Segundo a CBIC, as vendas e os lançamentos da construção civil estavam em alta desde 2018, quando o setor enfim conseguiu deixar para trás os efeitos da crise de 2015. No último trimestre de 2019, por exemplo, o mercado imobiliário brasileiro teve o melhor período da história. Com a pandemia do novo coronavírus, contudo, essa curva inverteu-se novamente.
Dados da CBIC mostram que as vendas imobiliárias ainda cresceram 26,7% entre janeiro e março deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os lançamentos, contudo, já caíram 14,8% no período, com os empresários preocupados com os efeitos da covid-19 no bolso do consumidor brasileiro. E as expectativas futuras são ainda mais negativas.
Para o mês de abril, o setor projeta um tombo de 38,8% nas vendas - queda que pode fazer a construção civil brasileiras vender apenas 6,5 mil unidades no mês, o menor acumulado mensal dos últimos 12 meses. Por isso, a CBIC também estima uma redução de 63% nos lançamentos imobiliários já em abril. Ou seja, o lançamento de apenas 3,2 mil unidades imobiliárias no mês. E alerta: o número de construtoras que vão cancelar ou postergar lançamentos nos próximos meses é ainda maior: 79%.
A maior parte dessas empresas (33%) ainda admite que não há um novo prazo para os lançamentos que deixarão de ser feitos agora em virtude da pandemia. Outros 28%, contudo, esperam que a postergação seja por 120 dias e 16% por 60 dias. Ainda há 2% que optaram pelo cancelamento do lançamento e 7% que estão avaliando a situação. "Menos de 15% das empresas pretendem lançar normalmente. Estamos empurrando esses investimentos para frente. E, quando adiamos isso, também adiamos o ingresso de investimentos", comentou o sócio da Brain Inteligência Corporativa, Fábio Tadeu Araújo, que fez essa pesquisa junto com a CBIC.
A estimativa de que os lançamentos imobiliários vão cair 79% por conta da pandemia do novo coronavírus, porém, se explica pela intenção de compra do consumidor brasileiro. Ainda de acordo com a CBIC, 45% dos brasileiros que pretendiam comprar um imóvel no início deste ano desistiram desse plano já em março, quando a pandemia ainda estava começando no Brasil. E esse número subiu para 53% em abril, devido ao aumento das incertezas sobre o rumo da economia brasileira no pós-pandemia. "A palavra de ordem é incerteza. A incerteza sobre quanto tempo vai durar a pandemia foi o motivo de 46% das desistências. Mais 24% foram por conta da incerteza sobre o próprio emprego e 20% de quem já perder renda de alguma maneira", comentou Araújo.
"Nós estávamos em franca decolagem. Seguíamos o mesmo caminho trilhado desde 2018. No primeiro trimestre de 2020, relacionado a 2019, tivemos um acréscimo de mais de 26% nas vendas. É extremamente significativo em um mercado que vinha crescendo bastante, em que a base subia período a período. Mas aí veio a pandemia. [...] 79% das construtoras decidiram não lançar ou protelaram a decisão de lançamento. É muita coisa", comentou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, lembrando que esse baque nos lançamentos tende a gerar um efeito negativo no mercado de trabalho da construção civil.
Muitos empregados da construção civil, por sinal, já sentem os efeitos da desaceleração das vendas e dos lançamentos imobiliários na própria renda. A CBIC explica que, em abril, 54% das empresas da construção civil brasileira já haviam aderido às medidas de flexibilização trabalhista que foram anunciadas pelo governo com o intuito de evitar a alta do desemprego na pandemia. Ou seja, já haviam anunciado férias coletivas ou feito acordos trabalhistas de suspensão do contrato de trabalho ou de redução da jornada de trabalho e do salário dos seus empregados.
Preço
O vice-presidente da área de Indústria Imobiliária da CBIC, Celso Petrucci, reconhece que a construção civil entrou em "outro mundo" com a pandemia da covid-19. Ele afirma, contudo, que a redução das vendas e dos lançamentos imobiliários não deve reduzir o preço dos imóveis. "O preço do imóvel continua crescendo. Não está na nossa expectativa, mesmo agora na pandemia que haja uma redução no preço dos imóveis. Essa expectativa inexiste, porque não existe condição de que nossa moeda e nossa matéria prima tenham redução de preço", alegou Petrucci.
O presidente da CBIC disse, por sua vez, que espera uma redução das taxas do financiamento imobiliário em breve, o que poderia compensar essa alta de preços. "Temos notícias de que serão baixados os juros do mercado imobiliário. Achamos que brevemente, até pelas condições, a taxa Selic no patamar que está não justifica o custo de financiamento, principalmente pelo FGTS, na taxa que está", antecipou José Carlos Martins.
Retomada
José Carlos Martins ainda se disse confiante com a capacidade de recuperação do setor da construção civil. É o mesmo sentimento dos demais executivos da CBIC. Eles argumentam que a crise econômica vai requerer novos investimentos em infraestrutura no pós-pandemia e dizem que a construção civil é um setor mais resiliente que outros segmento, já que a pessoa pode abrir mão de bens como um carro, mas não da própria casa.
"Temos 1,1 milhão de casamentos, 350 mil divórcios e 2 milhões de nascimentos por ano no Brasil. Não dá para deixar de morar. Temos um nível de demanda por imóveis inerente ao próprio dinamismo demográfico", afirmou Araújo. E Martins acrescentou que esse tempo de isolamento social fez muitos brasileiros passarem a valorizar mais o próprio lar. "A pandemia evidenciou a necessidade do imóvel. Afinal, todos vivem dentro da sua casa. O imóvel é um bem para uso da família", afirmou o presidente da CBIC.