A porcentagem de brasileiros endividados ou com contas vencidas do mês de abril se manteve no mesmo patamar do mês anterior, após dois meses consecutivos de aumento. Cerca de 25,3% dos brasileiros estavam nessa situação na metade do mês passado, segundo dados da pesquisa da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e turismo (CNC). Em plena pandemia, o número é maior que o do mesmo período de 2019, quando ficou em 23,9%. Os três maiores endividamentos são o cartão de crédito (77,6%), carnês (17,5%) e financiamento de veículos (10,2%).
Karoline Leão, de 23 anos, mora em Taguatinga. Ela conseguiu renegociar e pagar as dívidas com o banco após cerca de dois anos e, mesmo na pandemia, pretende quitar as demais. “As contas que consegui pagar foram através de negociação pelo aplicativo do Serasa, pois tinha ofertas. Algumas (dívidas) continuam altas, mas pretendo negociar. Até agora, recebi uma proposta boa, e mês que vem pretendo quitar. Pretendo encaixar as dívidas no orçamento e limpar meu nome”, conta.
A assistente administrativa Karla Cunha, 31 anos, moradora do Riacho Fundo II, sofre com a fatura do cartão de crédito. Ela gastou além do limite e preferiu deixar para pagar depois. “Estourei o cartão em fevereiro e, então, preferi não pagar para poder negociar mais para frente e também para não comprometer outras dívidas”, explicou. Com o atraso desde fevereiro, ela conta que a empresa liga oferecendo descontos para quitar o débito. “Como eu já havia previsto, a empresa liga direto para negociar, e estou negociando. Já me ligaram oferecendo opção sem juros se for pagar à vista, mas não dá para mim”, acrescentou. Para Karla, “às vezes, é melhor deixar uma dívida vencer, com responsabilidade, do que comprometer outras. Com isso, ganha-se um fôlego para se organizar.”
A assessora Maria Ciriaco, 24 anos, moradora de Taguatinga, está sem salário devido à pandemia. O marido também está sem renda. Com isso, eles tiveram que deixar de pagar o aluguel até a volta ao trabalho. “Por conta da quarentena, o trabalho, meu e do meu esposo, fechou. Então, estamos sem salário. O aluguel venceu dia 10 do mês passado e tentamos negociar com a imobiliária. Agora, neste mês, serão dois meses atrasados, e eles não mandaram respostas. No sistema está o valor dos juros com atraso”, relata.
Outra dívida do casal é a do cartão de crédito. A fatura está atrasada há dois meses, sendo que a última veio com um valor maior. “Não entramos em contato ainda. A última fatura está com o dobro do valor, e, se a gente não voltar para o trabalho, com certeza, as dívidas vão aumentar. Isso porque as cobranças vão continuar chegando e não teremos isenção por causa da pandemia”, conclui a assessora.
Renegociação
Professor da UnB e membro do Conselho Regional de Economia (Corecon) do DF, o economista Newton Marques explica que o crédito consignado é uma das dívidas mais comuns por ser mais barato e limitado a prestação. “Quando algumas pessoas chegam ao máximo, começam a fazer outros endividamentos. Tem casos de pessoas que vão procurar se endividar, porque querem o dinheiro e não querem saber o preço. Com isso, querem um prazo maior, não importando a taxa de juros. O Banco Central estipula um teto de endividamento e, então, as pessoas acabam procurando outros tipos de dívida”.
Em tempos de crise financeira, diz o professor, optar pela renegociação é importante, pois se trata de uma ferramenta para que as pessoas possam honrar com seus compromissos. Ele alerta que é importante procurar a pessoa física ou jurídica para quem se deve ou prestadores de serviço que não poderão ser pagos normalmente. “A pessoa vai ter que ir diretamente naqueles com quem possui os maiores compromissos. Tudo vai depender do apetite que tem quem está do outro lado. Se ele não quiser negociar, não vai receber. A pessoa tem que ameaçar, dizer que não conseguirá pagar caso não haja uma renegociação. É chegar e dizer: você quer renegociar ou quer que eu não pague? Se está devendo prestação do carro é preciso ver condições de renegociar. Ninguém vai tomar o carro do cidadão. A renegociação é um poder de pressão. É uma tendência nesse tempo que vivemos”, orienta Newton.
O economista explica, ainda, que aqueles com problemas financeiros precisam estar atentos e sempre bem informados sobre oportunidades que ajudem a honrar os compromissos. “O governo tem oferecido linhas de crédito com boas condições. É preciso ligar para o gerente ou ir ao site conferir. As pessoas têm que sair da zona de conforto, ir atrás e saber sobre questões que tenham a ver com seu bolso”, aconselha.
Como se livrar das dívidas
» Liste todas as suas dívidas, independentemente do tipo. Anote faturas vencidas, boletos, cheque especial, financiamentos; e saiba quais são suas maiores dívidas;
» Liste seu orçamento mensal, contemplando tudo o que entra e sai. É importante saber quanto do dinheiro é utilizado para necessidade e os gastos que podem ser repensados;
» Procure uma renda extra, como bico ou trabalhos freelance. Também vale vender produtos de fabricação própria ou de terceiros. O objetivo é incrementar a renda mensal para conseguir arrecadar mais;
» Venda aquilo que não precisar. Muitas pessoas possuem o hábito de comprar objetos ou roupas que não utilizam com frequência ou que, simplesmente, não precisam. Em vez de deixá-los guardados, podem ser vendidos, gerando uma renda a mais para pagar as contas;
» Pague as dívidas mais altas. Dê prioridade às que possuem maior taxa de juros e às que podem causar interrupção de serviços importantes, como contas de água e energia;
» Pesquise condições melhores em outros bancos. É possível encontrar juros mais baixos e condições melhores de pagamento, que serão oferecidos de acordo com a situação do endividado;
» Esteja atento para oportunidades extraordinárias de renegociação. É comum ver feirões de renegociação de dívidas e empresas de crédito que promovem um contato direto entre o devedor e as empresas. Vale a pena procurar.
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro