mês.
A crise também postergou compras de bens duráveis. “Houve redução do saldo e das concessões de crédito para aquisição de carros, que caíram 50% em abril. Isso está em linha com tudo o que temos visto no setor automobilístico e no comportamento das pessoas”, afirmou. (SK)