Economia

Doadores de campanha e empresários receberam auxílio emergencial

Cerca de 160 mil suspeitas de fraudes estão em análise pelo governo federal, que já admitiu o pagamento do auxílio emergencial para 73 mil militares

Doadores de campanha, sócios de empresas, presidiários e brasileiros que moram no exterior podem ter recebido o auxílio emergencial de R$ 600 de forma irregular. A suspeita de fraude foi admitida nesta nesta terça-feira (26/05) pela Controladoria-Geral da União (CGU), que também já havia identificado o pagamento do benefício para mais de 73 mil militares e, por isso, deu início a um novo pente-fino na base de dados do auxílio emergencial.

Ministro da CGU, Wagner Rosário revelou que, além da questão dos militares, mais de 160 mil pagamentos suspeitos já foram detectados pelo governo. E ele admitiu, em coletiva de imprensa realizada no Palácio do Planalto, que esse número ainda pode crescer. Afinal, o governo ainda está fazendo a nova triagem dos mais de 59 milhões de cadastros que foram aprovados para receber os R$ 600. 

Saiba Mais

"Estamos fazendo várias trilhas de verificação. Estamos verificando, por exemplo, sócios de empresas que possuem empregados cadastrados e estão recebendo o auxílio. São 74 mil pessoas nessa situação. Proprietários de veículos acima de R$ 60 mil e que recebem o benefício de R$ 600. Doadores de campanha nas últimas campanhas, que doaram mais de R$ 10 mil como pessoa física e estão recebendo. Só nessa situação, temos 86 mil pessoas. Proprietários de embarcações. Pessoas com domicílio fiscal no exterior e que estão cadastradas para receber o benefício", revelou Rosário, ressaltando, porém, que esse trabalho se refere a apenas duas das diversas trilhas de informação do auxílio emergencial. 

"Estamos agora, por exemplo, identificando pessoas que estão solicitando esses benefícios dentro de um mesmo IP ou um mesmo celular, para tentar identificar fraudes. O trabalho está acontecendo em conjunto com o Ministério da Cidadania e vem cortando esses benefícios para evitar a saída de recursos", contou Rosário. Na semana passada, por exemplo, a CGU cancelou o pagamento das próximas parcelas dos R$ 600 para 106 pessoas que fraudaram o benefício em Goiás. A maior parte dessas pessoas chegaram até a ser presas, em uma operação conjunta da CGU com a Polícia Civil de Goiás.

O ministro não informou quanto pode ter sido liberado de forma irregular através desses 160 mil pagamentos que estão sendo investigados.  Antes disso, contudo, o governo já havia dito que só os 73 mil militares que receberam o auxílio emergencial em abril ficaram com cerca de R$ 43 milhões do programa. Wagner Rosário prometeu, então, apresentar o balanço geral de todas as possíveis irregularidades que foram detectadas dentro do programa dos R$ 600 assim que a CGU concluir a checagem da base de dados do auxílio emergencial.

Segundo a Caixa Econômica Federal, mais de R$ 70 bilhões já foram pagos a 56,6 milhões de pessoas por meio do auxílio emergencial. E o número de beneficiários do programa ainda vai crescer. Por isso, hoje mesmo o governo federal liberou mais R$ 28,7 bilhões para o programa. O crédito extraordinário foi liberado através da Medida Provisória (MP) 970 e vai levar o orçamento total do auxílio emergencial para R$ 152,62 bilhões. E esse orçamento ainda deve crescer, já que o governo estuda conceder mais uma ou duas parcelas do auxílio emergencial, mesmo que com um valor menor que os R$ 600, para os brasileiros que ficaram sem renda durante a pandemia da covid-19.

Para garantir que esse recurso será bem aplicado, a CGU ainda prometeu, portanto, liberar em breve toda a base cadastral dos brasileiros que foram analisados pelo programa do auxílio emergencial. "Em 12 a 15 dias, vamos colocar em transparência toda a base de recebimento do auxílio emergencial, com todas as pessoas que estão recebendo, para que o cidadão possa ele mesmo fiscalizar essas cerca de 153 milhões de pessoas que estão cadastradas para o recebimento do auxílio emergencial", antecipou Rosário.

Segundo a Caixa Econômica Federal (CEF), mais de 100 milhões de CPFs já foram avaliados pelo programa. Desses, 59 milhões foram considerados aptos ao auxílio emergencial e estão recebendo os R$ 600, sendo 19,2 milhões do Bolsa Família, 10,5 milhões do CadÚnico e 29,3 milhões do aplicativo e do site do benefício. Outros 37,3 milhões foram negados, sendo 700 mil do Bolsa Família, 21,6 milhões do CadÚnico e 15 milhões do aplicativo, porque, segundo o governo, não se encaixavam nos critérios de concessão do auxílio emergencial, como os critérios de renda, vínculo empregatício e composição familiar do benefício. Os demais 9,7 milhões seguem em análise e ainda é possível pedir essa ajuda, pelo aplicativo ou pelo site do auxílio emergencial, até 2 de julho.